Revolução Praieira
Porto do Recife pouco mais de uma década após o fim da Revolução Praieira. |
Conflitos na História do Brasil - Império - |
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Primeiro Reinado |
Guerra da Independência: 1822-1823 |
Independência da Bahia: 1821-1823 |
Confederação do Equador: 1824 |
Guerra contra as Províncias Unidas: 1825-1828 |
Revolta dos Mercenários: 1828 |
Período Regencial |
Federação do Guanais: 1832 |
Revolta dos Malês: 1835 |
Cabanagem: 1835-1840 |
Farroupilha: 1835-1845 |
Sabinada: 1837-1838 |
Balaiada: 1838-1841 |
Segundo Reinado |
Revoltas Liberais: 1842 |
Revolução Praieira: 1848-1850 |
Guerra contra Oribe e Rosas: 1851-1852 |
Ronco da Abelha: 1851-1852 |
Questão Christie: 1863 |
Guerra contra Aguirre: 1864 |
Guerra do Paraguai: 1864-1870 |
Questão Religiosa: 1872-1875 |
Revolta dos Muckers: 1874 |
Revolta do Quebra-Quilos: 1874-1875 |
Questão Militar: década de 1880 |
A Revolução Praieira, também denominada como Insurreição Praieira, Revolta Praieira ou simplesmente Praieira, foi um movimento de caráter liberal e federalista que eclodiu, durante o Segundo Reinado, na província de Pernambuco, no Brasil, entre 1848 e 1850.
Contexto[editar | editar código-fonte]
A última das revoltas provinciais, está ligada às lutas político-partidárias que marcaram o Período Regencial e o início do Segundo Reinado. Sua derrota representou uma demonstração de força do governo de D. Pedro II (1840-1889).
De forma global, inscreveu-se no contexto das revoluções liberais, socialistas e nacionalistas que varreram a Europa neste período do século XIX, incluindo a Revolução de 1848 na França que promoveu a extinção do absolutismo no país.
Em nível local foi influenciada pelas ideias liberais dos que se queixavam da falta de autonomia provincial, sendo marcada pelo repúdio à monarquia, com manifestações a favor da independência política, da república e por um reformismo radical.
Com fundo social, econômico e político, contou com a participação das camadas menos favorecidas da Província de Pernambuco, oprimidas pela grande concentração fundiária nas mãos de poucos proprietários. Como exemplo, uma quadra popular à época, refere à poderosa família Cavalcanti:
- "Quem viver em Pernambuco
- não há de estar enganado:
- Que, ou há de ser Cavalcanti,
- ou há de ser cavalgado." (Quadra popular)
Ainda como fundo sócio-econômico, registra-se a histórica rivalidade com os portugueses, que dominavam o comércio na província. Em síntese, as principais causas da Rebelião Praieira foram:[1]
- o predomínio do latifúndio;
- a dependência e marginalização do pequeno agricultor;
- o encarecimento dos gêneros de primeira necessidade;
- o papel monopolizador dos comerciantes portugueses;
- o êxodo rural;
- a crise da economia pernambucana.
A luta[editar | editar código-fonte]
A revolta teve como causa imediata a destituição, por D. Pedro II, do Presidente da Província Antônio Pinto Chicorro da Gama (1800-1887), representante dos liberais. Durante quatro anos à frente do poder, Chicorro da Gama combatera o poder local dos gabirus, grupos mais poderosos da aristocracia latifundiária e mercantil, ligados ao Partido Conservador.
A substituição deste liberal pelo ex regente Araújo Lima, extremamente conservador, foi o estopim para o início da revolução, que já acumulava insatisfação com a política imperial e dificuldades devido ao declínio da economia açucareira.
