Instituto Butantan

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Biblioteca do Instituto Butantan

O Instituto Butantan é um centro de pesquisa biomédica localizado no bairro do Butantã, na cidade de São Paulo. É uma instituição pública estadual, subordinada à Secretaria de Estado da Saúde do governo paulista.

Fundado em 23 de fevereiro de 1901, é responsável pela produção de grande parte de soros e vacinas consumidos no Brasil. É também um importante ponto turístico, contando com um parque e quatro museus (Museu Biológico do Instituto Butantan, Histórico, de Microbiologia e o Museu de Saúde Pública Emílio Ribas, depositário de um dos mais importantes acervos documentais da saúde do Brasil, localizado na Rua Tenente Pena, nº 100, no bairro do Bom Retiro), além disso, o Butantan conta com o Hospital Vital Brazil, referência no atendimento de acidentes com animais peçonhentos, uma biblioteca, um serpentário, unidades de produção de soros, vacinas e biofármacos.

História[editar | editar código-fonte]

Museu de rua do Instituto Butantan

O Instituto Butantan surgiu em 1898[1] . Um surto de peste bubônica que se propagava no porto de Santos em 1899, levou o governo a adquirir a Fazenda Butantan para instalar um laboratório de produção de soro antipestoso, vinculado ao Instituto Bacteriológico (atual Instituto Adolfo Lutz). Esse laboratório foi reconhecido como instituição autônoma em fevereiro de 1901, sob a denominação de Instituto Serumtherápico, sendo designado para primeiro diretor, Vital Brazil Mineiro da Campanha, médico voltado para problemas de saúde pública. O nome Butantan, segundo etimologistas, é originário do tupi e quer dizer "terra dura dura", formando o superlativo a partir da duplicação do adjetivo. A comunidade dos funcionários mantém a tradição do nome, grafando-o com o "n" final, mesmo destoando do bairro, originado no entorno do instituto, que, seguindo decreto do governo municipal de São Paulo, é grafado com til (Butantã). Por outro lado, o nome do seu fundador é grafado com "z", como era escrito o nome do país na época (Vital Brazil).

A história do Instituto Butantan confunde-se com a história da modernização do Estado de São Paulo. Seu surgimento deveu-se a uma epidemia de peste bubônica no Porto de Santos[1] . Temerário que a doença atingisse a capital do Estado, o governo convocou o Instituto Bacteriológico para tentar resolver o problema.

A fazenda Butantan foi desapropriada pelo Presidente de São Paulo Coronel Fernando Prestes de Albuquerque que iniciou as obras do Instituto.

Seu diretor, Adolfo Lutz, mandou para essa cidade o assistente Vital Brazil. Em pouco tempo ele diagnosticou a doença e, em conjunto com o médico Osvaldo Cruz, criou um plano para controlá-la. De volta à capital, Vital Brazil foi encarregado de um serviço contra a peste no Instituto Bacteriológico. No ano seguinte esse serviço transformou-se em instituição autônoma, então denominada "Instituto Serumtherapico do Estado de São Paulo", que, posteriormente, transformou-se no atual Instituto Butantan, que ajudou a debelar a peste.

Serpentário do Instituto Butantan

Entretanto, devido principalmente à expansão da cafeicultura, os trabalhadores rurais (na maior parte imigrantes) viam-se frequentemente submetidos a acidentes ofídicos. As serpentes venenosas transformavam-se em um grande problema que, juntamente com a peste bubônica, atentava contra o desenvolvimento paulista.

Vital Brazil, a par de toda essa problemática, concomitantemente aos estudos sobre a peste, iniciou as suas pesquisas sobre o ofidismo, tema então pouquíssimo conhecido. O extenso trabalho que desenvolveu pesquisando esse assunto fez com que o Butantan rapidamente se especializasse no conhecimento herpetológico, bem como na produção de soros anti-ofídicos, tornando-se uma entidade ímpar em todo o mundo. Vital Brasil, inclusive, tem a primazia na demonstração da especificidade dos soros antiofídicos. Um soro específico para uma serpente venenosa europeia, por exemplo uma víbora (Vipera), é ineficiente para uma jararaca (Bothrops) sul-americana. Em viagens que fez, principalmente para os Estados Unidos, demonstrando a eficácia do soro antiofídico, a fama de Vital Brazil correu mundo. Durante vários anos, entretanto, o Instituto Butantan funcionou em toscas dependências, contando com um corpo de funcionários bastante exíguo. Mesmo assim, de seus laboratórios brotaram importantes pesquisas no campo da herpetologia, microbiologia e imunologia, reconhecidas internacionalmente. A partir de 1914, com a construção da nova sede e a paulatina ampliação de seu orçamento, o Butantan começou a se consolidar como a mais importante instituição de pesquisa biomédica do Estado de São Paulo, e uma das maiores do Brasil.

