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Concelhos
Alfândega da Fé
Web Site da Câmara Municipal
www.cm-alfandegadafe.pt
Alfândega (da Fé) é um
nome de origem árabe que a localidade deve ter adquirido entre os séculos
VIII IX. É muito possível que anteriormente a este período já existisse
algum povoado de origem Castreja, o que não será de admirar, até porque na
área do concelho existem muitos vestígios arqueológicos desse e até de
períodos anteriores. No entanto, a transformação em concelho medieval só
aconteceu com a carta de foral de D. Dinis, datada a 8 de Maio de 1294, o
qual viria a ser confirmado por D. Manuel, em 1510. Em 1320 o mesmo rei D.
Dinis mandou reconstruir o seu castelo, que era anterior ao primeiro foral
e provavelmente construído pelos mouros. Este castelo desapareceu com o
tempo. O recenseamento do ano de 1530 já indica o castelo como "derrubado
e malbaratado" e nunca mais foi recuperado, muito embora o Tombo dos Bens
do Concelho de 1766 ainda identifique os "antigos muros" pelo que, a Torre
do Relógio, actual ex libris da vila, e que fica na zona conhecida por
Castelo, parece ser o que resta do antigo castelo medieval. Na sede do
concelho merecem ainda uma visita a Capela da Misericórdia, a Capela de S.
Sebastião, (inicialmente ermida) cujo campanário actual veio da casa dos
Távora, de que resta apenas, do original, a porta de entrada da capela
familiar, o portal da mesma casa e a Capela dos Ferreiras, com brasão
picado, a identificar ligações àquela família.
GEOGRAFIA, NATUREZA E
OCUPAÇÕES DA POPULAÇÃO
Apesar de registar ao longo dos tempos algumas
alterações dos seus limites geográficos, (nos finais do século XIX chegou
mesmo a ser extinto), o concelho teve sempre como elementos de referência
a Serra de Bornes a norte, o vale do rio Sabor a sul, o planalto de Castro
Vicente a este e o vale da Vilariça a oeste. Falamos assim de uma área que
actualmente ronda os trezentos e dez quilómetros quadrados, mas onde se
observa uma verdadeira síntese geográfica e paisagística de Trás os
Montes: as serras, os pequenos planaltos de altitude, os vales cavados e
profundos de alguns cursos de água e as zonas de vale aberto, como a
Vilariça; uma flora que vai do castanheiro ao sobreiro, passando pela
oliveira, a amendoeira, a cerejeira, a laranjeira e a vinha, para além dos
cereais, nomeadamente o centeio, que ainda há bem poucos anos se cultivava
a cerca de mil metros de altitude. Com amplitudes térmicas anuais muito
elevadas, o Inverno e o Verão cumprem aqui o conhecido ditado; as serras
cobrem-se frequentemente de neve e os gelos são abundantes; a Primavera é
intensamente florida e verde, graças à enorme diversidade da flora
selvagem, mas também das amendoeiras, das cerejeiras, macieiras e outras
árvores de fruto que abundam um pouco por todo o concelho; no Verão o
calor aperta e a paisagem torna se mais árida e seca, situação que é
minimizada pelas várias barragens e pelos vales dos cursos de água
principais, nomeadamente do rio Sabor, onde se passam bons momentos de
lazer; no Outono o amarelo e o dourado dos castanheiros rivaliza com o
florido primaveril e convida para sossegados percursos pelos caminhos da
Serra de Bornes, que lá do alto dos seus mil e duzentos metros de altitude
olha permanentemente para todo o concelho, como se fosse sua sina servir
de guarda e sentinela às gentes simpáticas e laboriosas que aos seus pés
constroem há milhares de anos a sua própria história. É certo que o número
dos "vizinhos" já foi maior. Como todo o interior, também por aqui a
desertificação humana tem deixado marcas profundas, resultando numa perda
real de população, com escolas a fechar as portas e outras a caminhar para
lá, com a população residente a ficar envelhecida e a juventude a ter
dificuldades em não encontrar soluções de vida que garantam a sua fixação.
É a grande batalha das últimas décadas, com algumas vitórias ganhas, mas a
requerer do país mais apoio e melhor atenção. Actualmente com cerca de
sete mil residentes e 6.102 eleitores inscritos, o concelho ainda encontra
na agricultura a sua maior riqueza, apesar das crescentes dificuldades
deste sector económico, provocadas pela competição dos mercados, pela
falta de mão de obra, pela difícil introdução da mecanização, devido às
características dos terrenos, mas sobretudo pela inexistência de uma
política agrícola nacional com coragem para efectuar uma verdadeira
reconversão das culturas tradicionais, ou uma séria certificação da
qualidade biológica de produtos como o azeite, a amêndoa, a castanha e
toda a fruticultura, para além do queijo e do fumeiro, da gastronomia,
nomeadamente a doçaria ligada à amêndoa e à cereja, as compotas e os
licores tradicionais. Estas gentes laboriosas e resistentes a todas as
vicissitudes da história aprenderam desde tempos remotos a encontrar
formas de auto produção bem patentes nas ruínas dos moinhos e dos pisões
do linho, nos fornos de telha e de cal, na arte das tecedeiras e das
bordadeiras, dos cesteiros, dos latoeiros, dos ferreiros, dos albardeiros,
dos sapateiros e dos alfaiates; desaparecida a cultura do bicho da seda e
a do linho, que tiveram grandeza assinalável neste concelho, quase tudo se
foi perdendo aos poucos e só recentemente se têm dado algum impulso à
preservação dessas artes que foram, primeiro, um complemento da economia
agrícola e hoje são já um factor de património cultural, agora designado
por artesanato. O esforço de desenvolvimento das últimas décadas foi
aumentando o peso do sector de serviços, do comércio, da hotelaria e
similares e das pequenas indústrias e o turismo começa agora a dar os
primeiros passos, assim como o aproveitamento ordenado dos recursos
cinegéticos, uma das grandes riquezas e aposta de futuro deste concelho.
UMA SEDE DO CONCELHO EM CRESCIMENTO
Com efeito, na sede e no concelho em
geral existe um conjunto de equipamentos que conferem uma boa qualidade de
vida aos que aqui vivem. Electricidade, água domiciliária, saneamento
básico, e estradas asfaltadas têm uma cobertura total no concelho, que em
termos ambientais foi dos primeiros a encerrar a sua lixeira municipal.
