O Semanário de Trás-os-Montes e por excelência da Região Demarcada do Douro | |||
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Concelhos Murça LOCALIZAÇÃO A geografia de cada local é o que mais condiciona o seu desenvolvimento. Murça foi em tempos remotos local de passagem e até de fixação pelo que se tornou num sítio importante para a época. Todavia, em vários momentos e por diversas causas, os povos abandonam o interior e aproximam se dos grandes centros, dando se a desertificação e a paragem no tempo de muitas localidades. O Concelho de Murça situa se no Distrito de Vila Real, a uma distância de trinta quilómetros, em pleno centro geográfico da região de Trás os Montes e Alto Douro. É limitado a norte pelo Concelho de Vila Pouca de Aguiar e de Valpaços, a sul por Carrazeda de Ansiães, a oeste Alijó e a este Mirandela. É composto pela sede e oito freguesias num total de 36 lugares. Ocupa uma área geográfica de 171,16 Km2. Clima Tendo em conta as características do solo e do relevo, o clima apresenta se muito específico, sendo o Concelho dividido em três zonas geográficas distintas, denominadas Terra Fria, Terra Quente e Montanha. A primeira estende se por um planalto de 700, 800 metros, sendo influenciada pelos ventos frios da Serra do Alvão; a segunda, a sul, com menor altitude, 200 a 400m, prevalecem os vales, e coincide com a região demarcada do Douro, exposta ao sol, protegida dos ventos, portanto mais quente e seca; a de montanha é intermédia. No global, pode considerar se um clima mediterrâneo com verões quentes e secos e invernos suaves e medianamente chuvosos. Flora A natural caracteriza se sobretudo por: pinheiros bravos, carrasco, freixo, amieiro, medronheiro e carvalho negral; e matos: tojos, urzes, giestas, carqueja e sargaços. Estes, antigamente muito usados para lenha, carvão, brasas e estrume. Da humanizada, constam o centeio, o milho, o milhão, na terra fria, e a vinha, o olival, figueira, amendoeiras e frutas na terra quente. Fauna Predominam os coelhos, lebres, perdizes, raposas, águia real, corujas, milhafres e, já mais raros. lobos e javalis. No rio há truta, enguia, boga e escalo. Densidade populacional Segundo ainda o censo de 1981, a densidade populacional era de 42,1 habitantes por Km2, sendo 19,8 de população urbana e 80,2 rural que se espalhava pelos diversos lugares. Segundo o censo de 2001, a densidade populacional é de 38,3 habitantes por Km2. Actividades económicas Nos finais do século XVIII, através de dados fornecidos por Columbano Ribeiro de Castro, verificamos que além da agro pecuária, os habitantes de Murça se dedicavam a diversas actividades artesanais, tais como: alfaiates, sapateiros, carpinteiros, tanoeiros, ferreiros, ferradores, negociantes, cronheiros, barbeiros e fabricantes e linhos e sedas. No século XX, as actividades económicas dividem se pelos três sectores, sendo até há pouco tempo o sector primário que ocupava a maioria da população. Desde 1981 que apenas as actividades do sector terciário serviços, banca e comércio – têm aumentado. O vinho de "benefício" e o azeite constituem o peso económico mais importante do concelho ocupando grande parte da população rural. As feiras Constituíam para as localidades o seu ponto mais elevado de desenvolvimento. São das instituições mais importantes da Idade Média. Além da sua função económica, de intercâmbio comercial num tempo e lugar certos, elas são também um espaço lúdico e de comunicabilidade. Colmatando a falta de acessos fáceis e rápidos, elas ainda serviam de estímulo a cumprir regras de paz, perdão e harmonia. As feiras de Murça foram instituídas por D. Dinis através do Foral de 1304 e "deviam começar 12 dias por andar de cada mês e durar dois dias". Em 1394, os povoadores de Murça pedem a D. João I que lhes confirme a carta de D. Dinis, sendo lhe concedida a 10 de Junho desse mesmo ano. A feira realizava se uma vez por mês, geralmente no dia 18. Actualmente, realizam se a 13 e 28 de cada mês. Património Histórico Cultural Lenda A lenda "Porca de Murça", tal como todas as outras, é fruto do imaginário popular. Esse conhecimento