Guerra dos Sete Anos

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Guerra dos Sete Anos
Schlacht-Kolin-1.jpg
Batalha de Kolin
Data 17561763
Local Europa, África, Índia, América do Norte, Filipinas
Desfecho Tratado de Paris
Combatentes
Flag of Prussia 1892-1918.svg Reino da Prússia
Union flag 1606 (Kings Colors).svg Reino da Grã-Bretanha
Flag of Hanover (1692).svg Reino de Hanôver
Flag Portugal (1707).svg Reino de Portugal
Wappen Braunschweig.svg Braunschweig
Flag of Hesse (state).svg Hesse-Cassel
Pavillon royal de France.svg Reino da França
Flag of the Habsburg Monarchy.svg Áustria
Flag of Russia.svg Império Russo
Flag of Sweden.svg Reino da Suécia
Flag of Cross of Burgundy.svg Reino da Espanha
Flag of Saxony (state).svg Saxônia
Flag of the Kingdom of the Two Sicilies 1816.gif Reino das Duas Sicílias
Sardegna1730(TZ).jpg Reino da Sardenha

A Guerra dos Sete Anos foi uma série de conflitos internacionais que ocorreram entre 1756 e 1763, durante o reinado de Luís XV, entre a França, a Áustria e seus aliados (Saxônia, Rússia, Suécia e Espanha), de um lado, e a Inglaterra, Portugal, a Prússia e Hanôver, de outro. Vários fatores desencadearam a guerra: a preocupação das potências europeias com o crescente prestígio e poderio de Frederico II, o Grande, Rei da Prússia; as disputas entre a Áustria e a Prússia pela posse da Silésia, província oriental alemã, que passara ao domínio prussiano em 1742 durante a guerra de sucessão austríaca; e a disputa entre a Grã-Bretanha e a França pelo controle comercial e marítimo das colônias das Índias e da América do Norte. Também foi motivada pela disputa por territórios situados na África, Ásia e América do Norte.

A fase norte-americana foi denominada Guerra Franco-Indígena (ou Guerra Francesa e Indígena), e participaram a Inglaterra e suas colônias norte-americanas contra a França e seus aliados algonquinos. A fase asiática iniciou o domínio britânico nas Índias.

Foi o primeiro conflito a ter carácter mundial, e o seu resultado é muitas vezes apontado como o ponto fulcral que deu origem à inauguração da era moderna. A Guerra foi precedida por uma reformulação do sistema de alianças entre as principais potências europeias, a chamada Revolução Diplomática de 1756, e caracterizou-se pelas sucessivas derrotas francesas na Alemanha (Rossbach), no Canadá (queda de Québec e Montreal) e na Índia. O conflito terminou com a vitória da Inglaterra e seus aliados.

Principais batalhas[editar | editar código-fonte]

Memorial da Guerra dos Sete Anos em Krefeld (Renânia do Norte-Vestfália).

As principais batalhas em território europeu foram:

Motivos da guerra[editar | editar código-fonte]

Rota da Expedição de Braddock.

A guerra deu continuidade a disputas não apaziguadas pelo Tratado de Aquisgrão (1748) e tinha relação com a rivalidade colonial e econômica anglo-francesa, e com a luta pela supremacia nos Estados Alemães entre a Áustria e a Prússia. A guerra prosseguiu na América do Norte, com a expedição de Braddock, que entre 1695 e 1755 comandou as forças britânicas contra os franceses e indígenas.[1] Cada facção estava insatisfeita com seus antigos aliados. A Inglaterra tomou a iniciativa quando capturou trezentos navios franceses sem declarar guerra, e em seguida, com o Acordo de Westminster (1756), pelo qual estabelece uma aliança militar com Frederico II da Prússia para defender Hanôver de um possível ataque francês.

A França, por sua vez, com os dois Tratados de Versalhes (1756 e 1757) obtém a promessa de aliança de Maria Teresa da Áustria e de seu ministro Kaunitz. Maria Teresa também se aliou com Isabel da Rússia.

Desenrolar da guerra[editar | editar código-fonte]

Operações do exército russo partindo do território polonês.

Ao longo dos sete anos, 1756-1763, as grandes potências europeias levam a guerra às suas possessões em todo o mundo. Enquanto nas colônias americanas e da Índia os sucessos pertencem aos Ingleses, e apesar da tentativa do "Pacto de Família" com os Bourbons da Espanha, na Europa, numa fase inicial, a aliança franco-austríaca é bem sucedida, contando com a ajuda dos príncipes alsacianos, da Suécia e da Rússia.