Subsistem alguns problemas que a autarquia continua a esforçar se por
resolver o mais rapidamente possível, como o abastecimento de água tratada
a toda população (neste momento ainda há cerca de 35% de munícipes que não
usufrui desta regalia) a solução para as fossas sépticas de algumas
localidades e o novo plano de tratamento de águas residuais e industriais
na sede do concelho. Mas a verdade é que, comparando com outros concelhos
da região, o de Alfândega da Fé ocupa um dos lugares cimeiros, facto que
se comprova com a enumeração dos equipamentos modernos que existem na sua
sede. Um dos Centros de Saúde mais dinâmicos do país, conjuntamente com
outras iniciativas privadas na área de saúde, garantem o atendimento da
população, muito embora não evitem a necessidade de deslocações diárias de
muitos utentes para os hospitais chamados distritais e inconcebivelmente
todos localizados na corda Bragança Mirandela; estes transportes são
assegurados pelos Bombeiros Voluntários, também com modernas instalações e
viaturas e que, para além deste importante serviço têm dado boa conta das
suas responsabilidades em matéria de protecção civil e de fogos
florestais. O Lar da Terceira Idade da Santa Casa da Misericórdia, o do
Santuário de Cerejais (Mariano) e outras unidades semelhantes, mas de
menor dimensão, localizada nas maiores freguesias do concelho, garantem a
assistência à terceira idade, para além de efectuarem ainda um importante
serviço de apoio domiciliário. Na vila situam se as maiores Escolas, desde
pré escolar ao ensino secundário, mas a frequência escolar é garantida a
todos os jovens, mesmo os do pré escolar, sendo o respectivo transporte
inteiramente gratuito há mais de uma década; uma excelente e dinâmica
Biblioteca Municipal complementa estes equipamentos educativos, o mesmo
vindo a acontecer com a Casa da Cultura, em construção, pensando se já na
construção de um moderno pólo para todo 0 1° Ciclo, como forma de
solucionar o problema da eminência de encerramento da maior parte das
escolas das aldeias, por insuficiente número de alunos. Em matéria de
equipamentos desportivos a situação é aceitável, com um Campo Municipal
que vai respondendo às necessidades e que dentro em breve sofrerá
alterações profundas e dois Pavilhões Desportivos cobertos; também não
faltam as Piscinas para o lazer dos dias quentes de Verão, infra estrutura
que vai igualmente ser objecto de remodelação, no sentido de ser possível
a prática da natação durante todo o ano. Ao nível do comércio a grande
aposta foi a construção de um Mercado Municipal, com uma área destinada ao
comércio local, assim como do Recinto da Feira, actividade que se realiza
quinzenalmente e cuja origem é medieval. Este espaço, que é considerado
pelos feirantes dos melhores que existem na região, contribuiu para
"reanimar" a própria feira, atraindo mais comerciantes e mais público e
foi ainda preparado para a realização de iniciativas culturais e
desportivas, realizando se ali, por exemplo a Feira da Cereja. A indústria
e as actividades a ela ligadas começam agora a ter alguma expressão, para
o que contribuiu decisivamente a criação da Zona Industrial, cuja área
começa a ser pequena para as solicitações e onde trabalham já, de forma
permanente, algumas dezenas de pessoas. A agricultura, base fundamental da
economia do concelho, apresenta ainda muitas necessidades, nomeadamente no
que respeita à construção de novas barragens para alargar a área de
regadio, mas também à urgência de uma nova organização dos regadios já
existentes e da capacidade de dinamização do sector por parte da
Cooperativa Agrícola local. Para breve está prevista a construção de mais
duas barragens, que se juntarão às quatro já existentes e ao todo darão
uma capacidade de armazenamento de água superior aos dez milhões de metros
cúbicos. Mas é sabido que o esforço nesta área terá ainda de ser maior,
uma vez que sem regadio a agricultura terá poucas possibilidades de se
afirmar economicamente e, dessa forma, motivar de novo a necessária mão de
obra. O turismo é uma aposta recente do município, mas já foram dado
passos importantes: à construção de uma moderna unidade hoteleira na Serra
de Bornes (Estalagem Senhora das Neves) estão já a associar se iniciativas
privadas, nomeadamente hoteleiras e no campo dos restaurantes, mas também
no aproveitamento da caça, com a organização de várias áreas associativas
e de uma reserva turística; o Parque de Usos Múltiplos oferece aos locais
e aos visitantes um espaço perfeitamente inserido na natureza e o Parque
de Campismo é obra que seguramente se lhe seguirá. Para além de todas
estas preocupações e de todos estes avanços, basicamente resultantes da
dinâmica do Poder Local, a vila foi ainda objecto de uma significativa
intervenção urbanística, que lhe conferiu modernidade, sem alterar as suas
características marcadamente rurais se tem que, neste aspecto, a defesa e
protecção do património, quer na sede, quer no resto do concelho, continue
a ser um dos pontos fracos, pesem embora algumas intervenções com algum
significado, sobretudo ao nível do património religioso. No entanto, a par
de todo este esforço recente para promover o desenvolvimento, foi se
esquecendo que o património antigo, histórico ou cultural, construído ou
simplesmente oral e manifesto em tradições, quando bem utilizado é também
um factor de desenvolvimento.
LENDAS, FEIRAS, FESTAS E TRADIÇÕES
Sendo um
concelho antigo e para mais com um nome de origem árabe, é fácil de
compreender porque razão o imaginário popular gira fundamentalmente em
torno das lendas das "mouras encantadas", não havendo quase freguesia
nenhuma onde esse tipo de situações não nos apareça. Contudo, existem duas
lendas mais estruturadas e, de certa forma, com ligação a factos
históricos, como é o caso da "Lenda dos Cavaleiros das Esporas Douradas",
que pretende explicar uma parte do nome da vila e marca a resistência dos
cristãos face à ocupação muçulmana e a "Lenda de Frei João Hortelão",
relacionada com uma personagem real e que, como veremos adiante, tenta
explicar a existência, na localidade de Valverde, de uma importante cruz
processional.
LENDA DOS CAVALEIROS DAS ESPORAS DOURADAS, OU DO TRIBUTO DAS
DONZELAS
Tanto quanto pudemos apurar, esta lenda (e o tributo das
donzelas), tem sido referida em várias publicações como "Santuário
Mariano", "Monarchia Lusitana" de frei Bernardo de Brito, na
"Chorographia" do Padre Carvalho da Costa, no "Dicionário Geográfico" do
Padre Luís Cardoso e posteriormente referida em publicações mais recentes,
com uma ou as duas designações acima identificadas. Recentemente foi ainda
publicado pela Câmara Municipal de Alfândega da Fé um romance inédito (em
termos de livro) de João Baptista Vilares, cujo tema é esta lenda. A Lenda
dos Cavaleiros das Esporas Douradas, ou do Tributo das Donzelas pode
resumir se da seguinte forma: no tempo do domínio muçulmano existia um
mouro que, a partir do castelo do monte carrascal, próximo da actual
localidade de Chacim (que já foi vila e hoje pertence ao concelho de
Macedo de Cavaleiros) dominava toda a região, incluindo as gentes de
Castro Vicente (que também já foi vila e hoje pertence ao concelho de
Mogadouro) e as de Alfândega e como feudo exigia às populações a entrega
de um determinado número de donzelas. Revoltados com este "tributo de
donzelas", os moradores de Alfândega e seu concelho (nomeadamente Vilares
da Vilariça) reagiram com armas, tendo os seus "Cavaleiros das Esporas
Douradas" organizado uma investida contra o mouro, apoiados pelos de
Castro Vicente. A batalha entre as duas partes ocorreu próximo do castelo
do mouro; apesar de aguerridos os cristãos começaram por ter dificuldade
em vencer as hostes muçulmanas e estavam prestes a perder a luta, tantos
eram já os mortos e os feridos; entretanto, apareceu Nossa Senhora, que
foi reanimando os mortos e curando os vivos, passando lhes um ramo de
bálsamo que trazia na mão; à medida que o grupo dos cristãos se foi
recompondo a peleja aumentou de intensidade e os muçulmanos foram
completamente rechaçados terminando assim a obrigatoriedade daquele
tributo. No local construiu-se uma capela em homenagem a Nossa Senhora de
Bálsamo na Mão, hoje o santuário de Balsemão; o local de tão grande
chacina deu origem a Chacim, localidade que haveria de ser sede de
concelho até meados do século XIX; e Alfândega, graças à valentia dos seus
cavaleiros, em nome da fé cristã, passou a designar se Alfândega da Fé.
