Ruínas de Kilwa Kisiwani e de Songo Mnara
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Património Mundial da UNESCO | ||||
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A cidade de Quíloa em 1590.
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País | Tanzânia | |||
Critérios | C (iii) | |||
Referência | 144 | |||
Coordenadas | Kilwa Kisiwani 8º 57' 28" S 39º 31' 22" E Songo Mnara S9 02 58.0 E39 34 02.0 |
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Histórico de inscrição | ||||
Inscrição | 1981 (em perigo: 2004) (? sessão) | |||
* Nome como inscrito na lista do Património Mundial. |
As ruínas de Kilwa Kisiwani e de Songo Mnara localizam-se nas duas pequenas ilhas de mesmo nome, à entrada de uma baía a sul de Dar-es-Salam, na costa sueste da atual Tanzânia.
Ambas representam os vestígios de dois grandes portos comerciais onde, entre os séculos IX e XVI, se trocou o ouro e ferro do Zimbabwe, escravos e marfim de toda a África Oriental, por tecidos, porcelana, jóias e especiarias da Ásia. Estas ilhas foram inscritas pela UNESCO em 1981 na lista dos locais que constituem Património da Humanidade e, em 2004, na Lista do Património Mundial em Perigo.[1]
Índice
História[editar | editar código-fonte]
Antecedentes[editar | editar código-fonte]
As ilhas de Kilwa Kisiwani (Quíloa, na História de Portugal) e de Songo Mnara parecem ter sido ocupadas no século IX, provavelmente por populações swahili. Nessa época, um chefe da ilha de Kilwa Kisiwani vendeu-a a um mercador árabe chamado Ali bin Al-Hasan, fundador da Dinastia Shiraz. Entre os séculos XI e XV, os seus descendentes nelas estabeleceram o mais poderoso centro comercial da África Oriental. No século XIII, os seus chefes dominavam todos os centros comerciais da costa africana, desde a ilha de Pemba, a norte, até Sofala, no sul.
O mundo ocidental ficou a conhecer Kilwa através dos escritos do geógrafo marroquino Ibn Batuta, que a visitou em 1331. Ele ficou extasiado pela "beleza da grande cidade, com edifícios construídos de pedra de coral, normalmente com um único piso e pequenos compartimentos separados por maciças paredes e com telhados formados de placas da mesma pedra, suportados pelas paredes e por estacas de mangal." Mas também encontrou "estruturas formidáveis de vários pisos e algumas belamente ornamentadas com pedra esculpida nas entradas, tapeçarias e nichos cobrindo as paredes e o chão com carpetes... Claro que estas eram as casas dos ricos, porque os pobres viviam em casas de palha, vestiam-se apenas com um pano sobre as ancas e comiam apenas papas de milho..."
A presença portuguesa[editar | editar código-fonte]
Em 1500, a caminho da Índia, o português Pedro Álvares Cabral também visitou Kilwa e referiu-se às belas casas de coral e seus terraços, pertencentes a "mouros negros", o que atraiu a atenção dos portugueses. Com a presença destes na região, a fortuna de Kilwa mudou radicalmente: Vasco da Gama invadiu a ilha em 1502 tornando-a tributária de Portugal. Como o sultão cessasse de pagar o seu tributo, em 24 de Julho de 1505, as forças de D. Francisco de Almeida, primeiro Vice-rei do Estado Português da Índia, conquistaram-na e iniciaram a construção da primeira fortificação portuguesa de pedra e cal na África Oriental
O Forte de Quíloa[editar | editar código-fonte]
A construção do forte português em Quíloa iniciou-se no dia subsequente à conquista (25 de julho de 1505), tendo as obras ficado a cargo do mestre de pedraria Tomás Fernandes.[2] Tinha como função proporcionar abrigo aos passageiros das naus da Carreira da Índia que demandavam aquele porto e, acessóriamente, a de defesa contra eventuais inimigos.
Embora tenha sido a primeira fortificação de vulto a ser erguida na costa oriental africana, teve curta existência. De manutenção dispendiosa, gerando recursos insuficientes para a aquisição de especiarias no Oriente pela Coroa portuguesa, foi abandonada em 1512, concentrando-se as suas funções na Torre Velha de Moçambique.