é geralmente perpetuado pela memória colectiva de gerações. O sentido da existência desta lenda prende se com a explicação do significado e origem ancestral da estátua zoofórmica em material autóctene da região (Granito), assente sobre um plinto do mesmo material na praça 31 de Janeiro ou 25 de Abril, em Murça, que representa uma porca. "Segunda a lenda, era no século VIII esta povoação e o seu termo assolados por grande quantidade de ursos e javalis. Os senhores da Vila, secundados pelo povo, tantas montarias fizeram que extinguiram tão daninha fera, ou escorraçaram para muito longe. Mas, entre esta multidão de quadrúpedes, havia uma porca (outros dizem ursa) que se tinha tornado o terror dos povos pela sua monstruosa corpulência, pela sua ferocidade, e por ser tão matreira que nunca poderia ter sido morta pelos caçadores. Em 775, o Senhor de Murça, cavaleiro de grande força e não de menor coragem, decidiu matar a porca, e tais manhas empregou que o conseguiu; libertando a terra de tão incomodo hóspede. Em memória desta façanha se construiu tal monumento, alcunhado "a Porca de Murça", e os habitantes da terra se comprometeram por si e seus .sucessores, a darem ao Senhor, em reconhecimento de tão grande benefício, para ele e seus Herdeiros, até no fim do inundo, cada fogo três arráteis de cera anualmente, sendo pago este foro mesmo junto à porca. (Leal, Pinho, 1875)" Significado Histórico religioso "Murça" Etimologia Existem várias versões. Uma delas é, segundo Correia de Azevedo, derivar o nome de algum mouro chamado Muça que a tivesse povoado. David Lopes diz que Murça é nome hebraico. Por sua vez, Pedro Machado apresenta a palavra Murça como pertencente à família das palavras românicas. Segundo outros etimologistas, e esta éa teoria mais corrente, o nome deriva de ursa, nome ligado à lenda da porca. Nos diferentes documentos, forais e outros, a palavra aparece de várias formas: Muça, Muçam, e Mussa. Divisão Administrativa É o Foral de D.Sancho II que nos dá a conhecer as mais antigas delimitações fronteiriças do concelho de Murça. Durante todo o desenrolar da História, e ao longo dos tempos até ao 25 de Abril, vão mudando, ora com mais ora com menos freguesias e lugares no seu termo. Em 1835, por decreto lei, é imposta uma nova divisão administrativa. Em 1895, o concelho passa a ter uma divisão administrativa semelhante à actual. No início dos anos 30, foi extinta a comarca de Murça, passando esta a ser anexada à de Alijó. Após o 25 de Abril de 1974, foi de novo restaurada a comarca de Murça. O termo de Murça é classificado de concelho rural de terceira classe, e dele fazem parte 9 freguesias e 36 lugares. Freguesias A Freguesia de Murça é a sede, quase ao centro. Tem por orago Santa Maria Maior. Feriado Municipal a 8 de Maio e festa ao Senhor dos Aflitos no 2.° Domingo de Julho. Circundam na mais 8 freguesias tendo estas anexas uma ou várias aldeias ou lugares. São elas: Freguesia da Carva (Carva e Cortinhas) É álem de típica, a mais serrana das aldeias do Concelho, onde ainda se mantêm vivas as tradições das suas gentes. Os seus cantares à desgarrada são o bálsamo que lhes ameniza a vida dura. É das povoações mais antigas. Vem dos primeiros tempos da nacionalidade. Nas inquirições de 1220, é referida como uma "pequena municipalização", e D.Afonso III dá lhe carta de Foral em 6 de Agosto de 1268. Pertenceu ao antigo Concelho de Jales e à Comarca de Moncorvo. Está dividida em quatro bairros: Carva. Carvinha, Galo e Galinha. Os seus habitantes dedicam se à agricultura, cultivando centeio e batata, e à pecuária, criação de gado bobino e caprino, e ainda àapicultura, produzindo o melhor mel da região. Possui duas capelas cujos oragos são S.Bárbara e S.Sebastião, realizando se a festa a 2 de Setembro. Tem um centro comunitário. Cortinhas É um pequeno aglomerado. Produz centeio e castanha. Possui um espigueiro e um relógio de sol, tem uma capela cujo orago é S.António. Jou (Aboleira, Banho, Castelo, Cimo de Vila, Freiria, Granja, Noveínho, Maseanho, Penabeice, Toubres e Vale de Égua) Situado num planalto, é ponto de passagem