Relativamente a esta lenda e para explicar a existência dos cavaleiros, o
Padre Manuel Pessanha sugere que Alfândega da Fé tenha sido sede de uma
ordem militar, "antiga, anonyma, muito anterior aos templários, e mesmo a
qualquer ordem militar conhecida"3 com cerca de duzentos membros. Na
realidade o Padre Carvalho da Costa, na sua "Chorographia", refere a
existência de duzentos cavaleiros, mas o Padre Luís Cardoso, no
"Dicionário Geográfico", refere apenas 25. Entretanto, não deve excluir se
a possibilidade de o imaginário popular ter encontrado na Ordem de Malta a
ideia dos cavaleiros. Um estudo recente de Belarmino Afonso refere que a
igreja de Malta pertenceu àquela Ordem desde D. Sancho I, o que nos leva
para o século XII. Ora, como a carta de foral de D. Dinis já identifica
Alfândega da Fé como vila e possuindo castelo, é de admitir que o concelho
já existisse anteriormente com esse nome, pelo que a lenda só teria
sentido se fosse ainda mais antiga, uma vez que os acontecimentos nela
contidos servem sobretudo para explicar o "da Fé". Ou seja, esta lenda
pode muito bem ser anterior à própria nacionalidade e transformar se num
elemento de estudo que comprove o papel que esta vila teve durante o
domínio muçulmano nesta região.
LENDA DE FREI JOÃO HORTELÃO
Frei João
Hortelão foi um cidadão real, nascido na localidade de Valverde, em data
incerta, uma vez que apenas João Baptista Vilares, na Monografia do
Concelho de Alfândega da Fé, refere o ano da sua morte, em 1499, data que
parece não condizer com alguns estudos recentes sobre a peça de
ourivesaria religiosa, a "Cruz de Valverde", a que se liga todo o seu
percurso "lendário". Na verdade, este devoto cristão tem uma biografia
cujos percursos por terras de Portugal e Castela são pouco conhecidos,
podendo concluir se que a faceta da lenda resulta mais do imaginário
popular do que dos verdadeiros acontecimentos. O seu carácter religioso e
as suas virtudes pessoais, onde não faltou sequer o facto de ser oriundo
de famílias pobres e ligadas à pastorícia na aldeia natal, foi sendo, ao
longo dos séculos, envolvido em histórias e acontecimentos que ninguém
pode hoje comprovar, incluindo o espírito profético que o levou a
adivinhar o ano da sua morte. Entre as muitas "façanhas", quando ainda
jovem, conta-se o seu "jeito" especial para a pastorícia dizendo se, como
escreve João Vilares, "que deixava o gado à volta do seu cajado e ia ouvir
missa aos povoados da outra margem do rio Sabor. Quando regressava, o gado
lá estava no mesmo sítio quieto e manso. O amo, sabendo isto, proibiu lhe
a passagem do rio na barca, mas ele continuou na sua missão atravessando a
corrente, servindo se da sua capa para barco. O patrão, não gostando de
tais ausências, despediu o pastor que se dirigiu então para Castela,
sempre mendigando pelo caminho Na sua descrição J. Vilares não mencionou
que no lugar onde Frei João Hortelão deixava o gado cresceu, segundo a
tradição popular, uma cornalheira de dimensões fora do vulgar,
transformada em árvore frondosa, cuja folhagem se mantém verde durante
todo o ano, ao contrário do que acontece com esta espécie, que na região
não atinge mais de dois metros de altura, como arbusto, de folha caduca!
Talvez "a outra margem do rio Sabor" não corresponda à verdade histórica e
estejamos a falar da antiga povoação de Cilhades, na margem direita, que
dá para a encosta onde se encontra a tal cornalheira; bem vistas as
coisas, estamos a falar do concelho de Alfândega da Fé, criado por carta
de foral de D. Dinis em 1294, cujas fronteiras o separavam de Santa Cruz
da Vilariça exactamente naquela zona, pelo local designado por "rebentão",
sendo que toda esta área foi pertença de Alfândega até à reforma dos
concelhos de 1855! Mas o espírito "milagroso" deste nosso Frei João
Hortelão não se ficou por aqui. Ainda na sua freguesia de origem, existe
outro local conhecido por "bardo do Frei João"; o motivo é semelhante: de
acordo, uma vez mais, com a tradição popular, naquele local deixava
frequentemente o seu rebanho, sem as habituais guardas de madeira, e os
animais não saíam do local, de tal forma que ainda hoje o mesmo se mantém
sempre com verdura! Despedido do seu emprego, Frei João Hortelão terá
rumado até Castela e ficado pela vila de Ledesma, (Salamanca) tomando o
hábito de leigo e entrando para o convento de Santa Marina. Diz J.
Vilares, na obra citada, que "por meio de esmolas, conseguiu edificar a
igreja matriz de Ledesma onde se conserva, segundo a tradição, uma gota de
leite da Virgem e uma madeixa do seu cabelo tudo obtido pelo santo varão".
Fernando Pereira, num estudo recente, nega categoricamente estas
afirmações, nomeadamente no que respeita à construção daquela igreja. Mas
é indiscutível que Frei João Hortelão viveu em Ledesma, onde está
sepultado, e em cuja localidade também se confirmam registos populares da
sua santidade, nomeadamente aqueles que dizem respeito aos seus dotes para
afastar os pássaros das sementes das hortaliças que semeava, actividade
que, aliás, acabou por lhe dar o nome! No entanto, a grande façanha que é
atribuída pela lenda a Frei João Hortelão resulta de algo muito mais
espantoso e menos explicável ainda, porque contraditório com o seu viver
conventual: "com bocadinhos de prata que ia guardando na oficina onde
trabalhava fez esta formosa cruz", a Cruz Processional de Valverde,
símbolo maior da ourivesaria do concelho de Alfândega da Fé e que a
população de Valverde guarda com um autêntico sentimento de Fé, de
misticismo e de patriotismo. Fernando Pereira fez uma investigação
aprofundada sobre esta peça e trouxe ao nosso conhecimento alguns aspectos
que importa referir. Em primeiro lugar, a Cruz de Valverde foi,
efectivamente, trabalhada em Castela. Não em Ledesma, mas provavelmente em
Astorga e o respectivo ourives é conhecido, o que foi possível identificar
através do punção existente na peça. Em segundo lugar e de acordo com o
mesmo autor, "pelas características técnicas que apresenta, esta cruz e o
par de galhetas, não poderão ir além da segunda década do século XVI"H; ou
seja, a ser verdadeira a data da morte de Frei João Hortelão, não existe
coincidência entre a vida do mesmo e o fabrico da peça, ainda que as
distâncias temporais, por tão curtas e tanta falta de informação, não nos
permitam decidir categoricamente não existir relação directa entre os
acontecimentos. Uma coisa é certa: aquele estudo provou que a Cruz de
Valverde foi executada numa oficina registada e tem os brasões de armas
das famílias Velascos e Avellaneda, ambas de Castela, ligadas por laços
matrimoniais, mas nenhuma com ligações conhecidas a Valverde. Fica assim a
hipótese, que continuará a alimentar a lenda, também corroborada por
Fernando Pereira: veio a Cruz, pelas mãos de Frei João Hortelão, parar a
Valverde?! E se assim foi, como explicar que peça tão importante,
representativa de uma arte específica da ourivesaria castelhana do século
XVI, tenha chegado até esta distante e pequena povoação do Nordeste
Transmontano? Que haverá de mais interessante do que manter as dúvidas por
desconhecimento histórico...e perceber que as Lendas não se mudam no
imaginário popular, por maior que seja o nosso conhecimento científico?!
