Revolução de 1930

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Revolução de 1930.jpg
Getúlio Vargas e sua comitiva em Itararé, São Paulo
Conflitos na História do Brasil
Período Republicano
República Velha
1ª Revolta de Boa Vista: 1892-1894
Revolta da Armada: 1893-1894
Revolução Federalista: 1893-1895
Guerra de Canudos: 1893-1897
Revolta da Vacina: 1904
2ª Revolta de Boa Vista: 1907-1909
Revolta da Chibata: 1910
Guerra do Contestado: 1912-1916
Sedição de Juazeiro: 1914
Greves Operárias: 1917-1919
Revolta dos Dezoito do Forte: 1922
Revolução Libertadora: 1923
Revolução de 1930: 1930
Era Vargas
Revolução Constitucionalista: 1932
Intentona Comunista: 1935
Levante Integralista: 1938
Regime Militar
Guerrilha de Três Passos: 1965
Guerrilha do Caparaó: 1967
Guerrilha do Araguaia: 1967-1974
Revolta dos Perdidos: 1976

A Revolução de 1930 foi o movimento armado, liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, que culminou com o golpe de Estado, o Golpe de 1930, que depôs o presidente da república Washington Luís em 24 de outubro de 1930, impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e pôs fim à República Velha.[1]

Com a quebra da Bolsa de Nova Iorque ocorrida em outubro de 1929, inicia-se uma crise econômica de escala mundial, esmagando todas as economias com alguma participação nos mercados internacionais, caso do Brasil e suas exportações de café.

Em 1929, lideranças da oligarquia paulistana romperam a aliança com os mineiros, conhecida como política do café-com-leite, e indicaram o paulista Júlio Prestes como candidato à presidência da República. Em reação, o Governador de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada apoiou a candidatura oposicionista do gaúcho Getúlio Vargas.

Em 1º de março de 1930, foram realizadas as eleições para presidente da República que deram a vitória ao candidato governista, que era o governador do estado de São Paulo, Júlio Prestes. Porém, ele não tomou posse, em virtude do golpe de estado desencadeado a 3 de outubro de 1930, e foi exilado.

Getúlio Vargas assumiu a chefia do "Governo Provisório" em 3 de novembro de 1930, data que marca o fim da República Velha no Brasil.[2]

Contexto histórico[editar | editar código-fonte]

A crise da República Velha havia se prolongado ao longo da década de 1920. Os expoentes políticos da República Velha vinham perdendo força com a mobilização do trabalhador industrial, com as Revoltas nazifascistas e as dissidências políticas que enfraqueceram as grandes oligarquias. Esses acontecimentos ameaçavam a estabilidade da tradicional aliança rural entre os estados de São Paulo e Minas Gerais - a política do café com leite.

Em 1926, surge a quarta e última dissidência no Partido Republicano Paulista (PRP), e os dissidentes liderados pelo Dr. José Adriano de Marrey Junior fundaram o Partido Democrático (PD), que defendia um programa de educação superior entre outras reformas e a derrubada do PRP do poder. Esta crise política em São Paulo originou-se em uma crise da maçonaria paulista presidida pelo Dr. José Adriano de Marrey Júnior. São Paulo, então, chegou dividido às eleições de 1930.

Entretanto, o maior sinal do desgaste republicano era a superprodução de café, durante a crise de 1929, alimentada pelo governo com constantes “valorizações”.

Assim em 1930, São Paulo estava dividido, e o Rio Grande do Sul que estivera em guerra civil em 1923, agora estava unido, com o governador do Rio Grande do Sul, Dr. Getúlio Vargas tendo feito o PRR e o Partido Libertador se unirem.