da estrada que liga Murça a Chaves. Até 1835, pertenceu a Carrazedo de Montenegro, depois a Valpaços, e só em 1895 passou a pertencer a Murça. Juntamente com os seus onze bairros, é considerada a maior Freguesia do Concelho. No Castelo, tem uma necrópole que forma um importante conjunto arqueológico. Possui um grupo folclórico, um grupo desportivo e uma associação sociocultural. Além da Igreja Matriz, tem a capela de S. Isabel cuja festa muito importante se realiza no último domingo de Agosto. Noura (Noura e Sobredo) Situada no cimo de uma encosta, reconhecem se daí as ruínas de um antigo povoado castrejo. Aparece integrada no termo de Murça a quando da concessão do foral a esta por D.Sancho II a 8 de Maio de 1224. É um aglomerado de características urbanísticas com uma rua principal ladeada pelas casas sendo algumas de interesse arquitectónico rural. A população dedica se à agricultura cultivando a vinha, o olival e pomares com variadas frutas. Tem uma igreja, capela, fornos de cozer o pão, azenha, lagares e moinhos famosos. Possui também uma associação recreativa cultural. A festa anual em honra de Santa Bárbara realiza se no penúltimo Domingo de Agosto. Palheiros (Paredes, Salgueiros e Varges) Situa se nas fraldas da Serra da Garraia. Éuma importante reserva florestal onde aparecem ainda com frequência as mêdas de palha "pallheiros", daí talvez a origem do seu nome. No seu termo há um importante "castro", Castro dos Palheiros, que nos últimos anos (1995 2000) foi alvo de escavações e estudos, com o apoio da Câmara Municipal e Instituto Português de Arqueologia, liderada peia equipa de alunos da Faculdade de Letras do Porto. sob coordenação e orientação da arqueóloga Dra. Maria J. Sanches. O castro constitui já um polo de atracção turística. A população dedica se ao cultivo do centeio, vinha e criação de gado. Tem um ermida transformada em santuário religiosos de S. Bartolomeu cuja festa se realiza a 24 de Agosto. Tem ainda mais duas festas, a de S.Pedro e a do Santo Cristo. Paredes e Salgueiros São dois pequenos aglomerados que se dedicam quase exclusivamente à criação de gado ovino, caprino e bovino. Varges Povoado antigo também da época castreja. É rica em amendoeiras espalhadas pelos montados e neles abundam coelhos, lebres e perdizes, sendo muito conhecida pelos caçadores. Valongo de Milhais (Valongo de Milhais, Carvas, Ribeirinha e Serapicos) Povoado antigo dos princípios da nacionalidade. A sua população dedica se à agricultura, sendo terra de muitos emigrantes. Possui no seu termo minas de volfrâmio e estanho hoje paralisadas mas com grande actividade durante a 23 guerra mundial. Tornou se famosa por ser a terra natal do herói da la guerra mundial, o soldado Aníbal Augusto Milhais, apelidado de Milhões pelos seus feitos militares. Em homenagem a esse herói, o governo português, através da lei 1618, de 5/7/1924, passou a chamar à localidade Valongo de Milhais. Carvas Situada no monte sobranceiro à margem esquerda do rio Tinhela. A sua população dedicase à agricultura, produzindo muita castanha. Tem igreja e festa anual. Ribeirinha e Serapicos Dois povoados em localizações apostos. A Ribeirinha fica encaixada num vale muito fértil na vertente oposta à vila na serra de S.Domingos. Serapicos fica do outro lado num planalto. As suas populações dedicam se quase exclusivamente à agricultura e criação de gado. Todos têm festa anual. Vilares (Vilares, Asnela e Fonte Fria) O seu topónimo poderá ter origem nos Villares, sistema de repovoamento pré nacional constituído por famílias. Américo Costa refere que a povoação de Vilares recebeu carta de Foral, dada por D.Afonso III a 10 de Fevereiro de 1267. No seu termo situa se uma riquíssima zona arqueológica onde são evidentes vestígios de civilizações castrejas e dos diferentes povos que habitaram a Lusitânia. Nos Vilares, existem quatro relógios de sol esculturados cada um deles por uma figura humana o Capitão ou o Guerreiro. Fazem ainda parte do seu património cultural lendas e tradições. De referir também a existência de dezenas de "Pisões" para pisar os tecidos grosseiros "Bureis", usados até há pouco tempo pelo povo para os proteger dos rigores do Inverno. Produz muita castanha, centeio e batata. O seu maior rendimento vem da criação de gado bovino e caprino. Asnela e Fonte Fria São pequenos povoados interessantes pelo seu tipicismo rural. Na Asnela têm sido ultimamente alvo de grande procura os casebres rudes e abandonados espalhados pela aldeia e de que os média têm feito notícia. Murça entre 1835 e 1985 Sempre ponto de passagem, Murça presenciou e viveu múltiplos acontecimentos históricos que atravessavam a paisagem transmontana. Assim, neste período conturbado, foi palco e sofreu com as lutas fratricidas que mancharam a história portuguesa. Por Murça passaram o Duque da Terceira e seu ajudante o Marquês da Fronteira e de Alorna. A sua ordenança o Marquês de Castelo Melhor e ainda o Marquês de Santa Marta. O movimento republicano teve forte implementação em Murça tendo algumas personalidades locais encabeçado a causa. Foi criado o Centro Republicano Murçaense, e a 19 de Março de 1911 foi eleita a primeira Comissão Municipal Republicana incumbida de dirigir os destinos da Câmara Municipal e do Concelho. Estes foram tempos difíceis, não só pela mudança de regime como do aparecimento da Pneumónica em 1918, que dizimou grande parte da população, como ainda do movimento da Monarquia do Norte. Em Murça, estacionaram durante largos dias as forças militares de Vila Real e Amarante. A Traulitania, nome dado ao período de lutas entre as duas forças rivais monárquicos e republicanos, teve aqui grande movimento. De realçar a pintura da porca com as cores das facções vitoriosas que ora ostentava as cores da República ora as da Monarquia. Em 1922, sendo presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal Basilio Constantino Breia, são postas a circular notas em papel moeda exclusivas do Concelho. Com a 2' República até ao 25 de Abril, Murça vai vivendo ao sabor da História, quase sempre em letargia. Só após o 25 de Abril de 1974, com Joaquim Ferreira de Torres presidente da Câmara, é que em Murça se vai notar algum progresso e desenvolvimento. Património Artístico O Concelho de Murça. dada a sua vivência e contacto com diferentes povos através de séculos de História. é riquíssimo em património artístico e cultural. Ao longo dos tempos a sua obra artística foi vencendo gerações e fez das suas gentes um historial de memórias cuja identidade cultural reflecte a vivência dos seus ancestrais. Além do valiosíssimo tesouro achado nas escavações nos últimos tempos, em castros como o do Cadaval e o dos Palheiros 1995/2000 , temos a salientar os seguintes imóveis:
O hospital propriamente dito só foi fundado em 30 de Julho de 1923, pela Irmandade, para dar cumprimento ao estabelecido nos seus Estatutos. Teve grandes beneméritos, entre os quais o Marquês de Vale Flor, e mais tarde Alfredo Pinto. Passou por várias instalações mas o edifício actual só foi inaugurado a 31 de Julho de 1936 pelo Presidente da República General Oscar Carmona. Em 1978, passa para o Estado. Passa novamente para a Santa Casa em 1998. Brevemente irá beneficiar de obras de recuperação para servir a população em áreas de saúde em que o concelho édeficitário. É um belo imóvel de várias águas, digno de ser admirado.
A Capela da Misericórdia, também chamada de N.S. da Conceição, é o monumento arquitectónico mais gracioso e interessante dos edifícios religiosos da província transmontana. Situada a meio da rua principal, estrada nacional n°15, no limite da rua Marquês de Vale Flor e Alfredo Pinto, foi classificada monumento de interesse público. Construída em 1692, na sequência do desenvolvimento das Misericórdias, foi pertença dos Melos, primeiros condes de Murça. A sua fachada principal, de estilo barroco, é uma das mais belas e sumptuosas que se podem admirar. Rigorosamente simétrica, a entrada é ladeada por quatro colunas salomónicas, lavradas em granito de Murça, ornamentadas por figuras estilizadas de animais e plantas, entrelaçando se com parras e uvas. A robusta porta é decorada com oito belas almofadas que lhe dão um aspecto de fortaleza