FEIRAS
Actualmente existem duas Feiras no concelho de Alfândega da Fé:
uma que se realiza na própria vila, duas vezes por mês, a 17 e 30, e a
Feira Anual, que se realiza em dia variável, na primeira quinzena do mês
de Junho, integrada na Festa da Cereja. A primeira Feira é de origem
Medieval, (Carta de Feira de 1395, passada por D. Dinis) e esteve
nitidamente ligada ao processo de repovoamento desta região do Nordeste
levada a cabo por aquele monarca, associando se assim ao próprio Foral da
Vila, que data de 1294. Esta Feira, que em alguns períodos do ano atinge
dimensão razoável, continua a motivar um fluxo apreciável de "tendeiros",
oriundos de várias zonas do Norte do país, com particular incidência dos
concelhos vizinhos e mantém a tradição de proporcionar um motivo de
deslocação das populações do concelho à vila, que normalmente aproveitam
estes dias para tratar de todo o tipo de assuntos. Muito embora não
existam estudos precisos sobre esta Feira, ela conheceu algum declínio nas
décadas de 70 e 80 do século passado, registando novamente sinais de
recuperação, apesar de paralelamente se verificar o crescimento do
comércio local. A Feira Anual, começou a realizar se há uma dezena de
anos, acompanhando o desenvolvimento da Festa da Cereja, certame de
características turísticas realizado pelo Município, em colaboração com a
Cooperativa Agrícola local, que tem na cultura da cereja a sua mais
importante produção.
FESTAS E ROMARIAS
O Concelho de Alfândega da Fé tem
trinta povoações, incluindo a sede do concelho, distribuídas por vinte
Freguesias, e praticamente todas possuem um padroeiro em honra de quem se
faz uma ou mais Festas por ano. De uma forma geral, estas Festas realizam
se nos meses de Julho a Setembro e possuem características comuns:
Procissão, (com vários andores de santos, devidamente ornamentados),
acompanhada de uma banda musical e "Arraial", com concerto de banda e
actuação de grupos musicais e o tradicional fogo de artifício, normalmente
com a sua máxima expressão na designada "descarga da meia noite". Os
programas das Festas mais importantes abrangem vários dias, com particular
incidência nos dois últimos, que regra geral coincidem com o Sábado e o
Domingo, transformando se num momento privilegiado para o reencontro dos
conterrâneos que vivem fora, no país ou no estrangeiro. Destacamos, pela
sua tipicidade, regularidade e número de pessoas que envolvem, as
seguintes Festas: Alfândega da Fé, (vila), em honra do Mártir S.
Sebastião, no segundo fim de semana de Agosto; Sambade, em honra de N.ª
S.ª das Neves, no terceiro fim de semana de Agosto e com a particularidade
de ter o dia mais importante ao Domingo; Parada, em honra de SC Antão da
Barca, no primeiro fim-de semana de Setembro; Vilarelhos, em honra de N.ª
S.ª dos Anúncios, no último fim-de-semana de Agosto; Vilarchão, em honra
de S. Sebastião, em Agosto, sem data fixa; Valverde, em honra de S.
Bemardino, em Agosto, normalmente uma semana depois da festa da vila;
Destas Festas, apenas as de Alfândega da Fé e Vilarchão se realizam dentro
das localidades, sendo as restantes efectuadas nos respectivos
"Santuários", com especial destaque para os de Stº Antão da Barca e N.ª
S.ª dos Anúncios.
TRADIÇOES
Tratando se de uma zona com uma profunda
ligação à agricultura, no concelho de Alfândega da Fé mantêm se ainda
muitas tradições antigas, nomeadamente as que dizem respeito ao artesanato
local, cestaria, latoaria, madeira, rendas e bordados e tecelagem em
teares manuais. Em termos mais culturais os cantares de Reis e o Entrudo
são os momentos que mobilizam muitas freguesias; o Entrudo na localidade
de Vilarchão tem ainda a particularidade da realização da "arreata dos
burros", uma manifestação de origens desconhecidas e que consiste na
concentração (bem cedo) e posterior largada de todos os animais pelas ruas
das aldeias, participando nesta organização apenas os rapazes. A matança
tradicional do porco e os consequentes enchidos é outra das tradições que
ainda se mantém. A gastronomia conserva igualmente o sabor de tempos
antigos, nomeadamente nas sopas da matança e da segada, nas casulas secas,
no molho da horta, nos folares da Páscoa, mas também na doçaria, com
destaque para os rochedos e os barquinhos.
AS FREGUESIAS DO CONCELHO
Como
já se referiu, o concelho está dividido em 20 freguesias. As aldeias mais
importantes, em termos populacionais, económicos e até históricos, ainda
que neste aspecto existam motivos de interesse espalhados um pouco por
todo o concelho, são as de Sambade, Vilarchão, Vilarelhos e Vilares da
Vilariça.
AGROBOM: Esta localidade é sede de freguesia e
inclui uma povoação anexa com o nome de Felgueiras. Localiza se a cerca de
10 quilómetros da sede do concelho, para nordeste, na vertente sul da
serra de Bornes. A principal actividade é a agricultura, possuindo
terrenos férteis, circunstância que pode estar na origem do próprio nome,
"campo bom". Azeite, amêndoa e fruticultura são as principais produções,
estando uma parte do termo incluído no regadio da barragem da Camba,
construção recente da iniciativa da Câmara Municipal. No profundo e
apertado vale da ribeira de Agrobom cultivam se ainda vários produtos
hortícolas, que surgem mais cedo, devido às características do microclima
ali existente; nessa mesma zona se localizam as ruínas de uma antiga
capela (Santa Marinha) acerca da qual se conta uma lenda interessante:
como a capela era disputada pelos de Sambade e pelos de Agrobom, por não
se entenderem quanto aos limites das respectivas freguesias, a Santa fez o
milagre de mudar o curso da ribeira, para que a capela ficasse do lado
desta freguesia. Actualmente com 222 eleitores inscritos, os residentes
dificilmente ultrapassam a centena e meia de pessoas. A igreja Matriz é um
edifício com algum interesse e no interior possui um altar mor em talha
pouco bem conservado, mas digno de se apreciar. Realizam se festas em
honra de S. Sebastião (20 de Janeiro), Nossa Senhora das Graças (2°
domingo de Agosto) e S. Lourenço (10 de Agosto).
CEREJAIS: Esta localidade tem registado algum crescimento nos últimos anos,
supomos que em parte pela proximidade e fácil acessibilidade à sede do
concelho e pelo impulso social e turístico desenvolvido pelo Santuário
Mariano que ali existe e que é um dos mais visitados do país. Actualmente
com 269 eleitores, a principal actividade económica é a agricultura, sendo
uma passagem obrigatória no tempo das amendoeiras em flor; a pastorícia
fez com que nesta localidade se produza um dos melhores queijos da região
e a ligação às artes tradicionais permite que ali se possa ainda adquirir
excelente calçado de fabrico manual. A proximidade do rio Sabor e as
antigas quintas que existiam nas suas margens criou, desde tempos remotos,
o gosto pela pesca e, consequentemente, o desenvolvimento da gastronomia
que lhe está ligada, verificando se que ainda hoje são muitas as pessoas
do concelho, nomeadamente das freguesias vizinhas, que gostam de
frequentar a zona da Quinta Branca. O Santuário Mariano de Cerejais é o
local mais visitado do concelho, possuindo duas áreas, a Loca e o Calvário
que, para além do aspecto religioso, são excelentes miradouros. Realizam
se as festas de S. Paulo (25 de Janeiro), do Imaculado Coração de Maria
(último domingo de Maio) e de S. Sebastião (último domingo de Julho).