Em Juiz de Fora, o Partido Republicano Mineiro (PRM) passa para a oposição, forma a Aliança Liberal com os segmentos progressistas de outros estados e lança o gaúcho Getúlio Vargas para a presidência, tendo o político paraibano João Pessoa como candidato a vice-presidente. Minas Gerais estava dividida, não conseguindo impor um nome mineiro de consenso para a presidência da república. Parte do PRM apoiou a candidatura Getúlio Vargas mas a "Concentração Conservadora" liderada pelo vice-presidente da república Fernando de Melo Viana e pelo ministro da Justiça Augusto Viana do Castelo apoiam a candidatura oficial do Dr. Júlio Prestes para as eleições presidenciais de 1 de março de 1930.

A revolução[editar | editar código-fonte]

O problema da sucessão presidencial[editar | editar código-fonte]

Na República Velha (1889-1930), vigorava no Brasil a chamada "política do café com leite", em que políticos apoiados por São Paulo e de Minas Gerais se alternavam na presidência da república (mas não eram necessariamente Paulistas ou Mineiros os seus indicados). Porém, no começo de 1929, o então presidente da república Washington Luís indicou o nome do Governador de São Paulo, Júlio Prestes, como seu sucessor, no que foi apoiado por presidentes de 17 estados. Apenas três estados negaram o apoio a Prestes: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Os políticos de Minas Gerais esperavam que Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, o então governador do estado, fosse o indicado, por Washington Luís, para ser o candidato à presidência.

Assim a política do café com leite chegou ao fim e iniciou-se a articulação de uma frente oposicionista ao intento do presidente e dos 17 estados de eleger Júlio Prestes. Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba uniram-se a políticos de oposição de diversos estados, inclusive do Partido Democrático de São Paulo, para se oporem à candidatura de Júlio Prestes, formando, em agosto de 1929, a Aliança Liberal.

Em 20 de setembro do mesmo ano, foram lançados os candidatos da Aliança Liberal às eleições presidenciais: Getúlio Vargas como candidato a presidente e João Pessoa, como candidato a vice-presidente. Apoiaram Aliança Liberal, intelectuais como José Américo de Almeida e Lindolfo Collor, membros das camadas médias urbanas e a corrente político-militar chamada "Tenentismo" (que organizou, entre outras, a Revolta Paulista de 1924), na qual se destacavam Cordeiro de Farias, Eduardo Gomes, Siqueira Campos, João Alberto Lins de Barros, Juarez Távora e Miguel Costa e Juraci Magalhães e três futuros presidentes da república (Geisel, Médici e Castelo Branco).

Nesse momento, setembro de 1929, já era percebido em São Paulo que a Aliança Liberal, e uma eventual revolução, visava especificamente beneficiar o estado de São Paulo. Tendo o senador estadual de São Paulo Cândido Nanzianzeno Nogueira da Motta denunciado na tribuna do Senado do Congresso Legislativo do Estado de São Paulo, em 24 de setembro de 1929, que:

Cquote1.svg A guerra anunciada pela chamada Aliança Liberal não é contra o sr. Júlio Prestes, É contra nosso Estado de São Paulo, e isso não é de hoje. A imperecível inveja contra o nosso deslumbrante progresso que deveria ser motivo de orgulho para todo o Brasil. Em vez de nos agradecerem e apertarem em fraternos amplexos, nos cobrem de injúrias e nos ameaçam com ponta de lanças e patas de cavalo! Cquote2.svg
Cândido Mota
A Crise de 1929 foi uma das causas da Revolução de 1930.

Cândido Mota citou ainda o senador fluminense Irineu Machado que previra a reação de São Paulo:

Cquote1.svg A reação contra a candidatura do Dr. Júlio Prestes representa não um gesto contra o presidente do estado, mas uma reação contra São Paulo, que se levantará porque isto significa um gesto de legítima defesa de seus próprios interesses"! Cquote2.svg
Irineu Machado

Essa resposta paulista à revolução de 1930 veio um ano e meio depois, com a Revolução de 1932.

O presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada diz em discurso, ainda em 1929:

Cquote1.svg Façamos a revolução pelo voto antes que o povo a faça pela violência Cquote2.svg
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada[3]

Esta frase foi vista como a expressão do instinto de sobrevivência de um político experiente e um presságio: Minas Gerais, se aliando ao Rio Grande do Sul e aos tenentes, consegue preservar sua oligarquia. Uma revolução que fosse feita só pelos tenentes teria derrubado também o PRM (Partido Republicano Mineiro) do poder em Minas Gerais e o PRR do poder no Rio Grande do Sul.

As eleições e a revolução[editar | editar código-fonte]

As eleições foram realizadas no dia 1 de março de 1930 e deram a vitória a Júlio Prestes, que obteve 1.091.709 votos, contra apenas 742.794 dados a Getúlio. Notoriamente, Getúlio teve quase 100% dos votos no Rio Grande do Sul, e apenas 10% dos votos em São Paulo.

A Aliança Liberal recusou-se a aceitar a validade das eleições, alegando que a vitória de Júlio Prestes era decorrente de fraude. Além disso, deputados eleitos em estados onde a Aliança Liberal conseguiu a vitória, não obtiveram o reconhecimento dos seus mandatos. A partir daí, iniciou-se uma conspiração, com base no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais.

Getúlio Vargas no Palácio do Catete em 31 de outubro de 1930, no dia que chegou ao Rio de Janeiro, após vitoriosa a Revolução de 1930.

A conspiração sofreu um revés em junho com Luís Carlos Prestes. Um ex-membro do movimento tenentista, Prestes tornou-se adepto das ideias de Karl Marx e apoiador do comunismo. Isso o levou, depois de um tempo, a tentativa frustrada da intentona comunista pela ANL.

Logo em seguida, ocorre outro contratempo à conspiração: morre, em acidente aéreo, o tenente Siqueira Campos.

No dia 26 de julho de 1930, João Pessoa foi assassinado por João Dantas em Recife, por questões políticas e de ordem pessoal, servindo como estopim para a mobilização armada. João Dantas e seu cunhado e cúmplice, Moreira Caldas, foram encontrados degolados em sua cela, na Casa de Detenção (hoje Casa da Cultura) em outubro de 1930.

As acusações de fraude e a degola arbitrária de deputados mineiros e de toda a bancada da Paraíba da Aliança Liberal, o descontentamento popular devido à crise econômica causada pela grande depressão de 1929, o assassinato de João Pessoa e o rompimento da política do café com leite foram os principais fatores (ou pretextos na versão dos partidários de Júlio Prestes), que criaram um clima favorável a uma revolução.

Missa celebrada em Jequié, Bahia, no dia 15 de novembro de 1930, por motivo da vitória da Revolução.

Getúlio tentou várias vezes a conciliação com o governo de Washington Luís e só se decidiu pela revolução quando já se aproximava a posse de Júlio Prestes que se daria em 15 de novembro.

A Revolução teve seu inicio em 3 de outubro de 1930, uma sexta feira, com movimentos sincronizados que foram levados a efeito no Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Paraíba. As 17h30m deste dia, revolucionários comandados por Oswaldo Aranha e Góes Monteiro, tomam o Quartel General do Exército em Porto Alegre, prendendo o comandante da 3ª Região Militar, General Gil de Almeida, e seu chefe do Estado Maior, Coronel Firmo Freire. Pouco após, tomam o arsenal de guerra e partem para tomada do 3º e 4º Regimentos de Cavalaria Divisionária. Na madrugada do dia seguinte, avançam para o 7º Batalhão de Cavalaria. Os rebeldes tomam, com poucas exceções (o Regimento de Cavalaria Independente, em São Borja, resistiu pouco tempo), os quartéis e guarnições do Exercito em todo o Estado.