e imponência. A encimá la está o brasão dos Melos, coroado e atravessado por uma diagonal onde estão inscritas as palavras "Avé Maria". É ladeada por duas janelas octogonais que iluminam o coro. Este primeiro conjunto é rematado por um entablamento liso de estrias horizontais. O remate, quase triangular, é bordejado com um friso de ramos e flores de sabor barroco, tendo ao meio um anjo estilizado. No topo uma cruz de braços também retorcidos. No centro deste conjunto assenta um nicho com a imagem da padroeira N.S. da Conceição ladeado por duas colunas retorcidas. De um e outro lado duas rosáceas com inscrições em latim que dizem: "A sabedoria edificou um templo para si e talhou sete colunas". A outra: "Como é terrível este lugar, esta é a casa de Deus e a porta do Céu". Ladeando este grupo dois pináculos rematados por duas águias. No interior do edifício, de planta rectangular, sobressaio altar mor. barroco e jesuítico, com ornamentação manuelina, constituindo um espécime único. O retábulo divide a nave central em duas partes: O lugar dos leigos e o dos irmãos da confraria. No presbitério há dois altares laterais em talha dourada e em estilo barroco e pinturas a óleo. O camarim central é encimado pelos brasões dos senhores de Murça. No tecto abobadado, pintado a fresco, sobressai a figura do Rei David cantando salmos ao som da harpa. A sacristia tem a porta revestida a talha. A pia de água benta, de mármore, tinha incrustações a lápis lazúli que o tempo ou o vandalismo retiraram. Esta é uma belíssima obra de arte e o mais sumptuoso monumento da arquitectura religiosa que vale a pena visitar. Igreja Matriz ou Paroquial de Murça Edificada no local onde já existia a capela de N.ª S.ª da Assunção, veio substituir, agora mais no centro do aglomerado, a Igreja principal de Santiago. A sua construção remonta a 1707, sendo reconstruída e ampliada em 1734, altura em que passou a ser Igreja Matriz. A sua fachada é simples, nada tendo a realçar de estilo arquitectónico, com excepção da bela cúpula da torre. Contudo no seu interior existem autênticos tesouros, tais como: O tríptico composto por três pinturas separadas, devendo datar entre os anos 1564 66. São atribuídas a Pedro de França. É composto pelo Calvário que ocuparia o centro, e os outros dois, S. Francisco recebendo as estigmas e o bispo S. Martinho, as abas. As imagens laterais têm metade da largura da central e dobrar se iam sobre esta formando um conjunto. Segundo Reinaldo dos Santos é um desenho um pouco duro. modelação esculpida com talha em madeira e cor de tons frios. Vale a pena admirar esta admirá\el jóia quinhentista. Na Igreja há ainda a salientar a pia baptismal de um manuelino tardio. E ainda do lado esquerdo, um maravilhoso retábulo de rara beleza e qualidade artística, que ostenta uma das mais belas e perfeitas imagens do Sagrado Coração de Jesus. Por todo o retábulo sobressai uma decoração simples, estilizada com volúpias e concheados dourados, sem o exagero do barroco. De lado, dois anjos alados admiram a simplicidade, finura e beleza dos traços que um coração raiado coroa. Existe também um valioso espólio de imagens recebidas da bela igreja de Santiago: A de Santiago, S. Vicente, S. José da Roca, N.ª S.ª da Cana Verde e muitas alfaias religiosas. Em 1734, à nova igreja, foi lhe acrescentada a torre cimeira guarnecida com uma linda cúpula bojuda. O altar mor, de 1742, é todo revestido a uma belíssima talha dourada em estilo barroco italiano, bem como os dois altares laterais de S. José e S. Macário. De realçar também o crucifixo de uma rara expressão dolorosa. Em 1834, recebeu também o espólio do extinto Mosteiro de S. Bento, situado mesmo ao lado. Dele vieram além de várias imagens o altar de S. Vicente, de estilo Josefino com ressaibos joaninos. Em 1902, foi ampliada com jardim e adro, muro de vedação e portão de entrada. Em 1924, a igreja sofreu novo restauro. Enquanto as obras duraram, substituiu a a capela da Misericórdia, lá ficando desde então o belíssimo sacrário que viera também do Mosteiro. Em 1937, a igreja foi enriquecida com um relógio. Pelourinho