EUCÍSIA: Esta freguesia, que inclui como anexa a localidade
de Santa Justa, tem 207 eleitores inscritos e a principal ocupação dos
residentes é a agricultura, muito embora exista um número razoável de
pessoas que vive dos serviços e da construção civil. Uma parte da
freguesia está incluída no vale da Vilariça, pelo que este facto,
juntamente com a existência de água com alguma abundância, permitiu a
fixação, desde muito cedo, da população. Por esse motivo, nesta zona se
concentram alguns dos mais importantes elementos do património histórico
arqueológico do concelho: as pedras escritas de "Revides" e das
"Ferraduras" e o Castro de Santa Justa. Realiza se uma festa em honra de
S. Sebastião, no 1° Domingo de Setembro.
FERRADOSA: Na
freguesia de Ferradosa, que tem como anexa a localidade de Picões,
localiza se um dos mais importantes vestígios do povoamento Castrejo do
concelho, conhecido por "Castelo dos Picões", localizado na zona do
"rebentão", na margem direita do rio Sabor. Actualmente com 301 eleitores
inscritos, esta freguesia tem na agricultura e na pastorícia as suas
principais actividades, possuindo bons terrenos nas encostas do rio. A
ligação desta freguesia ao rio Sabor é evidente, não apenas através dos
terrenos agrícolas, mas também do peixe, abundante naquela zona e em
tempos uma actividade importante; por outro lado, convém não esquecer que
a travessia para o vizinho concelho de Moncorvo se fazia por "Silhades",
uma povoação extinta na margem direita do Sabor, próxima de Picões, onde
existia uma barca para efectuar a travessia Realizam se festas em honra de
Santo Amaro, a 15 de Janeiro e de Nossa Senhora de Fátima, no 3° fim de
semana de Agosto.
GEBELIM: Esta freguesia localiza se em
plena serra de Bornes, o que, do ponto de vista paisagístico, a torna uma
das mais interessantes do concelho. Com 276 eleitores, as principais
actividades dos residentes são a agricultura, a pastorícia e a floresta.
Segundo Pinho Leal Gebelim é uma palavra de origem árabe, resultante da
corrupção da palavra "Jabalain", que significa "dois montes". Não sendo de
estranhar esta origem, embora não se possa comprovar, é certo que por ali
existem muitos topónimos e referências aos mouros, como a fraga dos
mouros, onde existem pequenas cavernas. Notável, igualmente, é o facto de
antigamente se ter explorado cal nesta freguesia, referindo João Vilares"
que ali existiram cinquenta fornos; de qualquer forma, não deixa de ser
importante constatar a existência de calcário a cerca de mil metros de
altitude! Contudo, o aspecto patrimonial mais relevante é a Capela de S.
Bernardino, monumento classificado "de interesse público", construído em
1743, em cujo interior se encontram importantes painéis que descrevem a
vida daquele santo. Realizam se festas em honra de S. Bernardino, a 20 de
Maio e no 2° Domingo de Setembro, sendo esta última das mais concorridas
do concelho.
GOUVEIA: A freguesia de Gouveia encontra se a
sete quilómetros de Alfândega da Fé e tem como anexa o lugar de Cabreira.
Situa se na encosta sul da Serra com o mesmo nome, que abriga a povoação
dos ventos de leste e nordeste. Segundo o Padre Francisco Manuel Alves, em
"Memórias Arqueológico Históricas do distrito de Bragança", o seu nome
deriva do antigo verbo `gouvir', que significa `gozar'. Não é credível tal
definição toponímica, a não ser pelas questões paisagísticas que se podem
desfrutar a sul, na encosta que dá para o rio Sabor... A Igreja paroquial
foi construída em 1725. Possui cinco altares. Neste edifício merece
destaque o seu prospecto exterior, muito agradável e merecedor de uma
visita. Além do templo matriz existem mais duas ermidas, dedicadas a Santa
Marinha e à Senhora do Rosário. A posição estratégica junto ao vale do
Sabor, os Castros identificados na zona e a Serra da Gouveia conferiram a
Gouveia uma importância redobrada em tempos mais recuados. Ainda em finais
do século passado a freguesia tinha mais de 300 habitantes. Actualmente
conta com 185 eleitores e cerca de 200 habitantes, espelhando bem a
sangria da emigração que caracteriza toda esta zona do interior. A
localidade de Cabreira, única anexa da freguesia, tem cerca de meia
centena de habitantes e é zona de povoamento antigo, comprovado pelo
Castro que se encontra nas suas proximidades. A agricultura é a principal
actividade da freguesia, apesar da escassez de água. As boas hortas que
ali se trabalham só contam com água corrente durante pouco mais de metade
do ano. A oliveira, a amendoeira e o sobreiro têm ali boas condições de
vida. Naturalmente, acabou por se desenvolver a pastorícia, como
complemento à actividade agrícola. Realizam se festas em honra de Nossa
Senhora dos Remédios, a 14 de Agosto, na Cabreira e de S. Bartolomeu, a 24
de Agosto, em Gouveia.
PARADA: A aldeia de Parada, sede de
freguesia do mesmo nome, actualmente no concelho de Alfândega da Fé,
localiza se na parte sul do planalto de Castro Vicente, na margem direita
do rio Sabor e possui 210 eleitores. Não se conhece a origem desta
localidade, mas considerando que em 1530, ano em que se fez um
recenseamento da comarca de "Tralos Montes" '2, é identificada com apenas
4 moradores, somos levados a acreditar que a povoação se desenvolveu a
partir do início do século XVI. As razões do nome, segundo a tradição
popular, prendem se com o facto de os habitantes de Santo Antão e das
outras quintas que por ali havia se juntarem para ir à missa a Castro
Vicente, e fazerem uma "parada" junto de uma nascente, já no cimo da
encosta, no local onde hoje se encontra a povoação '3. Esta versão pode
ter algum fundo de verdade, como o nome pode, pela mesma razão, andar
associado aos caminhos de Santiago. Já nos parece menos credível a versão
que liga a localidade ao foro de parada, ou seja, à obrigatoriedade de a
população dar uma refeição aos seus senhores. Isto porque só a partir do
século XVIII a localidade teria condições para garantir tal foro e os
senhores conhecidos eram os Távora, cuja influência no país se extinguiu
em 1759. De qualquer modo, o povoamento na actual freguesia de Parada é
muito mais antigo do que as datas já mencionadas e esse facto deixa
entender que, à semelhança do que aconteceu com outras localidades do
actual concelho a povoação está ligada a esses povoamentos, que são
essencialmente dois: o mais antigo é o Castro/Castelo da Marruça e depois
Santo Antão da Barca. O castelo da Marruça, ou "castelo dos mouros", como
é designado na localidade, não aparece mencionado, em termos de povoamento
em qualquer documento conhecido, pelo que deve ter deixado de servir para
tal fim há muitos séculos. Mas trata se de um povoado fortificado, tudo
indica que Castrejo e eventualmente usado até à ocupação muçulmana. Tem
uma localização impressionante, numa escarpa junto à margem direita do rio
Sabor, o que lhe garantia uma perfeita defesa; trata se de uma muralha
circular, em estado de conservação razoável, se comparada com outras
estruturas idênticas do concelho e fora dessa muralha, na parte sul,
observam se ainda fundações de habitações, o que indica a existência de um
povoado antigo. O Santo Antão (da Barca) poderá igualmente ter sido um
pequeno povoado, muito mais recente do que a Marruça. A (ermida) capela
que ali existe é da primeira metade do século XVIII, eventualmente mandada
construir pelos Távora; mas é provável que existisse outra mais antiga.
Uma coisa é certa. Se, como diz a tradição, a importância daquele local se
ficou a dever ao facto de ser uma zona de travessia do rio, o que pode
compreender se pela existência, na zona, de outros pequenos povoados, hoje
quintas, tal facto só deve ter tido alguma importância até à perda do
domínio dos Távora, uma vez que no levantamento de 1796 não se faz menção
à barca do Santo Antão; pelo contrário, é registada a de "Silhades", como
se referiu na descrição da freguesia de Ferradosa. A principal riqueza da
freguesia é a agricultura, tendo a amêndoa ocupado um lugar de destaque
até há bem pouco tempo, sobretudo porque ali se cultivava uma variedade de
boa qualidade, designada de "refego" ("repego") ou simplesmente Parada.