A guerra na Europa teve início no verão de 1756, quando Frederico II da Prússia resolveu, preventivamente, atacar a Saxônia, estado do Sacro Império Germânico aliado da Áustria de Maria Teresa, e ocupar a capital, Dresda. Em poucas semanas ele logrou capturar a totalidade do exército saxônico (18 mil homens) em Pirna. Adiantava-se, assim, ao iminente ataque preparado contra a Prússia pela coalizão formada pela Áustria, Rússia, Suécia, Saxônia e França.

Embora tivesse o melhor exército da Europa, a situação estratégica da Prússia era preocupante. A Prússia, como um todo, estava ameaçada ao norte pela Suécia (que dispunha de um exército pequeno) e pela Áustria ao sul. A oeste, um punhado de príncipes alemães, fiéis a Maria Teresa, formara um exército contrário a Frederico e que viria a operar na Saxônia. A noroeste, o Hanôver, apoiado por tropas britânicas, oferecia uma ilusória proteção aos prussianos. A leste, a neutra Polônia era uma nação permeável às tropas russas que, em um primeiro momento, estavam interessadas em ocupar a Prússia Oriental.

Operações da Guerra dos Sete Anos em 1756.

Durante o ano de 1756, as tropas prussianas conquistaram uma série de vitórias. Frederico II invadiu a Boêmia e, em 6 de maio de 1757, bateu os austríacos na disputada batalha de Praga. Mas no dia 18 de junho Frederico acabou sendo derrotado pelo marechal austríaco Daun em Kolin, o que o obrigou a abandonar a Boêmia. A Prússia, a partir de então, foi obrigada a enfrentar uma guerra defensiva em três frentes: a Suécia atacou a Pomerânia; as tropas russas invadiram a região oriental do território prussiano, obtendo uma importante vitória; a França penetrou na Prússia ocidental e os austríacos marcharam sobre a Silésia.

Apesar da inferioridade do exército de Frederico ante as tropas inimigas, o rei obteve duas grandes vitórias em 1757: em 5 de novembro infligiu uma esmagadora derrota a um exército franco-germânico em Rossbach e, em 5 de dezembro, esmagou os austríacos em Leuthen, na Silésia, salvando a Prússia de uma invasão.

Frederico foi muito pressionado em 1758, mas derrotou, em Zorndorf, as tropas russas, que ameaçavam Berlim, e fez com que recuassem para Landsberg e Königsberg. Ferdinando de Brunsvique protegeu seu flanco ocidental com um exército anglo-hanoveriano. Na batalha de Hochkirch, no entanto, o inesperado ataque dos austríacos obrigou o rei prussiano a recuar até Dresda. Em agosto de 1759, Frederico sofreria a sua mais terrível derrota, em Kunersdorf, ao atacar uma força austro-russa reunida a leste do rio Oder. Apenas o desentendimento entre as tropas austríacas e russas e a logística podem explicar a salvação de Berlim naquele ano.

Em situação precária, o rei recuperou sua capacidade ofensiva graças a um novo tratado com a Inglaterra, que lhe forneceu a ajuda financeira necessária ao prosseguimento da guerra. Em 1760 as tropas prussianas iniciaram seu avanço em direção à Silésia, onde venceram os russos e os austríacos. As forças militares do monarca prussiano, embora prodigiosas, começavam a mostrar sinais de esgotamento. Nesse mesmo ano seria travado o último grande combate de Frederico II: a batalha de Torgau, em que prussianos e austríacos sofreram pesadas baixas.

Ocorreu então o que é chamado pelos historiadores austríacos de o "milagre da Casa de Brandemburgo": com a morte da czarina Isabel, em 1762, subiu ao trono russo seu sobrinho, Pedro III, que nutria grande admiração por Frederico e pela Prússia. Rompeu-se assim a coalizão antiprussiana. O novo czar não apenas reverteu sua política e assinou um armistício com Frederico II (deixando o rei livre da frente oriental), como também atuou como mediador entre prussianos e suecos. Pôs seu exército à disposição do rei e se juntou aos prussianos para expulsar os austríacos da Silésia. Pedro III foi assassinado meses depois de subir ao trono, mas sua viúva e sucessora, Catarina II, a Grande, manteve a paz com a Prússia.

Sem o apoio do Exército russo, os austríacos foram derrotados em Burkersdorf e Freiberg.

Operações nas colônias[editar | editar código-fonte]

Participantes da Guerra dos Sete Anos.
  Reino Unido, Prússia, Portugal, com aliados
  França, Espanha, Áustria, Rússia, Suécia, com aliados

Paralelamente aos conflitos nos campos de batalha da região central da Europa, os combates travados entre a Inglaterra e a França pela posse das colônias da América do Norte e das Índias estenderam-se às Índias Ocidentais, oeste da África, Mediterrâneo, Canadá e Caribe.

