Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti

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Small Flag of the United Nations ZP.svg Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti
Soldado brasileiro patrulha o acampamento Jean Marie Vincent em Porto Príncipe, Haiti
Tipo Missão de paz das Nações Unidas
Acrônimo MINUSTAH
Comando Brasil José Luiz Jaborandy Junior[1]
Status ativa
Fundação 1 de junho de 2004 (11 anos)
Sede Haiti Porto Príncipe
Website Missão de paz da ONU: MINUSTAH, www.minustah.org
Commons Commons:Category:MINUSTAH MINUSTAH

A Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti ou MINUSTAH (sigla derivada do francês: Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti), é uma missão de paz criada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas em 30 de abril de 2004, por meio da resolução 1542,[2] para restaurar a ordem no Haiti, após um período de insurgência e a deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide

Os objetivos da missão:[editar | editar código-fonte]

  1. Estabilizar o país;
  2. Pacificar e desarmar grupos guerrilheiros e rebeldes;
  3. Promover eleições livres e informadas;
  4. Formar o desenvolvimento institucional e econômico do Haiti.[3]

A missão está no país desde junho de 2004 e era chefiada pelo diplomata tunisiano Hédi Annabi, que faleceu em 12 de janeiro, durante o terremoto de 2010. A sua morte foi confirmada no dia seguinte pelo presidente René Préval.[4]

Em outubro de 2010, o Conselho de Segurança da ONU decidiu ampliar o mandato da MINUSTAH até 15 de outubro de 2011 e reafirmou seu compromisso de ajudar na reconstrução do país, após o terremoto de janeiro de 2010.[5]

Histórico[editar | editar código-fonte]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Helicóptero Chileno para as eleições de 2006.

No ano de 2001, Jean-Bertrand Aristide venceu as eleições presidenciais, sendo que menos de 10% da população votou.[6] A oposição negava-se a aceitar o resultado, criando um impasse.[7] No ano de 2004, por meio de negociações mediadas pela comunidade internacional, em especial a OEA e o CARICOM, Aristide aceitou dissolver seu gabinete ministerial. No entanto, a oposição continuou insatisfeita, e a violência que surgiu no início do mês de fevereiro na cidade de Gonaïves se espalhou pelo país.[8]

As forças rebeldes começaram a ocupar todas as cidades importantes do país, quase sem nenhuma resistência.[9] França e Estados Unidos[10] culpavam Aristide pela onda de violência, enquanto os países do CARICOM pediam pela manutenção da democracia no país, na tentativa de impedir o surgimento de um soldado a justificar golpes contra governos democraticamente constituídos na região.

Com a renúncia de Aristide[11] e seu quase imediato exílio na República Centro-Africana,[12] o Conselho de Segurança das Nações Unidas cria a resolução 1592 de 2004, que solicita a criação de uma força internacional para assegurar a ordem e a paz no Haiti. No entanto, Aristide denuncia que fora sequestrado por fuzileiros norte-americanos, sendo então forçado a renunciar por um grupo de haitianos e civis norte-americanos com a anuência do governo brasileiro,[13] [14] informação negada pelos Estados Unidos.[15] Esta ação também teria tido o apoio do governo francês.

Após negociações, e por ter o maior contingente, o Brasil assumiu o cargo de coordenação da recém-formada Missão das Nações Unidas para a estabilização do Haiti.

O soldado Patrick de Oliveira Menelli, 19 anos, natural de Vitória, Espírito Santo, junto de um soldado chileno ,foram destaques em operação por ajudar a salvar duas crianças em casa que veio a demolir no ano de 2007.

Início das atividades[editar | editar código-fonte]

Soldado brasileiro com uma menina haitiana.

As forças de paz foram comandadas pelo General de Divisão brasileiro Augusto HelenoRibeiro Pereira.[16]

Em um gesto de demonstração de boa-vontade das tropas brasileiras com o povo haitiano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou a Seleção Brasileira de Futebol a participar de uma partida com a Seleção Haitiana de Futebol. Com o apoio da FIFA, o chamado Jogo da Paz foi realizado em 19 de agosto de 2004 na capital haitiana, Port-au-Prince. O time brasileiro ganhou de 6 a 0.[17] [18]

O Gen. Heleno Ribeiro foi substituído em 1º de setembro de 2005 pelo general Urano Teixeira da Matta Bacellar.[19] Em de 7 de janeiro de 2006, o General Bacellar foi encontrado morto em seu quarto de hotel.[20] [21] [22] Suspeita-se que tenha cometido suicídio. Com isto, o Exército Brasileiro enviou uma delegação para investigar a causa da morte.[23] Assume como comandante interino das forças de paz o general chileno Eduardo Aldunate Herman.[24]

No dia 9 de janeiro, os empresários e comerciantes de Port-au-Prince realizam uma greve-geral de um dia como protesto à violência no país, principalmente pela escalada de sequestros no mês de janeiro de 2006.