Mas no termo, para além do olival, produz se também um dos melhores vinhos
do concelho. A culinária popular aproveitou a amêndoa para desenvolver
dois doces com características únicas, os "Rochedos" e os "Barquinhos",
que também se fazem na vizinha localidade de Vilarchão. Para além do
património já indicado, a Igreja Matriz, reconstruída em 1795 mas
seguramente construída entre finais do século XVII, princípios do século
XVIII, é o elemento mais relevante a destacar. No interior, para além de
alguma talha, duas peças de ourivesaria com importância: a cruz
processional e a custódia, ambas de prata e feitas em Guimarães em finais
do século XVIII. Esta cruz processional é a mesma que a população escondeu
dos franceses, enterrando a, para não ser roubada. O Santo Antão da Barca
já não tem os habitantes de outrora e o último ermitão há muitos anos que
deixou o local. Mas viu melhorados os acessos e as próprias instalações
junto à capela, continuando a ser uma das mais concorridas romarias de
Verão do concelho, atraindo mesmo muitos visitantes das localidades
vizinhas pertencentes a outros concelhos. Brevemente, a aldeia de Parada
ficará mais bem servida em termos rodoviários, com a construção da estrada
que ligará Alfândega da Fé a Mogadouro e que incluirá a ponte sobre o
Sabor, desejada há tantas décadas! Será o fim definitivo da Barca; se a
barragem do baixo Sabor se vier a concretizar, a própria capela do Santo
Antão terá de ser mudada de lugar: virão novos barcos e com eles outras
gentes, à procura do sossego da região. Realizam se festas em honra de S.
Tiago, a 25 de Julho, em Parada e do Santo Antão da Barca, no 1° fim
de-semana de Setembro, sendo esta a maior romaria do concelho.
POMBAL: A freguesia de Pombal, com os seus 132 eleitores,
vive essencialmente da agricultura, sendo conhecidos os seus amendoais
que, de resto fazem parte do circuito das amendoeiras em flor. Localizada
na vertente sul da serra de Borres e virada para o vale da Vilariça, esta
freguesia possuiu um clima bastante quente e com amplitudes térmicas muito
inferiores à média do concelho, produzindo se ali boas hortaliças, azeite,
figos e bastante cortiça. Desconhece se a origem da localidade, mas no
local onde há cerca de duas décadas foi construído o campo de futebol, no
cimo de um monte que lhe fica próximo, encontramos vestígios de um muro,
cuja espessura e características de construção evidenciam a possibilidade
de ali ter existido um castro. Nas proximidades, entre esta localidade e a
de Vales, encontram se as ruínas de uma aldeia conhecida por "Vale das
Cordas". Como veremos, ao falar dos Vales, a tradição explica que foi a
partir desta localidade que surgiu a actual aldeia de Vales, mas pode
igualmente levantar se a hipótese de o povoamento da zona ser ter
desenvolvido do castro para esta povoação extinta e depois esta ter dado
origem às duas que lhe ficam vizinhas. Realiza se uma festa em honra de
Santa Marinha, a 18 de Julho.
SALDONHA: A freguesia de
Saldonha fica no extremo nordeste do concelho, numa zona de terrenos
planos que possibilitam uma agricultura muito rica, nomeadamente na
produção de azeite e de cortiça. Com 131 eleitores, a localidade tem
origens muito antigas, referindo se, inclusive, a existência de uma
povoação extinta, no lugar denominado "Castelo do Ouro"'S. Este e outros
aspectos relacionados com povoamentos antigos, não puderam ainda ser
confirmados, mas a existência, no termo, de topónimos como "Castro" e
"Castelo" são bons indicadores para uma pesquisa mais aprofundada. Realiza
se festa em honra de S. Martinho, a 11 de Novembro.
SAMBADE: Sambade é a aldeia mais populosa do concelho, actualmente com 667
eleitores, a segunda freguesia em extensão e a única que possui duas
povoações anexas (Covelas e Vila Nova) distando sete quilómetros da sede
do concelho e localizando se na vertente sul da Serra de Bornes, a cerca
de 800 metros de altitude. A igreja matriz de Sambade é o mais importante
monumento religioso do concelho, classificado como de interesse público,
sendo a sua reconstrução de 1798, com características barrocas. Sambade é
de origem muito antiga, tendo a sua Abadia feito parte do Padroado Real,
com rendimentos apreciáveis, o que terá provocado a sua disputa pelos
elementos eclesiásticos e de certa forma justificará o crescimento de tão
importante povoação em plena Serra de Bornes, cujos rendimentos resultam
hoje essencialmente da agricultura, com destaque para a castanha, a batata
e os cereais, sobretudo o centeio, bem como de alguma pecuária. Mas em
tempos mais recuados, Sambade foi um importante centro de produção de lã,
de linho e de seda, sendo essa então a sua principal riqueza, facto que
pode ajudar a compreender porque razão do início do século XVI até ao
final do século XIX esta freguesia apresente mais população que a sede do
concelho. Do ponto de vista paisagístico esta freguesia merece também uma
visita mais prolongada, sobretudo para se conhecer a Serra de Bornes, cujo
cume principal, a 1200 metros de altitude, aqui se localiza; entre Sambade
e aquele cume, a cerca de 900 metros, foi recentemente aberta uma
estalagem de elevada qualidade, que apoio o desenvolvimento turístico da
zona e do concelho. Apesar das referências antigas sobre a sua existência,
não se encontraram até ao momento vestígios de povoamentos mais antigos,
nomeadamente do período Castrejo, sendo relevante referir que João
Vilares, que era natural desta freguesia, não referiu na sua Monografia
qualquer elemento relacionado com este aspecto, exceptuando se o nome de
uma localidade, "Ride Cabras", cuja localização ele próprio afirmou
desconhecer. Realizam se festas em honra de S. Sebastião, a 20 de Janeiro
e de Nossa Senhora das Neves, no 3° Domingo de Agosto.
SENDIM DA
RIBEIRA: A localidade de Sendim da Ribeira, que dá o nome à
freguesia, juntamente com a anexa de Sardão, pode ser um das mais antigas
do concelho. O nome parece ser de origem visigótica e na zona existe um
topónimo "castelo", que pode andar associado à existência de um castro,
cujos vestígios, contudo, são hoje difíceis de identificar, devido à
progressão da agricultura, particularmente dos olivais, cujo azeite,
segundo alguns entendidos, é considerado dos melhores do mundo, graças ao
clima ameno permitido pelo vale da ribeira de Zacarias. Actualmente a
freguesia possui 103 eleitores, tendo a sua população diminuído nas
últimas décadas. A igreja matriz, recentemente recuperada, merece uma
visita, sobretudo ao interior, onde existe um altar mor em boa talha
dourada. A anexa de Sardão está igualmente em declínio populacional, mas o
seu casario antigo, quase todo original e construído em xisto, deixa
perceber o que eram as nossas aldeias há uns séculos atrás. À semelhança
do que acontece em quase todo o concelho, também nesta freguesia existem
lendas de "mouras encantadas", mas aqui, uma delas, anda associada a uma
elevação conhecida por "Monte do Concelho", onde existem ruínas de uma
capela. Realizam se festas em honra de S. Secundino, a 30 de Agosto e de
Santa Bárbara, a 4 de Dezembro.