Logo após a deflagração do movimento pelos gaúchos, Osvaldo Aranha telegrafou a Juarez Távora comunicando início da revolução. A chefia civil do movimento na região nordeste (Governo Provisório do Norte) coube a José Américo de Almeida, político paraibano, enquanto o comando militar regional ficou a cargo de Juarez Távora. A rebelião rapidamente se alastrou por todo o país. Oito governos estaduais no Nordeste foram depostos pelos tenentes. Na região, a atividade revolucionária teve início na capital paraibana na madrugada do dia 4 de outubro, poucas horas após o movimento ter-se iniciado, na noite do dia anterior, em Porto Alegre e Belo Horizonte. Os revolucionários atacaram o 22º Batalhão de Caçadores (22º BC) , e aí morreu o general legalista Alberto Lavenère Wanderley, comandante da 7ª Região Militar; o assalto ao quartel do 22º B.C., levado a efeito por vários oficiais do exército e civis. Naquela praça militar houve ligeira luta, logo jugulada pelos elementos aliciados pelos então tenentes Juraci Magalhães, Agildo Barata, Landry Salles Gonçalves e outros.

Os contingentes de outras unidades estavam espalhados pela capital e cidade do interior, enviados pelo governo federal como medidas preliminares para intervenção federal projetada e que foi procrastinadas devido a morte de João Pessoa, terminaram por aderir ao movimento, salvo o 23º B.C., estacionado em Sousa, que opôs resistência aos revolucionários. Logo em seguida, sublevaram-se o 25º BC de Teresina, o 24º BC de São Luís, o 29º BC de Natal, seguindo o exemplo da Paraíba.

Em Recife, o movimento encontrou uma resistência maior por parte das forças legalistas, que se haviam colocado de prontidão ao surgirem as primeiras notícias da revolução. A vitória dos revolucionários, contudo, foi garantida pelo apoio popular à insurreição, tendo ocorrido, inclusive, distribuição de armas aos populares. Já na manhã do dia 5 de outubro, o movimento havia triunfado em Pernambuco, antes mesmo que os reforços provenientes da Paraíba chegassem a Recife. No dia seguinte, a posição dos revoltosos se consolidou quando o presidente do estado, Estácio Coimbra, abandonou o governo.

No Ceará, o movimento se iniciou no quartel do 23º Batalhão de Caçadores, onde no dia 4 de outubro de 1930 houve um levante articulado por Juarez Távora e executado por alguns tenentes, tais como: Landri Sales, João da Silva Leal, Júlio Veras e Ari Correia. “O objetivo principal foi conquistar aquele importante espaço militar e libertar os presos políticos participantes da revolução, entre eles o futuro primeiro interventor do Ceará depois do triunfo do movimento, Fernandes Távora”. Nesse levante, destaca, foi morto o comandante do 23º BC, Pedro Ângelo.

O então governador cearense Matos Peixoto, acuado pelas derrotas de governadores da situação em Pernambuco e Rio Grande do Norte resolve, depois de frustradas as iniciativas que incluíram até a convocação de jagunços, renunciar no dia 7 de outubro e decide viajar para o Rio de Janeiro no dia seguinte. Na Praça do Ferreira houve uma aglomeração populacional que contou com a fala de personagens como o jornalista Demócrito Rocha e o poeta Quintino Cunha.

Em seguida às vitórias conquistadas em Pernambuco e na Paraíba, as tropas revolucionárias seguiram para Alagoas, onde o governo local foi deposto. Em Sergipe não houve resistência, já que o 28º Batalhão de Caçadores, sediado em Aracaju, aderiu ao movimento. O último obstáculo à vitória da revolução no Nordeste foi o estado da Bahia, onde as forças militares fiéis ao governo de Washington Luís montaram o seu quartel-general em Salvador.

Em Minas Gerais, os revolucionários, liderados pela Força Pública de Minas Gerais, atacaram, com pouquíssima resistência, as unidades militares; porém, houve notável resistência de cinco dias por parte do 12º batalhão de infantaria, em Belo Horizonte, que por fim caiu em 8 de outubro. Além da guarnição de Ouro Preto, que no dia 5 de outubro se dispersou e concentrou a defesa legalista no dia seguinte até o dia 15 de outubro no quartel do 11º regimento, em São João Del Rey. Os últimos redutos legalistas no Estado foram em Três Corações e em Juiz de Fora, que caiu no dia 23 de outubro. No dia 19 de outubro, os rebeldes mineiros, em outra coluna, chegaram à Vitória, capital do Espirito Santo, com a Força Pública Mineira avançando também no sul da Bahia, no norte do Estado do Rio de Janeiro, e expulsando tropas regulares do Triângulo Mineiro.