Recentemente, o instituto tem sido auxiliar no combate à gripe H1N1, pois é o órgão publico responsável pela produção da vacina a partir de amostras fornecidas pelo laboratório francês Sanofi Pasteur.[1]

Irregularidades[editar | editar código-fonte]

Em setembro de 2009, o Instituto Butantan foi alvo de investigação pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, após denúncias do Conselho de Controle de Atividades Financeiras indicarem que funcionários do instituto teriam desviado, desde 2007, ao menos 30 milhões de reais de verbas repassadas pelo Ministério da Saúde para a produção de soros e vacinas. Segundo a promotoria, havia indícios de que os responsáveis pela fundação teriam se beneficiado do esquema.[2]

Mais tarde, constatou-se que o dinheiro teria sido desviado ao longo de cinco anos por funcionários do segundo escalão da fundação. O resultado da investigação foi a demissão de sete pessoas.[3] O presidente da Fundação Butantan, Isaías Raw, se afastou do cargo e foi substituído interinamente por Erney Plessman de Camargo.[4] Segundo apuração da promotoria, Raw desconhecia o desvio nem se beneficiou dele.[3]

Incêndio[editar | editar código-fonte]

Em 15 de maio de 2010, um incêndio atingiu o Prédio das Coleções[5] às 7h30, tendo sido controlado por volta das 19h30.[6] Havia indícios de que o incêndio teria destruído mais de 70 mil espécimes de serpentes, além de mais de 450 mil espécimes de artrópodes, entre escorpiões, opiliões, miriápodes e aranhas que estavam conservadas em solução de álcool 70% ou a seco. A coleção, referência para descrição de espécies e utilizada para pesquisas científicas, era a maior do Brasil[7] e a maior coleção do mundo desses animais para uma região tropical[1] . O material coletado em mais de 100 anos foi perdido,[8] [9] mas, após a perícia e análise dos cientistas, acredita-se que 5% do acervo poderá ser recuperada.[10] [11]

Quando ocorreu o incêndio, outras fontes apontaram cerca 85 mil espécimes de serpentes destruídas e o equivalente a 500 mil espécimes, sendo 450 mil de aracnídeos, das quais vários milhares ainda não tinham sido descritas pelos cientistas.[1] Em relação à Coleção de serpentes, que contava com 77 mil espécimes de cobras, considerada a maior coleção do mundo[9] , 7 mil ainda aguardavam catalogação.[12] A parte do prédio que foi mais destruída pelo incêndio não contava com animais vivos.[13]

O especialista em répteis e anfíbios (herpetólogo) do Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), Miguel Trefaut Rodrigues, relatou que o incêndio foi um desastre de proporções incalculáveis e cujos danos indicam a perda de um patrimônio insubstituível da história biológica brasileira.[1] Alguns exemplares representavam a primeira identificação feita na natureza[9] e viabilizavam o estudo de filogenia.[14]

O prédio mais atingido pelas chamas, construído no final da década de 1970 e reformado há 10 anos, não tinha um sistema de proteção contra incêndios. Um projeto de 700 mil reais havia sido enviado à FAPESP pelo curador Francisco Luis Franco para a instalação de um sistema anti-incêndio.[9] A FAPESP, entretanto, aponta que já teria destinado quase R$ 1 milhão, entre 2007 e 2008, para o Butantan reforçar sua infra-estrutura, mas que nenhuma parte desses recursos teria sido utilizada para prevenção de incêndios.[10] O diretor-geral do Instituto Butantan na época, Otávio Mercadante, disse, ao jornal Folha de S. Paulo, que não faltou dinheiro e que o prédio atingido era seguro, pois recebia manutenção periódica.[10]

Notas e referências

  1. a b c d e f Escobar, Herton. (15 de maio de 2010). Incêndio destrói mais de 500 mil amostras do Instituto Butantan. O Estado de S.Paulo, acesso em 15 de maio de 2010
  2. Folha Online. Funcionários desviam R$ 30 milhões da Fundação Butantan, diz Promotoria. Visitado em 16/05/2010.
  3. a b Folha de S.Paulo. (17 de maio de 2010). Memória - Fundação sofreu desvio de R$ 35 mi
  4. Folha Online. Presidente da Fundação Butantan se afasta de cargo; Promotoria apura irregularidades. Visitado em 16/05/2010.
  5. Prefeitura da Cidade de São Paulo. (15 de maio de 2010). Butantan emite nota oficial sobre incêndio no Instituto, acesso em 15 de maio de 2010
  6. Dantas, Tiago. (17 de maio de 2010). Digitalização de acervo do Butantã pode ter sido destruída em incêndio.O Estado de S.Paulo
  7. G1. Incêndio no Instituto Butantan destrói maior acervo de cobras do país. Visitado em 15/05/2010.
  8. Folha Online. (15 de maio de 2010). Incêndio pode ter destruído acervo de 70 mil espécies de répteis do Instituto Butantan, acesso em 15 de maio de 2010
  9. a b c d Escobar, Herton. (16 de maio de 2010). Incêndio destrói acervo de cobras do Butantã. O Estado de S.Paulo
  10. a b c Lopes, Reinaldo José; Mioto, Ricardo. (19 de maio de 2010). Butantan tinha R$ 1 mi para reformas. Folha de S.Paulo, Caderno Ciência
  11. Escobar, Herton. (23 de maio de 2010). Espécimes importantes escaparam das chamas em incêndio do Butantã. O Estado de S.Paulo
  12. Jornal Nacional. (15 de maio de 2010). Fogo destrói mais de 500 mil espécies de animais no Instituto Butantan, acesso em 15 de maio de 2010
  13. Saçashima, Edson. (15 de maio de 2010). Incêndio no Instituto Butantan destrói exemplares de até 100 anos. UOL Notícias, acesso em 15 de maio de 2010
  14. Folha Online. (15 de maio de 2010). Após incêndio, Instituto Butantan ficará fechado para visitação neste fim de semana. Acesso em 17 de maio de 2010

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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