SENDIM DA SERRA: Apesar de
ter o mesmo primeiro nome, esta freguesia não confina com a anterior,
desenvolvendo se o seu território na vertente norte da serra da Gouveia,
mas a origem do nome parece ser a mesma. Agricultura e pastorícia são as
ocupações desta população, actualmente com 120 eleitores. Para uma
freguesia tão pequena e de escassos recursos, torna se difícil explicar o
número e a importância das suas construções religiosas. A igreja Matriz,
muito antiga, ainda que numa construção simples, possuiu no interior um
altar mor em boa talha; para além deste edifício existe ainda uma pequena
capela dedicada a S. Sebastião. Mas é fora da localidade que se encontram
outros dois edifícios religiosos de maior interesse: o primeiro, uma
ermida, de Santa Eufémia, muito antiga e junto à qual existem duas
sepulturas cavadas na rocha e uma terceira iniciada, ou destinada a uma
criança; o segundo é o Santuário de Nossa Senhora de Jerusalém,
verdadeiramente uma igreja, pela dimensão, pelas características
arquitectónicas e pelo número de altares. Desconhece se a data da
construção deste santuário, mas tudo indica que o actual edifício,
infelizmente muito descaracterizado graças a uma má intervenção na década
de 80 do século passado e a uma tentativa de recuperação recente também
pouco feliz, tenha sido construído sobre um edifício mais antigo,
medieval, seguramente. De qualquer forma, é espantoso que num lugar ermo,
distante de qualquer povoado, se tenha erguido um edifício religioso tão
imponente. Em nosso entender, para além da igreja Matriz de Sambade nenhum
outro, no concelho, tem maior força arquitectónica. Realizam-se festas em
honra de Nossa Senhora de Jerusalém, no 1° Sábado de Agosto e de S.
Lourenço, no dia 10 de Agosto.
SOEIMA: A aldeia de Soeima,
que dá o nome à freguesia, situa se na encosta sul da serra de Bornes e
tem a particularidade de estar a cerca de mil metros de altitude, pelo que
dali se avistam dezenas de outras localidades, deste concelho e dos
concelhos vizinhos. A população de Soeima, que conta com 207 eleitores,
dedica se essencialmente à agricultura, sendo de destacar a qualidade da
castanha e da batata que se produz no seu termo. Podemos ainda apontar uma
particularidade desta freguesia: há umas décadas atrás, quando os cereais,
nomeadamente o centeio, constituíam uma produção forte no concelho, as
gentes de Soeima conseguiam produzir este cereal a cerca de mil e cem
metros de altitude, quase no alto da serra de Bornes. O nome Soeima
evidencia a antiguidade da povoação, uma vez que é de origem moçárabe. Mas
não se conhecem na zona outros vestígios de povoamentos antigos. Realiza
se uma festa em honra de S. Pelágio, no mês de Junho.
VALE PEREIRO: Vale Pereiro tem actualmente 135 eleitores e é uma localidade
antiga. Não pudemos apurar a data em que passou a freguesia, mas sabe se
que em 1530 pertencia ao concelho de Castro Vicente e tinha 23 moradores",
número então suficiente para que fosse freguesia autónoma, já que na mesma
data a vizinha Saldonha possuía apenas 12 moradores; no final do século
XVIII possuía cerca de 150 habitantes, mais ou menos os que tem agora e
cuja ocupação é igualmente a agricultura, sobretudo o olival, e a
extracção de cortiça. O interior da igreja Matriz merece ser visitado,
possuindo vários altares em talha; nas proximidades da aldeia existe uma
ermida dedicada a S. Geraldo, de construção muito antiga. Na freguesia
existem vestígios de povoamentos antigos, nomeadamente no local designado
por "casinhas brancas" onde se observam ruínas de construções a que se
atribuiu origem moura. Não sabemos como poderá provar se este facto mas, a
ser confirmado, constituiria o único vestígio dos mouros em matéria de
construção na área deste concelho. Realiza se uma festa em honra de S.
Bartolomeu, no 1° Domingo de Agosto.
VALES: Esta freguesia
conta actualmente 112 eleitores e o seu termo localiza se na encosta sul
da serra de Borres, pelo que a actividade agrícola inclui ainda muitos
castanheiros, mas também nogueiras e mais recentemente floresta. A maior
elevação dentro da freguesia é o monte dos "Rebolais", de onde se tem uma
excelente paisagem para o vale da Vilariça. O nome desta povoação está
directamente relacionado com a sua localização, entre vales (formados por
dois pequenos cursos de água), mas desconhece se a sua origem. Os mais
antigos vestígios de povoamento na freguesia situam se em Vale das Cordas,
que foi claramente um povoado antigo, hoje extinto. No entanto, as duas
localidades coexistiram, uma vez que no recenseamento de 1530 ainda
aparecem as duas localidades, a primeira com 9 moradores e a segunda com
6. Desta forma, a ideia de que uma terá originado a outra, e mesmo a de
Pombal, como já se referiu, não parece muito segura, até porque naquela
data esta última localidade já possuía 11 moradores". No início do século
XVIII Vale das Cordas ainda seria habitada, mas no final do mesmo século a
povoação já não é referida. Como a igreja Matriz de Vales foi reconstruída
em 1744, data que está registada no pardieiro da porta principal, podemos
levantar a hipótese de que estas três localidades tiveram origens e cursos
distintos, muito embora uma delas tenha acabado por desaparecer, talvez
pela sua fraca localização e pelo desenvolvimento das outras. Realiza se
uma festa em honra de Santa Cruz, a 13 de Maio.
VALVERDE: Situada na parte inferior do planalto de Alfândega da Fé, já
próximo da Serra da Gouveia e com o Vale da Vilariça à vista, Valverde é
uma localidade antiga e o seu crescimento ficou a dever se à riqueza
agrícola do vale que lhe deu o nome e às boas condições para o
desenvolvimento das amoreiras, fundamentais para a criação do bicho
daseda. O mesmo vale, graças ao seu terreno barrento, permitiu o
desenvolvimento de vários fornos de telha, levando a povoação a um
crescimento pouco habitual em tempo mais recuados, ao ponto de ali ter
existido uma "farmácia", situada na zona do actual edifício da Junta de
Freguesia. No entanto, Valverde é sobretudo conhecida pela sua majestosa
Cruz Processional, uma autêntica obra de arte do século XVI, devidamente
guardada e preservada, só apresentada em público em ocasiões solenes; esta
cruz, cujo estudo e inventariação já foi efectuado", anda ligada à lenda
de Frei João Hortelão, natural de Valverde e a quem a população atribui
vários actos milagrosos, conforme se referiu atrás.
VILARCHÃO: A quinze quilómetros da sede do concelho, Vilar Chão situa se numa
zona planáltica com o mesmo nome (também designado planalto de Castro
Vicente) que a nascente termina num vale apertado e profundo por onde
corre o rio Sabor. Vilar Chão foi integrada no concelho de Alfândega da Fé
em 1855, tendo pertencido anteriormente aos extintos concelhos de Castro
Vicente e Chacim. É hoje uma das mais importantes e ricas freguesias do
concelho, (351 eleitores) com uma actividade agrícola e pecuária
assinaláveis, bem patente no número de alfaias agrícolas modernas e na
existência de uma sala de ordenha, apesar de ser uma zona com pouca água.
A cultura de cereais (sobretudo trigo e centeio), hoje em declínio, fez do
termo de Vilar Chão um autêntico "celeiro" do concelho e das regiões
vizinhas. As origens da localidade transportam nos ao período suevo e ao
despovoamento provocado pela invasão muçulmana. No período medieval foi
objecto de repovoamento. Na localidade anexa, Legoinha, (local de
interesse turístico) existem vestígios de um castro. A obra do Padre
Belarmino Afonso, "Cerâmica do Distrito de Bragança", refere bem a
importância económica que o fabrico da telha teve em tempos para a
freguesia: "Uma fornada de telha vinha equilibrar ou suprir as dívidas de
uma má colheita, ou pagar por um filho que foi preciso livrar da tropa.