Com o Rio Grande do Sul sob controle, os revolucionários precisavam atravessar territórios de quatro estados (Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro) até a capital da República. Não dispondo do apoio da Marinha de Guerra, o único caminho era pela Ferrovia São Paulo – Rio Grande. Por esta via, ainda no dia 3 de outubro, horas antes dos eventos em Porto Alegre, forças rebeldes (chamada de Divisão do Litoral, comandada pelo Major Ptolomeu Assis Brasil) seguiram pelo interior de Santa Catarina, com o objetivo de chegar rapidamente até Porto União, na divisa com o Paraná. Houve alguma resistência na capital catarinense, com bombardeios à cidade, que reagiu até o dia 24 de outubro, com a retirada do Presidente do Estado Fúlvio Aducci e o comandante legalista, o General Nepomucemo, deixaram Florianópolis.

O domínio desta ferrovia garantiu aos revolucionários o controle sobre a antiga área do Contestado, preservando a segurança e o deslocamento das suas tropas com seus suprimentos que deveriam fluir por esta única via. Quando as forças revolucionárias chegam a Porto União, o Batalhão de Caçadores vindo de Joinville e aí estacionado, já havia se rebelado e aderido à Revolução. Neste mesmo dia, 4 de outubro, o 13º Regimento de Infantaria também se rebelou e assumiu o controle sobre a cidade de Ponta Grossa. Em Curitiba, o Major Plínio Tourinho, em acordo com os gaúchos, conduziu um conjunto de ações que levou a adesão da guarnição federal, da Policia Militar e do Corpo de Bombeiros. O Presidente do Estado, Affonso Camargo, sem apoio militar, retirou-se para Paranaguá e daí para São Paulo. Desta forma, em 5 de Outubro, em Curitiba encontrava-se sob um governo revolucionário, seu chefe era o General da Reserva Mário Tourinho (irmão do Major Plínio), que obteve rápida e grande apoio popular na cidade.

Com a adesão paranaense, as tropas gaúchas avançam pelo estado e chegam a Ponta Grossa. O 5º Regimento de Cavalaria Divisionária, sediado em Castro permaneceu fiel a Legalidade quando realizou seu recuo em direção a São Paulo destruiu trechos da ferrovia e danificou pontes. Na cidade paulista de Itararé, junto a divisa com o estado do Paraná, foram organizadas forças para impedir o avanço revolucionário e as primeiras forças rebeldes que seguem naquela direção eram formadas pelo 13º Regimento de Infantaria e pela Policia Militar do Paraná. Os rebeldes paranaenses foram seguidos pelos gaúchos que em Jaguariaíva adentraram pelo Ramal Ferroviário do Paranapanema, atingindo sem dificuldades o Norte Pioneiro do Paraná.

No dia 10, Getúlio Vargas lançou o manifesto O Rio Grande de pé pelo Brasil e partiu, por ferrovia, rumo ao Rio de Janeiro, capital nacional. No dia 17 de outubro, Getúlio esteve em Ponta Grossa, e dois dias após, foi aclamado pela multidão curitibana, antes de seguir para a capital.

Esperava-se que ocorresse uma grande batalha em Itararé (na divisa com o Paraná), onde as tropas do governo federal estavam acampadas para deter o avanço das forças revolucionárias, lideradas militarmente pelo coronel Góis Monteiro. Entretanto, em 12 e 13 de outubro ocorreu o Combate de Quatiguá, que pode ter sido o maior combate desta revolução, com derrota das forças legalistas, formadas por batalhões de voluntários e pela força pública paulista. Quatiguá localiza-se a direita de Jaguariaíva, próxima à divisa entre São Paulo e Paraná. A batalha não ocorreu em Itararé, já que os generais Tasso Fragoso e Mena Barreto e o Almirante Isaías de Noronha depuseram Washington Luís, em 24 de outubro e formaram uma junta de governo.

