João Cabral de Melo Neto

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João Cabral de Melo Neto Academia Brasileira de Letras
Data de nascimento 9 de janeiro de 1920
Local de nascimento Recife,  Pernambuco
Nacionalidade  brasileiro
Data de morte 9 de outubro de 1999 (79 anos)
Local de morte Rio de Janeiro,  Rio de Janeiro
Ocupação Poeta
Magnum opus Morte e Vida Severina
Influências Stéphane Mallarmé, Paul Valéry, Piet Mondrian, Marianne Moore, Le Corbusier, Charles Baudelaire
Influenciados Joan Brossa, Régis Bonvicino, Carlito Azevedo
Prêmios Prémio Jabuti 1967

Prêmio Camões

João Cabral de Melo Neto GCCGOSE (Recife, 9 de janeiro de 1920Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1999) foi um poeta e diplomata brasileiro. Sua obra poética, que vai de uma tendência surrealista até a poesia popular, porém caracterizada pelo rigor estético, com poemas avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, inaugurou uma nova forma de fazer poesia no Brasil.

Foi agraciado com vários prêmios literários, entre eles o Prêmio Neustadt, tido como o "Nobel Americano", sendo o único brasileiro galardoado com tal distinção.[1] Quando morreu, em 1999, especulava-se que era um forte candidato ao Prêmio Nobel de Literatura.[2]

Irmão do historiador Evaldo Cabral de Melo e primo do poeta Manuel Bandeira e do sociólogo Gilberto Freyre, João Cabral foi amigo do pintor Joan Miró e do poeta Joan Brossa. Foi casado com Stella Maria Barbosa de Oliveira, com quem teve os filhos Rodrigo, Inez, Luiz, Isabel e João. Casou-se em segundas núpcias, em 1986, com a poetisa Marly de Oliveira.

O escritor foi membro da Academia Pernambucana de Letras e da Academia Brasileira de Letras.

Sobre sua obra[editar | editar código-fonte]

Estátua de João Cabral de Melo Neto no Recife.

Na poesia de Cabral percebem-se algumas dualidades antitéticas, trabalhadas com um certo barroquismo e à exaustão. Entre espaço e tempo, entre o dentro e o fora, entre o maciço e o não-maciço, entre o masculino e o feminino, entre o Nordeste desértico e a Andaluzia fértil, ou entre a Caatinga desértica e o úmido Pernambuco. É uma poesia que causa algum estranhamento a quem espera uma poesia emotiva, pois seu trabalho é basicamente cerebral e "sensacionista", buscando uma poesia construtivista e comunicativa, objetiva.

Embora exista uma tendência surrealista em seus poemas, principalmente nos iniciais, como em Pedra do Sono, buscando uma poesia que fosse também expressiva, Melo Neto não precisa recorrer ao pathos ("paixão") para criar uma atmosfera poética, fugindo de qualquer tendência romântica, mas busca uma construção elaborada e pensada da linguagem e do dizer da sua poesia, transformando toda a percepção em imagem de algo concreto e relacionado aos sentidos, principalmente ao do tato, como pode-se perceber bem em Uma faca só lâmina. Neste poema, Cabral apresenta a imagem da faca através da sensação de vazio que a facada deixa na carne, contrastando com a própria faca sólida que a corta.

Algumas palavras são usadas sistematicamente na poesia deste autor: cana, pedra, osso, esqueleto, dente, gume, navalha, faca, foice, lâmina, cortar, esfolado, baía, relógio, seco, mineral, deserto, asséptico, vazio, fome. Coisas sólidas e sensações táteis: uma poesia do concreto.

Pedra do Sono[editar | editar código-fonte]

Primeiro livro de poemas de Melo Neto, Pedra do Sono é uma seleção de poemas com forte teor surrealista. Dentre os temas principais estão a descrição de estados oníricos, "lunares", revelando o interesse do jovem Cabral pelos estados fronteiriços entre o sono e a vigília. Pedra do Sono foi mais tarde criticado pelo próprio Cabral. Abandonando lentamente os elementos imagéticos simbolistas e surrealistas, Cabral várias vezes expressou a importância na poesia de apresentar a imagem, em lugar de sugerir atmosferas. Ora, em Pedra do Sono as atmosferas são importantíssimas. As atmosferas nebulosas, meditativas, muitas das quais em lugares enclausurados não estavam em desconexão com a literatura de seu tempo e de romances anteriores algumas das quais sobreviveram da obra posterior de Cabral, assim como de poemas que buscam pintar o efeito delirante de uma contemplação. Anos mais tarde, Cabral criticará sua tendência nesse livro de pintar atmosferas, em lugar de falar diretamente. Essa tendência continuará em parte em seu segundo livro, Os Três Mal-Amados. Nessa obra Cabral coloca três personagens a falar, cada um representando um estado diverso de apreensão do mundo[3] .