Em 11 de janeiro de 2006, o Instituto Médico Legal (IML) de Brasília divulga laudo do qual o general Bacellar cometera suicídio[25] [26] Em 12 de janeiro, as Nações Unidas declaram o mesmo,[27] corroborando a afirmação feita pelas autoridades brasileiras.

Porto Príncipe (Haiti) - O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, durante visita às tropas brasileiras que participam da missão de paz da ONU para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH). Foto: Marcello Casal Jr./ABr.

Em 18 de janeiro, o general brasileiro José Elito Carvalho Siqueira, foi escolhido como substituto do general Bacellar pelo secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan.[28]

No dia 11 de janeiro de 2007 o então general-de-brigada Carlos Alberto dos Santos Cruz assumiu o comando da MINUSTAH,[29] permanecendo até abril de 2009, quando foi substituído pelo General Floriano Peixoto Vieira Neto.[30]

A MINUSTAH dez anos depois[editar | editar código-fonte]

Dez anos depois do início da Missão, os haitianos têm demonstrando insatisfação diante da longa permanência de tropas da ONU no seu país. Por duas vezes - em setembro de 2011 e maio de 2013 - o senado haitiano aprovou, por unanimidade, resoluções exigindo o fim da Minustah. Entretanto, o Conselho de Segurança da ONU decidiu manter as tropas no Haiti até 2016. "Quando um país mantém tropas em outro, sem que este o queira, estamos diante de uma ocupação. Não existe outra maneira de chamar", declarou o senador haitiano Jean Charles Moise, durante visita ao Brasil, em maio de 2014. Na ocasião, Moise, que faz oposição ao governo de Michel Martelly, fez um pedido: "O que posso dizer aos brasileiros é que suas tropas não podem nos ajudar lá. Queremos a ajuda dos brasileiros, por isso pedimos que o Brasil substitua seus tanques de guerra por tratores agrícolas".[31]

A ocupação tem sido acusada de colaborar com a repressão e a corrupção[32] e a epidemia de cólera de 2010. Em 22 de dezembro, começou as primeiras manifestações populares exigindo a apuração de denúncias de compra de votos na eleições haitianas de 2010 reprimidas pela Minustah.[33] E 27 de dezembro de 2010, o general brasileiro chefe da Minustah, Ricardo Seitenfus foi demitido por críticas a ocupação na imprensa.[34] Em novembro de 2010, soldados nepaleses com cólera defecaram no Rio Artibonite , contribuindo para a disseminação da doença que tinha sido erradicada desde o século 19.[35] A ONU afirmou que não indenizaria as vítimas.[36]

Os haitianos também se queixam da ONU por sua recusa em indenizar as vítimas do surto de cólera que atingiu o país e que foi, comprovadamente, causado por tropas de capacetes azuis provenientes do Nepal.[31] Os soldados nepaleses reincidiram em crimes quando começaram a usar serviços de bordéis haitianos.[37] Em 2012 se realizou um estudo feito pela Universidade de Colúmbia em que 65% dos haitianos se manifestaram contra a ocupação.[38]

Comandantes militares da MINUSTAH[editar | editar código-fonte]

Países contribuintes[editar | editar código-fonte]

Abaixo uma lista com os países que contribuem para a formação da força multinacional das Nações Unidas para a estabilização no Haiti.

Efetivos militares[editar | editar código-fonte]

Argentina, Benim, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Croácia, Equador, Espanha, França, Guatemala, Índia, Jordânia, Marrocos, Nepal, Paraguai, Peru, Filipinas, Sri Lanka, Estados Unidos e Uruguai.[39]

Atualmente, as tropas argentinas estão sediadas na cidade nortista de Gonaïves,[40] uma das zonas de mais conflito no país. A presença militar chilena se concentra principalmente no porto de Cap Haitien,[41] [42] também ao norte do país. Tropas de outros países cometeram abusos.[43]

Força policial e civis[editar | editar código-fonte]

Argentina, Benin, Brasil, Burkina Faso, Camarões, Canadá, Chade, Chile, China, Colômbia, Egito, El Salvador, França, Granada, Guiné, Jordânia, Madagascar, Mali, Maurícia, Nepal, Níger, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Romênia, Federação Russa, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Espanha, Togo, Turquia, Estados Unidos, Uruguai, Vanuatu e Iêmen.[39]

Atualmente (2014) o Brasil conta com o maior efetivo de Polícia Militar já empregados no Haiti, com um total de dezenove policiais militares:[44]

  • 12 policiais militares da PMDF;
  • 02 policiais militares da PMPE;
  • 01 policial militar da PMAL;
  • 01 policial militar da PMSP;
  • 01 policial militar da PMERJ;
  • 01 policial militar da PMCE.