Jornais que apoiavam o governo deposto foram empastelados; Júlio Prestes, Washington Luís e vários outros próceres da República Velha foram exilados. Washington Luís havia apostado na divisão dos mineiros não acreditando em nenhum momento que Minas Gerais faria uma revolução, não se prevenindo, nem tomando medidas antirrevolucionárias, sendo derrubado em poucos dias de combate. Com a vitória da Revolução, em 24 de outubro, outros governadores foram depostos, como no Amazonas, que assistiu uma Junta Revolucionária Governativa tomar posse, sem incidentes, com a renúncia do Presidente do Estado, Dorval Porto, até a chegada da Divisão do Extremo-Norte, designada pelo Comando Militar do Norte, para ocupar o Pará e Amazonas, o que efetivamente ocorreu no inicio de novembro de 1930.

Uma república nova[editar | editar código-fonte]

Às 3 horas da tarde de 1 de novembro de 1930, a junta militar passou o poder, no Palácio do Catete, a Getúlio Vargas, encerrando a chamada República Velha, derrubando todas as oligarquias estaduais exceto a mineira e a gaúcha.

Na mesma hora, no Rio de Janeiro, os soldados gaúchos cumpriam a promessa de amarrar os cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco, marcando simbolicamente o triunfo da Revolução de 1930.

Getúlio Vargas tornou-se chefe do Governo Provisório com amplos poderes. A constituição de 1891 foi revogada e Getúlio passou a governar por decretos. Getúlio nomeou interventores para todos os Governos Estaduais, com exceção de Minas Gerais. Esses interventores eram na maioria tenentes que participaram da Revolução de 1930.

Por sua vez, o presidente eleito e não empossado Júlio Prestes criticou duramente a Revolução de 1930 quando, em 1931, exilado em Portugal, afirmou:

Cquote1.svg O que não compreendem é que uma nação, como o Brasil, após mais de um século de vida constitucional e liberalismo, retrogradasse para uma ditadura sem freios e sem limites como essa que nos degrada e enxovalha perante o mundo civilizado! Cquote2.svg
Júlio Prestes

Um dos maiores erros da revolução de 1930 foi entregar os estados à administração de tenentes inexperientes, um dos motivos da revolução de 1932. O despreparo dos tenentes para governar foi denunciado, logo no início de 1932, por um dos principais tenentes, o tenente João Cabanas, que havia participado da revolução de 1924, e que usou como exemplo o tenente João Alberto Lins de Barros que governou São Paulo. João Cabanas, em fevereiro de 1932, no seu livro "Fariseus da Revolução", criticou especialmente o descalabro que foram as administrações dos tenentes nos estados, chamando a atenção para a grave situação paulista pouco antes de eclodir a Revolução de 1932:

Cquote1.svg João Alberto serve como exemplo: Se, como militar, merece respeito, como homem público não faz juz ao menor elogio. Colocado, por inexplicáveis manobras e por circunstâncias ainda não esclarecidas, na chefia do mais importante estado do Brasil, revelou-se de uma extraordinária, de uma admirável incompetência, criando, em um só ano de governo, um dos mais trágicos confusionismos de que há memória na vida política do Brasil, dando também origem a um grave impasse econômico (déficit de 100.000 contos), e a mais profunda impopularidade contra a "Revolução de Outubro".. e ter provocado no povo paulista, um estado de alma equívoco e perigoso. Nossa história não registra outro período de fracasso tão completo como o do "Tenentismo inexperiente"! Cquote2.svg
João Cabanas

Consequências[editar | editar código-fonte]

Os efeitos da Revolução não demoram a aparecer. Ainda em Novembro é criado o Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio afirmando a caráter trabalhista no planejamento político de Vargas, que governava por decretos. A nova Constituição só é aprovada em 1934, a chamada Constituição de 1934, depois de forte pressão armada e social da Revolução Constitucionalista de 1932. A estrutura do Estado brasileiro modifica-se profundamente depois de 1930, se reajustando a novas necessidades econômicas e sociais, as quais o governo julgava imprescindíveis.

