Nacionalismo

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O nacionalismo é uma tese, ideológica, surgida após a Revolução Francesa[1] . Em sentido estrito, seria um sentimento de valorização marcado pela aproximação e identificação com uma nação.

Segundo Bresser Pereira, o nacionalismo é a ideologia fundamental da terceira fase da história da humanidade, a fase industrial,[2] quando os estados nacionais se tornam a forma de organização político-cultural que substitui o império[2] .

Costuma diferenciar-se do patriotismo devido à sua definição mais estreita. O patriotismo é considerado mais uma manifestação de amor aos símbolos do Estado, como o Hino, a Bandeira, suas instituições ou representantes. Já o nacionalismo apresenta uma definição política sobretudo da preservação da nação enquanto entidade, por vezes na defesa de território delineado por fronteiras terrestres, mas, acima de tudo nos campos linguístico, cultural, etc., contra processos de destruição identitária ou transformação. O historiador Lord Acton, afirma que o patriotismo prende-se com os deveres morais que temos para com a comunidade política, enquanto que o nacionalismo está mais ligado à etnia.[3] [4]

História[editar | editar código-fonte]

São vários os movimentos dentro do espectro político-ideológico que se apropriam do nacionalismo, ora, como elemento programático, ora como forma de propaganda. Nomeadamente, nos finais do século XIX, em Portugal contra o Iberismo. Já durante o século XX, o nacionalismo permeou movimentos radicais como o fascismo, o nacional-socialismo na Alemanha, o saudosismo e o integralismo no Brasil e em Portugal, especialmente durante o (Estado Novo no Brasil e Estado Novo em Portugal).

O nacionalismo é uma ideologia que se pode dizer moderna com antecedentes antigos, com uma definição maior das fronteiras das nações em países: surgiu numa Europa pré-moderna e pós-medieval, a partir da superação da produção e consumo feudais pelo mercado capitalista, com a submissão dos feudos aos estados modernos (ainda absolutistas ou já liberais), com as reformas religiosas protestantes e a contrarreforma católica – fatos históricos estes que permitiram, ou até mais, que produziram o surgimento de culturas diferenciadas por toda a Europa, culturas que, antes, eram conformadas, deformadas e formatadas pelo cristianismo católico, com o apoio da nobreza feudal.

Surgiu como uma ideologia popular revolucionária, pois foi contrária ao domínio imperialista político-cultural do cristianismo católico que se apoiava nos nobres feudais e ajudava a sustentar a superada, limitada e limitante economia feudal, mas também como uma ideologia burguesa, pois as massas camponesas e o pequeno proletariado que também surgia passavam do domínio da nobreza feudal para o da burguesia industrial – e a ideologia dominante em uma sociedade é a ideologia das classes dominantes.

Após a definitiva vitória político-cultural dos burgueses sobre a nobreza feudal – a qual foi submetida pela destruição ou pela absorção pela cultura e pela política burguesa – foi parcial e progressivamente deixado para trás, como uma ideologia que teria sido importante, mas que já não seria mais do que uma lembrança histórica.

O nacionalismo ressurge nas colônias europeias do Novo Mundo, nas Américas, e principalmente na América Latina, antes mesmo do surgimento da ideologia comunista européia, como um renovado nacionalismo, um "nacionalismo revolucionário" já com alguns elementos socializantes; Simón Bolívar foi o líder maior desse nacionalismo revolucionário latino-americano, ao lado de figuras como Tupac Amaru, San Martín e José Artigas.

Ressurge na Europa, pouco antes do surgimento da ideologia comunista, como um outro nacionalismo, como um nacionalismo revolucionário socializante, ou até mesmo socialista, e anti-imperialista, contrário ao imperialismo europeu, o qual, além de explorar as colônias americanas, asiáticas e africanas, explorava ainda as nações europeias mais pobres; Giuseppe Mazzini foi o líder maior desse nacionalismo revolucionário na Europa.

O nacionalismo revolucionário europeu, como uma ideologia anti-imperialista, também influenciou o pensamento dos latino-americanos que souberam apreender dos europeus aquilo que fosse interessante e útil, desenvolvendo, no Novo Mundo, uma prática e uma luta anticolonialista, a qual se traduziu na ação e no discurso de homens como Tiradentes, San Martín e Giuseppe Garibaldi.

O nacionalismo revolucionário latino-americano, numa inversão do colonialismo cultural, também influenciou a luta anti-imperialista na Europa: as colônias latino-americanas muito ensinaram às nações mais pobres da Europa. Giuseppe Garibaldi e sua mulher, a brasileira Anita Garibaldi, são considerados revolucionários e heróis tanto no Novo quanto do Velho Mundo – que continuaram (e venceram) a luta antes comandada por Giuseppe Mazzini.

Os diversos nacionalismos[editar | editar código-fonte]

Mural nacionalista irlandês em Belfast, mostrando solidariedade com o nacionalismo basco. Pode-se apreciar ali, também, um mapa de Euskal Herria.