A ocupação da ilha de Minorca, então possessão inglesa, pelos franceses, em 1756, provocou o bloqueio inglês às costas da França em Toulon e Brest, o que deixou indefeso o Canadá francês diante dos ataques lançados pelos ingleses às colônias ao sul do rio São Lourenço.

Em julho de 1757, o primeiro-ministro Pitt, o Velho, subiu ao poder na Inglaterra e conduziu a guerra com habilidade e vigor. Enquanto a França via-se limitada pelos seus compromissos continentais, a Grã-Bretanha tomava o controle do Atlântico e isolava as forças francesas na América do Norte. Precisando de reforços, Louisbourg caiu em 1758. O ano de 1759 foi de vitórias britânicas - Wolfe capturou Québec, Ferdinando derrotou o exército francês em Minden e Hawke destruiu a frota francesa na baía de Quiberon. Com a tomada de Montreal, em 1760, depois das vitórias navais britânicas da Baía de Quiberon e Lagos, todas as possessões francesas no Canadá passaram às mãos dos ingleses, que conquistaram ainda alguns portos do Mediterrâneo.

Na Índia, Clive havia conseguido o controle de Bengala em Plassey. Os franceses se renderam nas Índias em 1761. O almirante Boscawen atacou com sucesso as Índias Ocidentais francesas. Em 1761, a Espanha entrou na guerra e Pitt renunciou. A França assinara com a Espanha o chamado "pacto de família", o que provocou a invasão de Cuba pela Inglaterra e a ocupação de Manila, nas Índias Ocidentais. Até o ano de 1763, os britânicos controlavam a Havana espanhola e todas as ilhas francesas, com exceção de Santo Domingo.

Em meados do século XVIII o relacionamento saudável entre a Inglaterra e as 13 colônias foi modificado devido a dois fatores paralelos:

A paz[editar | editar código-fonte]

"Um novo mapa da América do Norte", produzido após o Tratado de Paris

Todos estavam dispostos a um acordo de paz. No cômputo global do conflito, a Inglaterra e a Prússia foram as grandes vitoriosas.

Em 1762, o Tratado de São Petersburgo devolveu a Pomerânia à Prússia, antigo território Germânico, tomado pelos Suecos na Guerra dos Trinta Anos. Pelo Tratado de Paris, firmado em 1763, franceses, austríacos e ingleses assinarem a paz. No acordo firmado, os ingleses ganham o Canadá e parte da Louisiana, Flórida (que foi cedida pela Espanha), algumas ilhas das Antilhas (São Vicente e Granadinas, Tobago, Granada, São Luís, e feitorias costeiras do Senegal, na África, além de ter de reconhecer todas as conquistas inglesas nas Índias Ocidentais. A favor de Espanha, para compensá-la dos prejuízos advindos da guerra, a França cedeu o resto da Louisiana e Nova Orleans. Os franceses perdiam também toda a influência na Índia.

Finalmente, em 15 de fevereiro de 1763, foi firmada a paz definitiva em Hubertusburgo. Pelo Tratado de Hubertsburg, a Áustria renunciou definitivamente à Silésia e a cedeu à Prússia, enquanto a Polônia era dividida pela primeira vez, ocupada pela Prússia, Rússia e Áustria.

A Prússia se afirma como concorrente da Áustria na liderança dos estados alemães, lançando as bases do futuro Império Alemão. As importantes vitórias inglesas sobre a França, solidificadas no Tratado de Paris, lançam as bases do futuro Império Colonial Britânico.

No Brasil houve repercussão dessa luta. Portugal não aderiu ao "pacto de família", o que motivou o ataque dos espanhóis do rio da Prata ao sul do Brasil. O Tratado de Santo Ildefonso, assinado em 1777, encerrou o conflito: a Espanha tomou posse da Colônia do Sacramento e de grande parte do atual território do Rio Grande do Sul, enquanto Portugal recuperava a ilha de Santa Catarina.[2]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. A Batalha de Monongahela (1755). Visitado em 2013-08-04.
  2. Dias, Manuel Augusto [Portugal na Guerra dos Sete Anos] no Jornal A Voz de Ermesinde, edição de 30-03-2012
  • Marston, Daniel. The Seven Years' War: Essential Histories. Oxford, UK: Osprey, 2001.
  • Szabo, Franz A.J. The Seven Years' War in Europe 1756–1763. Longman, 2007.