Getúlio, três anos e meio depois, decreta uma nova constituição, a Constituição de 1937, que instaurava o Estado Novo, em uma suposta tentativa de travar contra-ataques comunistas apresentados pelo Plano Cohen.

E assim se posicionou em relação a Constituição de 1934, no 10º aniversário da revolução de 1930, em discurso de 11 de novembro de 1940:

Cquote1.svg Uma constitucionalização apressada, fora de tempo, apresentada como panaceia de todos os males, traduziu-se numa organização política feita ao sabor de influências pessoais e partidarismo faccioso, divorciada das realidades existentes. Repetia os erros da Constituição de 1891 e agravava-os com dispositivos de pura invenção jurídica, alguns retrógrados e outros acenando a ideologias exóticas. Os acontecimentos incumbiram-se de atestar-lhe a precoce inadaptação! Cquote2.svg
Getúlio Vargas

[4]

A partir da constituição de 1937, o regime centralizador, por vezes autoritário do getulismo, ou Era Vargas, estimula a expansão das atividades urbanas e desloca o eixo produtivo da agricultura para a indústria, estabelecendo as bases da moderna economia brasileira.

O balanço da revolução de 1930 e de seus 15 anos de governo, por Getúlio, foi feito, no Dia do Trabalho de 1945, em um discurso feito no Rio de Janeiro, no qual disse:

Cquote1.svg A qualquer observador de bom senso não escapa a evidência do progresso que alcançamos no curto prazo de 15 anos. Éramos, antes de 1930, um país fraco, dividido, ameaçado na sua unidade, retardado cultural e economicamente, e somos hoje uma nação forte e respeitada, desfrutando de crédito e tratada de igual para igual no concerto das potências mundiais! Cquote2.svg
Getúlio Vargas

Legado político e social[editar | editar código-fonte]

A nova política do Brasil[editar | editar código-fonte]

Três ex-ministros de Getúlio Vargas chegaram à Presidência da República: Eurico Dutra, João Goulart e Tancredo Neves. Este último não chegou a assumir o cargo, pois, na véspera da posse, sentiu fortes dores abdominais sequenciais durante uma cerimônia religiosa no Santuário Dom Bosco diagnosticada como uma "diverticulite", que o levou à morte em 21 de abril de 1985, em São Paulo.

Três tenentes de 1930 chegaram à Presidência da República: Castelo Branco, Médici e Geisel.

O ex-tenente Juarez Távora foi o segundo colocado nas eleições presidenciais de 1955, e o ex-tenente Eduardo Gomes, o segundo colocado, em 1945 e 1950. Ambos foram candidatos pela UDN, o que mostra também a influência dos ex-tenentes na UDN, partido que tinha ainda, entre seus líderes, o ex-tenente Juraci Magalhães, que quase foi candidato em 1960.

Os partidos fundados por Getúlio Vargas, PSD (partido dos ex-interventores no Estado Novo e intervencionista na economia) e o antigo PTB, dominaram a cena política de 1946 até 1964.

PSD, UDN e PTB, os maiores partidos políticos daquele período, eram liderados por mineiros (PSD e UDN) e por gaúchos (o PTB).

Apesar de quinze anos (1930-1945) não serem um período longo em se tratando de carreira política, poucos políticos da República Velha conseguiram retomar suas carreiras políticas depois da queda de Getúlio em 1945. A renovação do quadro político foi quase total, tanto de pessoas quanto da maneira de se fazer política.