Ainda que frequentemente assente sobre um ponto de vista etnocêntrico, o nacionalismo não implica necessariamente a crença na superioridade de uma etnia em detrimento de outras. Algumas correntes nacionalistas, entretanto, defendem o protecionismo étnico ou mesmo uma supremacia étnica. [5]

Certos movimentos nacionalistas possuem caráter excludente e, ao definir a comunidade nacional em termos étnicos, linguísticos, culturais, históricos ou religiosos (ou uma combinação destes), podem considerar determinadas minorias como não sendo verdadeiramente uma parte da "nação".

Não raro, uma pátria mítica ou um mito fundador é mais importante para a identidade nacional do que o território ocupado pela nação.[6]

Nacionalismo étnico[editar | editar código-fonte]

Uma das mais recorrentes formas de nacionalismo percebidas na história humana é o nacionalismo étnico ou etnonacionalismo. Ora imbuída de sentimentos nativistas, ora carregada de anseios irredentistas, esta forma de nacionalismo tem raízes muito antigas que remontam à formação dos primeiros Estados-nação, tendo sido estudada já no século XVIII pelo filósofo alemão Johann Gottfried von Herder.

Baseado na presunção de uma identidade comum partilhada por todos os membros de uma mesma etnia, falantes de uma mesma língua, professantes de uma mesma ou participantes de uma mesma cultura, o nacionalismo étnico costuma dar vazão a anseios coletivos irredentistas e, em casos extremos, a revanchismos internacionais.

Na história recente, o nacionalismo étnico flertou com ideias etnocêntricas e conceitos de pureza nacional, tendo alimentado conflitos armados, políticas de limpeza étnica, migrações forçadas, deslocamentos e transferências populacionais. O nazismo, ideologia formulada por Adolf Hitler e adotada na Alemanha, de 1933 a 1945, é uma forma de nacionalismo étnico. Da mesma forma, o sionismo tem sido referido como um nacionalismo étnico e religioso.[7] [8] [9]

Nacionalismo cívico[editar | editar código-fonte]

O nacionalismo cívico (também conhecido como nacionalismo liberal) define a nação como uma associação de pessoas que se identificam como pertencentes à nação, que têm direitos políticos iguais e compartilhados, e fidelidade a procedimentos políticos semelhantes.[10] De acordo com os princípios do nacionalismo cívico, a nação não se baseia em uma ascendência étnica comum, mas é uma entidade política cujo núcleo de identidade não é étnico. Esse conceito cívico de nacionalismo é exemplificado por Ernest Renan em sua palestra de 1882 "O que é uma Nação?", onde ele definiu a nação como um "referendo diário" (freqüentemente traduzido como "plebiscito diário") dependente da vontade de seu povo para continuarem a viver juntos".[10]

A Liberdade Guiando o Povo (Eugène Delacroix, 1830) é um exemplo famoso de arte nacionalista.

Nacionalismo de esquerda[editar | editar código-fonte]

O nacionalismo de esquerda (às vezes conhecido como nacionalismo socialista, para não ser confundido com o nacional-socialismo)[11] refere-se a qualquer movimento político que combine políticas de esquerda com o nacionalismo.

Muitos movimentos nacionalistas são dedicados à libertação nacional, baseados na visão de que suas nações estão sendo perseguidas por outras nações e, portanto, necessitam exercer a autodeterminação liberando-se eles próprios dos supostos perseguidores. O marxismo-leninismo antirrevisionista está intimamente ligado com esta ideologia.

Exemplos práticos incluem o trabalho inicial de Stalin, O marxismo e a questão nacional, e seu edital Socialismo num só país, que declara que o nacionalismo pode ser usado em um contexto internacionalista, lutando pela libertação nacional, sem divisões raciais ou religiosas. Outros exemplos de nacionalismo de esquerda incluem o Movimento 26 de Julho de Fidel Castro, que lançou a Revolução Cubana e expulsou Fulgencio Batista, apoiado pelos norte-americanos, em 1959, o Sinn Féin da Irlanda, o Plaid Cymru de País de Gales, o Partido Nacional Escocês da Escócia, o Partido Nacionalista Awami de Bangladesh e o Congresso Nacional Africano na África do Sul.

Nacionalismo territorial[editar | editar código-fonte]

Bordão nacionalista usado pelo governo militar do Brasil, nos anos 1970.

Os nacionalistas territoriais assumem que todos os habitantes de uma nação em particular devem lealdade ao seu país de nascimento ou adoção.[12] Uma qualidade sagrada é procurada no país e nas memórias populares que ela evoca.[13] A cidadania é idealizada pelos nacionalistas territoriais.[13] Um critério do nacionalismo territorial é o estabelecimento de uma cultura pública de massa baseada em valores comuns e tradições da população.[13]

Ultranacionalismo[editar | editar código-fonte]

O ultranacionalismo é um nacionalismo fervoroso que expressa o seu apoio extremista pelos ideais nacionalistas de alguém. Muitas vezes, é caracterizado pelo autoritarismo, esforços para a redução ou proibição da imigração, expulsão e opressão de populações não-nativas dentro da nação ou de seu território, liderança demagógica, emocionalismo, bodes expiatório em crises socioeconômicas, discurso de fomento de inimigos reais ou imaginários, previsão de ameaças à sobrevivência nacional, etnicidade nacional dominante ou idealizada ou grupo populacional, esforços para limitar o comércio internacional por meio de tarifas, controle rígido sobre as empresas e a produção, militarismo, populismo e propaganda.