D. Francisco de Almeida, em carta a Manuel I de Portugal descreve a fortificação então construída como:
- "huuma fortaleza que se podesse ser compraria por anos de minha vida, vee la Vossa alteza porque he tam forte que se esperara
nela el rei de França e tem apousemtamento de muito boas casas pera duas tamta gente e desenbarquon os batees as pipas por huuma esquada de seis degraaos demtro no baluarte que he o mais forte da casa."[3]
É ainda descrita, por outras fontes:
- "(...) que havia de ter a fortaleza em quadra, que per quadra tinha sessenta braças, e em hum canto pera a banda da cidade huma torre quadrada, sobradada com o andar do muro (...) toda a obra em roda se fazia com outra torre quadrada per a banda da baya, em que a terra fazia uma ponta, e na torre a porta pera o mar, e nas casas dentro mandou alevantar a torre de menagem, de dous sobrados fortes, com janelas pera todas as partes, de que podia jogar artilharia."[4]
Em setembro de 1506, um grupo de pedreiros portugueses e quatro pedreiros "mouros" "acabaram de cerrar hos muros de dentro" e a "torre de sobola porta do baluarte", encontrando-se a fortaleza equipada, em fevereiro de 1507, com 73 armas de fogo, quantidade expressiva à época.[5]
No início da década de 1960, o arqueólogo britânico Neville Chittick conduziu uma campanha de prospecção arqueológica de um forte de menores dimensões, identificado como de origem portuguesa (conhecido como "Gereza"), reconhecendo-lhe características da arquitetura militar árabe e periodizando-o do século XIX[6] o que, modernamente é questionado, sendo proposta uma datação alternativa do século XVIII. Esta estrutura apresenta planta na forma de um quadrado com 20 metros de lado, e duas torres nos vértices opostos, de bases maciças e sem aberturas para o tiro senão nos pisos superiores.[7]
A reconquista árabe[editar | editar código-fonte]
Em 1512, a ilha foi ocupada por uma força árabe e voltou a ser uma cidade-estado swahili até 1784, quando se tornou num protectorado do Oman e voltou a perder o seu poderio. Em 1843, a cidade vizinha de Kilwa Kivinje, a cerca de 20 km a norte, na costa, passou a ser utilizada como porto e Kilwa Kisiwani foi abandonada e os seus edifícios tornaram-se ruínas.
Do século XX aos nossos dias[editar | editar código-fonte]
Na década de 1950, as autoridades coloniais começaram a explorar as ruínas e, mais tarde a recuperar alguns edifícios. Neste momento Kilwa Kisiwani é um ponto turístico importante. Entre os edifícios mais importantes contam-se:
- A Grande Mesquita, que era a maior de África quando foi construída, com grandes abóbadas e pilares monolíticos;
- O Palácio Husuni Kubwa, com cem compartimentos, é o maior edifício pré-europeu em pedra na região oriental e austral de África;
- A Pequena Mesquita, também abobadada, que é o edifício mais bem preservado na ilha;
- O Palácio Makutani, com grandes paredes triangulares;
- O "pequeno" Husuni Ndogo; e
- A "Gereza" (prisão).
Referências
- ↑ UNESCO. Visitado em 21/6/2014.
- ↑ DIAS, Pedro (1998). "História da Arte Portuguesa no Mundo. O espaço do Índico". Lisboa: Círculo de Leitores, pp. 356, 377 ou 387. apud LIZARDO, João. "A Identificação do Forte Português em Quíloa" in Al-Madan adenda electrónica ISSN 0871-066X | IIª Série (13) | Julho 2005. Consultado em 18 nov 2011.
- ↑ Carta de D. Francisco de Almeida citada por Pedro Dias, em "História da Arte Portuguesa no Mundo. O espaço do Índico", pág. 356. apud LIZARDO, João. "A Identificação do Forte Português em Quíloa" in Al-Madan adenda electrónica ISSN 0871-066X | IIª Série (13) | Julho 2005. Consultado em 18 nov 2011.
- ↑ PEREIRA, Mário (1994). "Da Torre ao Baluarte". in A Arquitectura Militar na Expansão Portuguesa. Lisboa: CNCDP, p. 41. apud LIZARDO, João. "A Identificação do Forte Português em Quíloa" in Al-Madan adenda electrónica ISSN 0871-066X | IIª Série (13) | Julho 2005. Consultado em 18 nov 2011.
- ↑ CALADO, Rafael (1989). "História das Fortificações Portuguesas no Mundo". Edições Alfa, p. 112. apud LIZARDO, João. "A Identificação do Forte Português em Quíloa" in Al-Madan adenda electrónica ISSN 0871-066X | IIª Série (13) | Julho 2005. Consultado em 18 nov 2011.
- ↑ CHITTICK, Neville (1974). "Kilwa: an islamic trading city on East African coast". Nairobi: The British Institute in Eastern Africa. apud LIZARDO, João. "A Identificação do Forte Português em Quíloa" in Al-Madan adenda electrónica ISSN 0871-066X | IIª Série (13) | Julho 2005. Consultado em 18 nov 2011.
- ↑ LIZARDO, João. "A Identificação do Forte Português em Quíloa" in Al-Madan adenda electrónica ISSN 0871-066X | IIª Série (13) | Julho 2005. Consultado em 18 nov 2011.
Ver também[editar | editar código-fonte]
Referências
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- Fortaleza de Quiloa no WikiMapia
- UNESCO — Património Mundial - Ruínas de Kilwa Kisiwani e Songo Mnara
- As Maravilhas de Portugal no Mundo: Fortaleza de Quíloa.
- LIZARDO, João. "A Identificação do Forte Português em Quíloa" in Al-Madan adenda electrónica ISSN 0871-066X | IIª Série (13) | Julho 2005