Sobre a queda da qualidade da representação política após 1930, Gilberto Amado em seu livro "Presença na Política", explica:

Cquote1.svg Na República Velha, as eleições eram falsas, mas a representação era verdadeira… As eleições não prestavam, mas os deputados e senadores eram os melhores que podíamos ter! Cquote2.svg
Gilberto Amado

[5]

Getúlio foi o primeiro a fazer no Brasil propaganda pessoal em larga escala - o chamado culto da personalidade, com a Voz do Brasil, - típica do fascismo e ancestral do marketing político moderno.

A aliança elite-proletariado, criada por Getúlio, tornou-se típica no Brasil, como a Aliança PTB-PSD apoiada pelo clandestino PCB.

A nova economia do Brasil[editar | editar código-fonte]

A política trabalhista é alvo de polêmicas até hoje e foi tachada de "paternalista" por intelectuais de esquerda. Esses intelectuais acusavam Getúlio de tentar anular a influência desta esquerda sobre o proletariado, desejando transformar a classe operária num setor sob seu controle, nos moldes da Carta do Trabalho do fascista italiano Benito Mussolini.

Os defensores de Getúlio Vargas contra-argumentam, dizendo que em nenhum outro momento da história do Brasil houve avanços comparáveis nos direitos dos trabalhadores. Os expoentes máximos dessa posição foram João Goulart e Leonel Brizola. Brizola foi considerado, por muitos estudiosos,[quem?] como último herdeiro político do "Getulismo", ou da "Era Vargas", na linguagem dos brasilianistas.

A crítica de direita, ou liberal, argumenta que, a longo prazo, estas leis trabalhistas prejudicam os trabalhadores porque aumentam o chamado custo Brasil, onerando muito as empresas e gerando a inflação, que corrói o valor real dos salários.

Segundo esta versão, o custo Brasil faz com que as empresas brasileiras contratem menos trabalhadores, aumentem a informalidade e faz que as empresas estrangeiras se tornem receosas de investir no Brasil. Assim, segundo a crítica liberal, as leis trabalhistas gerariam, além da inflação, mais desemprego e subemprego entre os trabalhadores.

Os liberais afirmam também que intervencionismo estatal na economia iniciado por Getúlio só cresceu com o passar dos anos,com a única exceção de Castelo Branco atingindo seu máximo no governo do ex-tenente de 1930 Ernesto Geisel. Somente a partir do Governo de Fernando Collor se começou a fazer o desmonte do Estado intervencionista. Durante sessenta anos, após 1930, todos os ministros da área econômica do governo federal foram favoráveis a intervenção do Estado na economia, exceto Eugênio Gudin por sete meses em 1954, e a dupla Roberto Campos - Octávio Bulhões, por menos de três anos (1964 -1967).

"Trabalhadores do Brasil"[editar | editar código-fonte]

Era com esta frase que Getúlio iniciava seus discursos. Na visão dos apoiadores de Getúlio, ele não ficou só no discurso. A orientação trabalhista de seu governo, que em seu ápice instituiu a CLT e o salário mínimo, marca, para os getulistas, um tempo das mudanças sociais célebres, onde os trabalhadores pareciam estar no centro do cenário político nacional, aplicando o populismo.

Os trabalhadores rurais não foram beneficiados com igualdade pela CLT, tudo por força das oligarquias que existiam e pressionavam o governo.

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Referências

  1. Rainer Souza. A Revolução de 1930: Principais fatos da Revolução de 1930 Brasil Escola. Visitado em 20 de janeiro de 2012.
  2. Educação UOL. Revolução de 1930 - História do Brasil. Visitado em 20 de janeiro de 2012.
  3. CARMO CHAGAS, Política Arte de Minas, Editora Carthago & Forte, São Paulo, (1994)
  4. VARGAS, Getúlio, A nova política do Brasil, Volume 8, José Olympio Editora, 1940,
  5. AMADO, Gilberto, Presença na Política, Livraria José Olympio Editora, 1960.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]