Acusado de Comunista[editar | editar código-fonte]

Em 1952, quando o Partido Comunista do Brasil estava na ilegalidade, João Cabral de Melo Neto foi acusado de criar uma "célula comunista" no Ministério de Relações Exteriores junto com mais quatro diplomatas (Antônio Houaiss, Amaury Banhos Porto de Oliveira, Jatyr de Almeida Rodrigues e Paulo Cotrim Rodrigues Pereira), sendo todos afastados do Itamaraty por Vargas em despacho de 20/03/1953, conseguiram retornar ao serviço em 1954 após recorrerem ao Supremo Tribunal Federal.[4] . Ele é um dos autores que leva o surrealismo a seus poemas, conhecido também como pai, mestre, grande apócrifo da literatura pré moderna.

No Supremo Tribunal Federal, João Cabral de Melo Neto foi defendido pelo advogado José Guimarães Menegale, que afirmou:

“Antes de recapitularmos, para arrematar estas razões, que a gravidade da espécie alongou, consignaremos, afinal, esta afirmação enfática e definitiva: JOÃO CABRAL DE MELO NETO não professa a ideologia comunista. Repele a acusação, não em som de ultraje pessoal, mas por figurar torpeza, com que a vilania dos intrigantes interesseiros o quer enlear, ferir e prejudicar na carreira que abraçou e em que já prestara ao Brasil os serviços de sua viva inteligência, de sua cultura política e artística, de seu singelo e fecundo patriotismo. Nem por atos anteriores à punição, nem por manifestação subsequentes poderão inquiná-lo de tal”.[5] .

Academia Brasileira de Letras[editar | editar código-fonte]

Foi eleito membro da academia em 15 de agosto de 1968, e empossado em 6 de maio de 1969, recebido por Múcio Leão. Ocupou a cadeira 37, antes ocupada pelo jornalista Assis Chateaubriand com uma importância grande na Literatura Brasileira.

Obras[editar | editar código-fonte]

Prêmios e Condecorações[editar | editar código-fonte]

Curiosidades[editar | editar código-fonte]

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  • Estranhamente, João Cabral escreveu um poema sobre a Aspirina, que tomava regularmente, chamando-a de "Sol", de "Luz"… De fato, desde sua juventude João Cabral tomava de três a dez aspirinas por dia. Em entrevista à "TV Cultura", certa vez, ele contava que boa parte da inspiração (inspiração sempre cerebral) provinha da aspirina, que a aspirina o salvava da nulidade![7] .
  • João Cabral de Melo Neto não compareceu a nenhuma reunião da Academia Pernambucana de Letras como acadêmico, nem mesmo a sua posse.[8]

Referências

  1. Mia Couto distinguido com prémio internacional de literatura Neustadt Público.pt. Visitado em 18 de março de 2015.
  2. "Reportagem sobre João Cabral de Melo Neto." O Estado de S. Paulo, São Paulo, 10 de outubro de 1999.
  3. PEREIRA, Lawrence Flores. A pedra do sono de Cabral de M. Neto: o imaginário onírico e o feminino inquietante. Nonada: Letras em Revista, Porto Alegre: UniRitter, n. 7, p. 23-31, 2004.
  4. KOIFMAN, Fábio. Transgressões no Itamaraty. Folha de S.Paulo, Caderno Ilustríssima, 15 de setembro de 2013. Disponível em: Folha de S.Paulo. Acesso em 9 de maio de 2014.
  5. GODOY, Arnaldo. Direito e Literatura: O poeta João Cabral de Melo Neto no Supremo Tribunal Federal - O Mandato de segurança Nº 2264. Disponível em: Site de Arnaldo Godoy. Acesso em 9 de maio de 2014.
  6. a b Cidadãos Estrangeiros Agraciados com Ordens Portuguesas Presidência da República Portuguesa. Visitado em 2015-02-17. "Resultado da busca de "João Cabral de Melo Neto"."
  7. Documentário "João Cabral - Poesia da Pedra" (TV Cultura — TV Escola). Num monumento à aspirina.
  8. PARAÍSO, Rostand. Academia Pernambucana de Letras. Sua história. Recife: APL, 2006.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Wikiquote
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Precedido por
Assis Chateaubriand
Lorbeerkranz.png ABL - quinto acadêmico da cadeira 37
1968 — 1999
Sucedido por
Ivan Junqueira
Precedido por
Miguel Torga
Prêmio Camões
1990
Sucedido por
José Craveirinha