(...). Um bom número de fornos, de que conseguimos notícia, era da
comunidade local. Não admira, pois, que este tipo de actividade artesanal
se enquadrasse perfeitamente dentro das banalidades fornos, moinhos, forja
e lagar da economia medieval agro pastoril." Mas para além do fabrico da
telha, em Vilarchão também existiram lagares de azeite comunitários e em
finais do século passado, princípios do nosso até uma certa dinâmica na
tentativa de exploração de alguns minérios, havendo conhecimento do
registo de 11 minas entre 1883 e 1911, uma das quais de prata. Em termos
patrimoniais a casa da família de Manuel António Ferreira de Aragão
(Marechal de Campo e morgado, natural da freguesia) é o mais importante
património de Vilar Chão. Possui Brasão e foi construída para solar
daquela família em 1760. João Vilares, em "Monografia do Concelho de
Alfândega da Fé" descreve o assim: "em campo de ouro quatro palas
vermelhas; timbre um touro vermelho saltante com coleira e campainha ao
pescoço; por cima, num dos cantos, uma flecha". A igreja paroquial é
antiga e destaca se pelos seus cinco bonitos altares, bem trabalhados. Tem
como parte integrante do seu espólio uma custódia, com decoração barroca.
Outro local de interesse patrimonial é a Fonte Limpa, construída em 1796,
também de estilo barroco e exemplar único no concelho. Para além de outros
aspectos, Vilar Chão destaca se ainda por uma tradição cultural que tem
especiais referências na "arreata dos burros", uma forma diferente de
festejar o Carnaval. Na doçaria, são conhecidos os "rochedos" e os
"barquinhos", feitos com amêndoa e de excepcional qualidade, cuja origem
ou é desta terra ou da Parada, como se disse anteriormente. Realizam se
festas em honra de S. Sebastião, a 20 de Janeiro e Nossa Senhora da
Assunção, em Agosto.
VILARELHOS: A aldeia de Vilarelhos é de
origem muito antiga, existindo na área da freguesia vestígios do período
romano e sendo atestada a sua importância económica pela existência do
mais importante monumento não religioso do concelho, o solar do Morgado de
Vilarelhos, de traça barroca. A povoação situa se a cerca de doze
quilómetros de Alfândega da Fé, para poente e na parte superior do Vale da
Vilariça, possuindo ainda alguns terrenos incluídos na Região Demarcada do
Vinho do Porto, pelo que a vinha e o olival são as principais riquezas da
sua população, muito embora actualmente a fruticultura e a horticultura,
mercê do clima propício da zona, venha a ganhar cada vez mais importância
na economia da freguesia. O edifício onde até há bem pouco tempo funcionou
a junta de freguesia e a escola pré primária possui um interessante
alpendre com colunas de granito que, juntamente com uma fonte de mergulho
e um tanque público forma o mais bonito recanto da localidade. Este
edifício foi, seguramente, uma capela, ou mesmo, em tempos recuados, a
primeira igreja Matriz. Na freguesia existe a barragem do Salgueiro,
destinada à irrigação dos terrenos próximos e local aprazível nos dias
quentes de Verão. Outro elemento cultural relevante é o cabeço de Nossa
Senhora dos Anúncios em cuja vertente nordeste foi encontrada uma
necrópole romana, estudada Santos Júnior, que também avançou a hipótese de
ali ter existido um castro. Realizam se festas em honra de Nossa Senhora
dos Anúncios, no 3° fim de semana de Agosto e de S. Tomé, a 23 de
Dezembro.
VILARES DA VILARIÇA: Distando cerca de doze
quilómetros da sede do concelho, Vilares da Vilariça, (que tem 328
eleitores) situa se na parte superior do riquíssimo vale da Vilariça,
facto que permite excelentes produções de vinho (parte da freguesia ainda
está incluída na região do vinho generoso do Douro) e azeite, bem como uma
importante produção frutícola. A origem desta localidade, antigamente
dividida em duas (Vilares de Cima e Vilares de Baixo) remonta ao período
suevo e foi posteriormente povoada. O seu nome está também ligado à lenda
dos Cavaleiros das Esporas Douradas. A "terra" de Vilariça, muito ampla e
que posteriormente se iria fragmentar e dividir em pequenos territórios
pequenas freguesias teve a sua sucessora na paróquia de Santa Comba. Antes
disso, porém, D. Pedro Fernandes, um nobre local, iria doar a região de
Vilariça ao mosteiro de Bouro, que doravante ficou com a sua posse.
Juntamente com a paróquia de santa Comba, eram doadas as freguesias de
Colmeais e Vilar de Baixo e de Cima. Ainda hoje, e de forma definitiva
desde o século XVIII, a freguesia compreende os três pequenos lugares. O
orago, inicialmente de Santa Comba, foi substituído por Santa Catarina,
que era o do lugar de Vilares de Cima. Curiosa é a exclamação do abade de
Miragaia, autor dos dois últimos volumes do "Portugal Antigo e Moderno"
(por morte de Augusto Pinho Leal), em relação a esta relativamente confusa
movimentação administrativa da freguesia: "Valhanos a Senhora do Monte do
Carmo!". A igreja paroquial de Vilares da Vilariça merece nos destaque
sobretudo pelo seu espólio. Deste, o elemento mais importante é uma cruz
das almas, em cobre, do século XV Provavelmente, deverá ser o mais antigo
elemento processional de todo o concelho de Alfândega da Fé. Conforme
descreve Fernando Pereira, em "Ourivesaria Religiosa do Concelho de
Alfândega da Fé", "é uma cruz de braços rectos, interrompidos no seu ponto
central por expansões (que em peças de prata desta época serão
quadrifoliadas) e com terminações flordelizadas. Este desenho,
arvoriforme, é identificado com o madeiro onde Cristo foi crucificado". A
única decoração existente, para além da própria estrutura, é conseguida à
base de círculos (cabeças de prego). O Cristo é um bom trabalho
escultórico, usa um pano de pureza cobrindo lhe praticamente toda a perna.
Este tipo de cruzes divulgou se bastante pela zona e são conhecidas por
"Cruzes das Almas". Referência ainda para uma custódia existente na igreja
paroquial. Mais recente do que a cruz atrás mencionada, (séc. XVII) é em
prata e mede cinquenta e seis centímetros de altura, por doze e meio de
largura. Semelhante a muitas desta região, pode ser utilizada como
custódia e também como cálice, daí o facto de ter os dois nomes. A igreja
possui ainda quatro altares em boa talha e em bom estado de conservação.
Em Vilares da Vilariça existe um núcleo habitacional antigo que está a ser
objecto de recuperação e que inclui a área onde se localiza o cruzeiro e
uma das casas brasonadas. Um destes brasões pertenceu à família dos
Távora. A capela de Nossa senhora do Socorro fica na encosta sul da Serra
de Bornes, a cerca de dois quilómetros e dali se avista todo o Vale da
Vilariça, até ao rio Douro. Na zona fica igualmente a Fraga dos Mouros,
espécie de gruta cavada no granito que segundo a tradição serviu de
refúgio. A zona da Barragem é um local de interesse turístico, sendo
permitida a pesca desportiva. Realizam se festas em honra de S. João, a 24
de Junho e de Nossa Senhora do Socorro, a 14 de Agosto. Dr.
Francisco José Lopes, Abril de 2002
In iii volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses,
coordenado por Barroso da Fonte, 656 páginas, Capa dura.
Editora Cidade Berço, Apartado 108 4801-910 Guimarães - Tel/Fax: 253 412 319, e-mail: ecb@mail.pt
Preço: 30 euros
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