O Brasil hoje representa 2,1% do efetivo de policiais na MINUSTAH. Dos dezoito UNPOLs, dois são policiais femininos.

Baixas[editar | editar código-fonte]

Desde que a missão de paz começou, em junho de 2004, 38 integrantes morreram. O incidente mais recente ocorreu em 12 de janeiro de 2010, por ocasião do grande terremoto que abalou o país, quando morreram 18 militares do Exército Brasileiro, um policial militar e um civil, também integrante da MINUSTAH, o brasileiro Luís Carlos da Costa, que ocupava o cargo de vice-presidente especial do secretário-geral da ONU.

Um soldado brasileiro na Cité Soleil, Porto Príncipe, 2010.
Militares

Além dos 18 militares falecidos em consequência do terremoto de 2010,[45] também morreram durante a missão:

  1. General Bacellar, por suicídio;
  2. Cabo da Marinha do Brasil que não fazia parte do contingente da força de paz. Estava no navio brasileiro que levava mantimentos, equipamentos militares e soldados para o país caribenho. Morreu quando praticava exercícios físicos a bordo.
  3. No dia 2 de agosto de 2007, por volta das 19:45 (hora local - Haiti), no Ponto Forte Dourados, bairro de Boston - Porto Príncipe, o soldado Rodrigo da Rocha Klein, de 21 anos, natural de São Luiz Gonzaga (Rio Grande do Sul), originário do 4º Regimento de Cavalaria Blindado, onde servia desde 2004, sofreu um acidente no momento que se deslocava na laje do ponto forte. Tropeçou em um fio de alta tensão da rede pública e recebeu uma descarga elétrica, vindo a falecer no local.
  4. Tenente Coronel Gero Adriano Saldanha dos Santos, vítima de explosão de uma mina terrestre;
  5. No dia 1º de maio de 2008, faleceu o 3º Sgt FN Carlos Freires Barbosa, 36 anos, vítima de aneurisma cerebral.[46]
Policiais civis
  • Canadá: 1
Empregados civis locais
  • Total: 1

Outras missões da ONU no Haiti[editar | editar código-fonte]

Participação de militares femininas[editar | editar código-fonte]

Esta missão caracterizou-se por incorporar as primeiras mulheres brasileiras militares em uma Missão de Paz da ONU.

Com a chegada do 6º Contingente Brasileiro, Força Jauru, no final de 2006,[47] a presença feminina se fez presente em território haitiano, com as seguintes oficiais (três médicas e uma dentista):

  • Capitão-tenente (MD) Stella Beatriz Kruger - Marinha do Brasil
  • Primeiro-tenente (MD) Ana Beatriz - Exército Brasileiro
  • Primeiro-tenente (MD) Silvana - Exército Brasileiro
  • Primeiro-tenente (CD) Michelle - Exército Brasileiro