O ultranacionalismo prevalente normalmente conduz ou é o resultado de um conflito que ocorre dentro do Estado, ou entre Estados, e é identificado como uma condição de pré-guerra na política nacional. Em suas formas extremistas, o ultranacionalismo é caracterizado como uma chamada para a guerra contra os inimigos da nação/estado, secessão ou, no caso de ultranacionalismo etnocêntrico, genocídio.[14] [15]

O fascismo é uma forma de ultranacionalismo palingenético[16] , que promove a "colaboração entre classes" (em oposição à luta de classes), um estado totalitário e o irredentismo ou expansionismo para unificar e permitir o crescimento de uma nação. Os fascistas, por vezes, defendem o nacionalismo étnico ou cultural. O fascismo salienta a subserviência do indivíduo ao Estado e a lealdade absoluta e inquestionável a um governante rígido.[17]

Nacionalismo anticolonial[editar | editar código-fonte]

Esta forma de nacionalismo surgiu durante a descolonização do período pós-guerra. Foi uma reação, principalmente na África e na Ásia, contra a subjugação por potências estrangeiras. Este tipo de nacionalismo tomou muitas formas, incluindo o movimento de resistência pacífica, liderado por Mahatma Gandhi, no subcontinente indiano.[18]

Segundo Benedict Anderson, o nacionalismo anticolonial se baseia na experiência de intelectuais indígenas - alfabetizados e fluentes na língua da metrópole, educados segundo sua história "nacional" - e do quadro de pessoal administrativo da colônia (exceto os seus níveis mais elevados). Os governos nacionais pós-coloniais têm sido essencialmente versões indígenas da anterior administração imperial.[19]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Nacionalismo. In Infopédia, Porto: Porto Editora, 2003-2012 (Consult. 2012-07-25).
  2. a b BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Nacionalismo no Centro e na Periferia do Capitalismo. São Paulo: Revista Estudos Avançados, 22 62, janeiro-abril 2008 pp.177-178, no dossiê Nação e Nacionalismo. Instituto de Estudos Avançados da USP.
  3. Samuel de Paiva Pires, «Do patriotismo e da nação portuguesa». Diário Digital.
  4. Patriotism, Stanford Encyclopedia of Philosophy, (Acton 1972, 163)
  5. Bar-Haim, Yair; Yair Bar-Haim, Talee Ziv, Dominique Lamy, Richard M. Hodes. (2008). "Nature and Nurture in Own-Race Face Processing". Psychological Science 17 (2): 159–163. DOI:10.1111/j.1467-9280.2006.01679.x. PMID 16466424.
  6. Smith, Anthony D. 1986. The Ethnic Origins of Nations London: Basil Blackwell. pp 6–18. ISBN 0-631-15205-9.
  7. Nacionalismo, sionismo e anti-semitismo - a propósito de "Em disparada rumo a Belém", de Perry Anderson, por Paul Singer
  8. A Sociologia israelense e a crise do consenso sionista, por José Maurício Domingues.
  9. Sionismo y separación étnica en Palestina durante el Mandato Británico: la defensa del trabajo judío, por Ferran Izquierdo Brichs.
  10. a b Nash, Kate. The Blackwell companion to political sociology. [S.l.]: Wiley-Blackwell. p. 391. ISBN 0631210504
  11. Political Science, Volume 35, Issue 2; Class and Nation: Problems of Socialist Nationalism
  12. Middle East and North Africa: Challenge to Western Security by Peter Duignan and L.H. Gann, Hoover Institution Press, 1981, ISBN 978-0817973926 (page 22)
  13. a b c Encyclopaedia of Nationalism by Athena S. Leoussi and Anthony D. Smith, Transaction Publishers, 2001, ISBN 978-0765800022, (page 62)
  14. Nationalism and War. Nationalism: Origins and Historical Evolution. Por Carl K. Savich. Serbianna, 14 de junho de 2003.
  15. Connor, Walker. Ethnonationalism: The Quest for Understanding. Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1994. p. 29. ISBN 9780691025636
  16. Griffin, Roger. (1994). "Staging The Nation's Rebirth: The Politics and Aesthetics of Performance in the Context of Fascist Studies".
  17. Roger Griffin, Fascism, Oxford University Press, 1995, ISBN 978-0192892492.
  18. Grant, Moyra. Politics Review Moyra Grant is an experienced politics teacher, examiner and author. Politics Review. Visitado em 16 de abril de 2011.
  19. Anderson, Benedict. Imagined Communities: Reflections on the Origin and Spread of Nationalism. New York: Verso, 1983. 37–46 p. ISBN 978-0860915461

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Azurmendi, Joxe. Historia, arraza, nazioa. Donostia: Elkar, 2014. ISBN 978-84-9027-297-8
  • GELLNER, E. Nations and Nationalism. Ithaca: Cornell University Press, 1983
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