Civilização Brasileira

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Civilização Brasileira
Slogan "Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê".
Tipo Editora
Fundação 1929
Fundador(es) Getúlio M. Costa
Ribeiro Couto
Gustavo Barroso
Sede Rio de Janeiro
Pessoas-chave Ênio Silveira
Produtos Livros
Sítio oficial Civilização Brasileira

Civilização Brasileira foi uma editora brasileira, que atualmente faz parte do Grupo Editorial Record. Sua história esteve ligada à vida de Ênio Silveira.

Histórico[editar | editar código-fonte]

Fundada por Getúlio M. Costa, Ribeiro Couto e Gustavo Barroso em 1929, a Editora Civilização Brasileira tinha na época poucos títulos, e em 1932 foi adquirida por Octalles Marcondes Ferreira[1] , passando a fazer parte da Companhia Editora Nacional. Seu sinete editorial, porém, era utilizado pela Nacional apenas para livros não-didáticos e ficção, com poucos títulos. Em 1953, por exemplo, tinha uns 10 títulos[2] e entre eles a reimpressão do eterno sucesso “Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa”, de Hildebrando Mateus de Lima e Gustavo Barroso, que alcançara sua 9ª edição em 1951.

Casado com a filha de Octalles, Ênio Silveira assumiu em parte a Civilização Brasileira, e a incrementou, sendo que, no final da década de 50, tornara-se já uma das principais editoras do país. Em 1963, Ênio Silveira assumiu o controle total da Civilização Brasileira[3] e, no ano seguinte, seu catálogo era igual ao da Companhia Editora Nacional, acrescentado de 46 novos títulos. Ênio Silveira tinha particular entusiasmo em estimular autores brasileiros. Em 1956, publicou “O Encontro Marcado” de Fernando Sabino, iniciando a coleção “Vera Cruz” de literatura brasileira. A Civilização acabou se tornando o canal mais importante para a moderna literatura brasileira nos anos 60[4] , além de se dedicar às traduções, tanto dos países europeus, quanto dos estadunidenses, japoneses e latino-americanos. A Civilização Brasileira encomendou uma tradução de Ulisses, de James Joyce, que foi confiada a Antônio Houaiss, em 1966, e adquiriu em 1959 os direitos brasileiros de Lolita, de Nabokov, então desconhecido no Brasil. Alguns anos depois publicou a tradução de The Devil’s Advocade (O Advogado do Diabo), de Morris West, que chegou a vender um livro por minuto no correr do semestre[5] , porém errou ao recusar a publicação de The Catcher in the Rye (O Apanhador no Campo de Centeio), por achá-lo difícil demais para o público e que se tornaria um recorde de vendas.

Nos anos 60, a Civilização iniciou a coleção “Retratos do Brasil”, com alguns títulos sobre a formação do Partido Comunista Brasileiro. Sua publicações esquerdistas cada vez mais eram reprovadas por Octalles Marcondes Ferreira, e foi-lhe oferecido a oportunidade de ficar com a maioria das ações da Civilização, terminando assim o controle da Civilização Brasileira pela Companhia Editora Nacional[6] . Ênio renovou completamente, então, a imagem da editora, contratando Eugênio Hirsch como seu principal produtor, iniciando uma revolução que se estendeu a toda a indústria editorial brasileira, de modo que a moderna edição no país traz elementos que começaram na Civilização Brasileira.

Após o Golpe Militar de 1964, muitos livros foram confiscados nas livrarias e na editora, por falarem de comunismo, ou porque o autor fosse persona non grata do regime[7] , ou por serem tradução do russo, ou apenas porque tinham capas vermelhas. A marca Civilização Brasileira estava entre as visadas pelo regime. A própria casa de Ênio foi invadida pela polícia em busca de livros proibidos.

Em março de 1965, Ênio Silveira lançou a Revista Civilização Brasileira, que teve 21 números e acabou em 1968. Em seu 2º número, a revista chegou a atingir 20.000 exemplares.

Em outubro de 1965, Ênio foi obrigado, por pressões do governo de Humberto de Alencar Castelo Branco, a deixar a diretoria da revista e da editora, para evitar que houvesse uma ação oficial direta contra elas[8] . Na ocasião, ele já fora preso 3 vezes. Em 1966, impetrou um mandado de segurança contra o Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP), publicado em sua Revista.

No governo de Costa e Silva, os bancos foram pressionados para não concederem facilidades de crédito à Civilização Brasileira, causando uma queda na produção da editora[9] . Com o Ato Institucional nº 5, houve 200 detenções, incluindo Ênio e vários autores.

Em maio de 1970, Ênio foi novamente preso, por publicar, 5 anos antes, “Brasil – Guerra Quente na América Latina”, de João Maia Neto. Em outubro de 1970 voltou a ser preso, até 10 de novembro, e centenas de livros foram confiscados em sua livraria. Pouco depois, houve um misterioso incêndio nos escritórios centrais da editora. Em 1972, Ênio conseguiu ser absolvido do processo da “Guerra Quente”, mas abriu mão da devolução de 2000 exemplares retidos pela polícia à espera do veredito. Com a venda da Companhia Editora Nacional ao BNDES, em que a esposa de Ênio, filha de Octalles, era herdeira, em 1975, a civilização Brasileira acabou se beneficiando financeiramente.

Em 1976, houve uma incrementação da possibilidade de mandar livros pelo correio, e 5% das vendas da Civilização passaram a ser dessa forma. Em 1978, Ênio lançou a revista “Encontros com a Civilização Brasileira”, inclusive com o mesmo editor da Revista Civilização Brasileira, Moacyr Félix. O processo de abertura política, porém só teve início com o presidente João Batista Figueiredo, em março de 1979.

Em 1982, Ênio aceitou uma oferta operacional da DIFEL, empresa estrangeira, para colaborar com sua firma. Paralelamente, o Banco Pinto de Magalhães, de capital português, e uma pessoa jurídica portuguesa, o major Batista da Silva, adquiriram 90% do capital da Civilização Brasileira, e Ênio ficou com 10%. Em março de 1984, formalizou-se a transferência da matriz da Civilização para São Paulo, mantendo-se uma filial no Rio de Janeiro[10] .

Ênio da Silveira faleceu em 1996. Atualmente, a Civilização Brasileira faz parte do Grupo Editorial Record.

Coleções[editar | editar código-fonte]

  • Os Documentos do Nosso Tempo
  • Retratos do Brasil

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

  1. HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: EdUSP, 2005, p. 445, acesso on line O Livro no Brasil: sua história
  2. Hallewell, p. 446
  3. Hallewell, p. 447
  4. Hallewell, p. 447
  5. Hallewell, p. 448
  6. Hallewell, p. 454
  7. Hallewell, p. 483
  8. Hallewell, p. 486
  9. Hallewell, p. 489
  10. Hallewell, p. 509

Referências bibliográficas[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]