Referências

  1. Informex n.º 8, de 28 de fevereiro de 2014
  2. MINUSTAH tenta controlar situação no Haiti com 9.400 homens - Folha Online, acessado em 26 de fevereiro de 2007
  3. Primeiro projeto "Quick Impact Project" da MINUSTAH inaugurado em Porto Príncipe pela Brigada Haiti - Defesa.net
  4. U.N. mission chief in Haiti killed in quake Reuters (13 January 2010). Visitado em 13 January 2010.
  5. ONU amplia mandato de missão no Haiti por mais um ano Terra, 14 de outubro de 2010]
  6. Aristide vence eleições no Haiti BBCBrasil.com
  7. Oposição haitiana faz pressão pela renúncia de Aristide - BBCBrasil.com, acessado em 26 de fevereiro de 2007
  8. Rebeldes já controlam nove cidades no oeste do Haiti BBCBrasil.com
  9. Sem resistência, rebeldes desfilam pela capital do Haiti BBCBrasil.com
  10. EUA estão 'decepcionados' com Aristide, diz Powell BBCBrasil.com
  11. Aristide renunciou formalmente, afirma Paris UOL Últimas Notícias
  12. Aristide viaja para a República Centro-africana (alto funcionário) UOL Últimas Notícias
  13. "Estratégia brasileira para o Haiti passava por manter Aristide fora do país; leia", Wikileaks, Folha de S.Paulo, 12 February 2007. Página visitada em 6 de outubro 2005.
  14. Aristide diz que foi forçado a sair do Haiti pelos EUA BBCBrasil.com
  15. EUA dizem que é 'absurda' acusação de golpe no Haiti BBCBrasil.com
  16. Uma homenagem a quem aconteceu e fez acontecer A Continência
  17. Haitianos são goleados, mas fazem festa BBCBrasil.com
  18. 18/08/2004 - 18h34 Brasil não 'dá bola' para Lula e goleia Haiti por 6 a 0 UOL Esporte
  19. Um novo comandante para a MINUSTAH - Exército Brasileiro Acessado em 15 de fevereiro de 2007
  20. Brasileiro chefe militar de missão da ONU no Haiti é encontrado morto, mas causa não foi descoberta
  21. General brasileiro morre no Haiti Wikinotícias. Acessado em 15 de fevereiro de 2007
  22. Nota oficial do Exército
  23. Avião da FAB leva investigadores para o Haiti
  24. Chileno vai assumir comando das tropas no Haiti BBCBrasil.com
  25. Laudo preliminar do IML de Brasília aponta suicídio de Urano no Haiti Diário Vermelho, acessado em 17 de fevereiro de 2007
  26. Laudo indica que Bacellar cometeu suicídio BBCBrasil.com, acessado em 15 de fevereiro de 2007
  27. HIGHLIGHTS OF THE SPOKESMAN'S NOON BRIEFING Nações Unidas (em inglês), acessado em 15 de fevereiro de 2007
  28. ONU convida brasileiro para comandar tropas no Haiti BBCBrasil.com, acessado em 15 de fevereiro de 2007
  29. Panorama Haiti: entrevista com o General Santos Cruz. Página visitada em 14 de janeiro de 2009. [1]
  30. Rádio ONU. Exclusiva: General Floriano Peixoto. Página visitada em 14 de janeiro de 2009. [2]
  31. a b “Pedimos que o Brasil substitua seus tanques de guerra por tratores agrícolas”, diz senador do Haiti. Fórum, 24 de maio de 2014.
  32. El buen negocio de reconstruir Haití Otra America, acessado em 10 de janeiro de 2011
  33. El pueblo de Haití comenzó a reaccionar contra la injerencia extranjera AVN.info, acessado em 22 de dezembro de 2010
  34. OEA afasta brasileiro do Haiti por crítica Estado de São Paulo.com, acessado em 27 de dezembro de 2010
  35. Cholera in Haiti and Other Caribbean Regions, 19th Century Centers for Disease Control and Prevenition.GOV, acessado em dezembro de 2011
  36. [3] BBC.com, acessado em 21 de fevereiro de 2013
  37. Soldiers Without a Cause: Why Are Thousands of UN Troops Still in Haiti? Los Angeles Times, Carol J. Williams, 15 de dezembro de 2007
  38. Soldiers Without a Cause: Why Are Thousands of UN Troops Still in Haiti? CPPR, Dan Beeton, Relatório NACLA sobre as Américas , Primavera de 2012
  39. a b Haiti - MINUSTAH - Facts and Figures
  40. Tropas brasileiras ajudam vítimas de tempestade no Haiti - BBCBrasil.com
  41. CUMPLIENDO EXITOSAMENTE SU PLANIFICACIÓN, FUERZAS CHILENAS SE ENCUENTRAN EN FASE FINAL DE DESPLIEGUE - Estado Mayor de la Defensa Nacional
  42. ACTIVIDADES BATALLÓN CHILE II - Estado Mayor de la Defensa Nacional
  43. Uruguai pede desculpas ao Haiti por abuso sexual (em português) Estado de São Paulo. Visitado em 7 de setembro de 2011.
  44. Atualizacao de efetivo UNPOL na MINUSTAH/Haiti (10 de maio de 2014)
  45. Chegam a Brasília corpos de 17 militares mortos no Haiti - Uol. Página acessada em 20 de janeiro de 2010
  46. 1q Tropa do Brasil atua em incêndio. Ministério das Relações Exteriores
  47. Força Jauru assume a missão brasileira no Haiti (pdf) 7 pp. (dezembro 2006). Visitado em 11 de março de 2007.

Ver também[editar | editar código-fonte]

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Ligações externas[editar | editar código-fonte]