Os rebeldes queriam formar uma nova Constituinte para alterar a Constituição brasileira de 1824, visando a efetiva liberdade de imprensa (uma vez que esta estava limitada, extinguindo artigos que ferissem a família real ou a moral e os bons costumes), a extinção do poder moderador e do cargo vitalício de senador, voto livre e universal, garantia de trabalho, além da nacionalização do comércio varejista que estava nas mãos dos portugueses
Em abril de 1848, os setores radicais do Partido Liberal pernambucano – reunidos em torno do jornal Diário Novo, na Rua da Praia, no Recife, e conhecidos como praieiros – condenaram a destituição de Chichorro da Gama, interpretando esse gesto como mais uma arbitrariedade imperial.
A revolta contra o novo governo da Província eclodiu em Olinda, a 7 de novembro de 1848, sob a liderança do general José Inácio de Abreu e Lima, do Capitão de Artilharia Pedro Ivo Veloso da Silveira, do Tenente Coronel da Guarda Nacional Bernardo José da Câmara, futuro Barão de Palmares, do deputado liberal Joaquim Nunes Machado e do militante da ala radical do Partido Liberal, Antônio Borges da Fonseca. O presidente nomeado da Província, Herculano Ferreira Pena, foi afastado e o movimento espalhoU rapidamente por toda a Zona da Mata de Pernambuco.
A sua primeira batalha foi travada no povoado de Maricota (atual cidade de Abreu e Lima).
Em 1 de janeiro de 1849, os revoltosos lançaram o seu programa, um documento que denominaram Manifesto ao Mundo, de conteúdo socialista utópico, supostamente escrito por Borges da Fonseca, um jornalista. O manifesto defendia:
- o voto livre e universal do povo brasileiro;
- a plena e absoluta liberdade de comunicar os pensamentos por meio da imprensa (liberdade de imprensa);
- o trabalho, como garantia da vida para o cidadão brasileiro;
- o comércio a retalho só para os cidadãos brasileiros;
- a inteira e efetiva independência dos poderes constituídos;
- a extinção do Poder Moderador e do direito de agraciar;
- o elemento federal na nova organização
- a completa reforma do Poder Judiciário, de forma a assegurar as garantias dos direitos individuais dos cidadãos;
- a extinção da lei do juro convencional;
- a extinção do sistema de recrutamento militar então vigente.
Apesar do caráter liberal da revolução, os revoltosos não cogitavam a abolição da escravidão.
Depois de receber a adesão da população urbana que vivia em extrema pobreza, pequenos arrendatários, boiadeiros, mascates e negros libertos, os praieiros marcharam sobre o Recife em fevereiro de 1849 com quase 2.500 combatentes, mas foram rechaçados. Marcharam em três Divisões, uma comandada por João Inácio de Ribeiro Roma, a segunda por Bernardo Câmara e a terceira era comandada por Pedro Ivo Veloso da Silveira.
A repressão[editar | editar código-fonte]
A província foi pacificada por Manuel Vieira Tosta, indicado como novo presidente, auxiliado pelo Brigadeiro José Joaquim Coelho , novo Comandante das Armas. As forças rebeldes foram derrotadas nos combates de Água Preta e de Igaraçu.
Os líderes do movimento pertencentes à classe dominante, foram detidos e julgados apenas em 28 de novembro de 1851, quando os ânimos na província já tinham serenado, ocasião em que o governo imperial pôde lhes conceder anistia. Voltaram, assim, a ocupar os seus cargos públicos e a comandar os seus engenhos.
Por outro lado, os rebeldes das camadas sociais menos privilegiadas - rendeiros, trabalhadores e outros - não tiveram direito a julgamento e, ou sofreram recrutamento forçado ou foram anistiados por intervenção de seus superiores para retornarem ao trabalho, exceto aqueles que foram sumariamente fuzilados durante e logo após os combates.
Consequências[editar | editar código-fonte]
Com o fim da Praieira, no início de 1850, iniciou-se outra parte do Segundo Reinado, um período de tranquilidade política, fruto do parlamentarismo e da política de conciliação implantados por D. Pedro II, e da prosperidade trazida pelo café. .
Referências
- ↑ Moccelin, Renato; Camargo, Rosiane. . "Passaporte para a História" (Brochura) 9 (4): 360. Editora do Brasil. ISSN 9788510045803.