Classificado de monumento nacional por decreto de 16 de Junho de 1910, é um dos mais belos e bem conservados exemplares portugueses. Originários da Idade Média, os pelourinhos são a marca do Concelho, símbolos da liberdade e autonomia municipal, brasão do povo. Era junto deles que se executava a justiça municipal, muito mais isenta e branda que a dos "senhorios". Localizava se quase sempre no centro da população, geralmente em frente do Município para servirem de exemplo aos prevaricadores aquando da execução dos castigos. O actual pelourinho de Murça data do século XVI, não sendo este já o primitivo. A sua construção deve datar de 1512, data da renovação do Foral ao Concelho. Situa se no centro da praça principal da vila, mesmo em frente ao actual edifício da Câmara Municipal, da igreja matriz, e dos antigos paços do Concelho, outrora convento das freiras beneditinas. É enquadrado ainda por belos exemplares de casas senhoriais. Constitui um verdadeiro exemplar do estilo gótico. Todo feito em granito, assenta numa plataforma de sete degraus graníticos em forma piramidal, do meio dos quais se eleva uma elegante coluna em cordão. Encimada por um capitel que ostenta do lado sudoeste o brasão de D. Manuel e na face para sudeste as armas dos Guedes, donatários de Murça. Sobre este capitel assenta um triplo remate com cinco pequenas colunas idênticas à da base, em cordão. No meio da coluna, é visível ainda uma argola em ferro para prender os castigados. Ponte romana (Filipina ou Ponte Velha) Troço viário classificado como Imóvel de Interesse Público, em 1983. Edificada sobre o rio Tinhela, a ponte romana foi até finais do século XIX o único ponto de passa em obrigatória que ligava Astorga a Braga e à foz do rio Douro, atravessando todo o Concelho de Murça. Era nela que se fazia a bifurcação para os dois destinos; a primeira passando por Jales. via Braga, e a segunda por Vila Real. A ponte é um magnífico exemplar da arquitectura romana. formada por um só arco de volta inteira, robusta e elegante, com 12.5m de comprimento, 3 m de largura e 5 de altura. No tempo de Filipe 11 de Espanha, entre 1583 e 1595, foi restaurada. como comprovam as inscrições gravadas num padrão à margem esquerda do rio Tinhela, e que por isso foi também chamada ponte filipina. Sofreu posteriormente outras reparações. Há ainda esculpido num marco granítico, e junto àbifurcação, outra data, 1818, indicando as direcções. O troço da via romana, ainda hoje bem conservado, e o castro do Cadaval, ali bem junto no monte que lhe é sobranceiro, são bem a prova da importância deste traçado via e ponte. Ponte Nova Construída em 1872, toda em pedra, a cerca de 1 km a nascente da ponte romana e a poente de Murça, com 33 m de altura, de um só arco, é um belo exemplar da época do Fontismo. Edificada sobre o rio Tinhela, como a romana, faz a ligação da estrada nacional n°l5, que liga o Porto a Bragança, passando por Vila Real, Murça e Mirandela. Ponte do Ratiço Fica no outro extremo da Vila de Murça. Também toda ela construída em pedra, é mais pequena que a Ponte Nova. É junto dela que se faz a bifurcação da nacional n°15 com a nacional 214, que dá acesso à terra quente do Concelho. Nova Ponte Construída também sobre o rio Tinhela, inaugurada a 6 de Maio de 1995, é das mais altas de Portugal, com setenta metros de altura. Faz a ligação da IP4 entre Porto e Bragança. Qualquer destas pontes constituem avanços valiosíssimos para o progresso da zona transmontana, imponde se como marcos importantes na rede viária, regional e nacional. Há ainda outros imóveis de interesse arquitectónico: Casa dos Morgadinhos assim chamada por ter pertencido aos Morgados de Murça. Foi construída no século XVI, e o seu traço mais característico é possuir uma janela de ângulo geminado. Casa dos Condes de Murça fica situada na praça em frente ao Pelourinho. Ostenta o brasão dos condes de Murça. Há ainda a considerar a casa das Laranjeiras, a casa do Seixo, a capela de Santa Rita, a capela de S. Sebastião, a casa de Frei Inácio Cardoso e a casa de Manuel Seixas Veloso, além de casas rústicas, fontes e fornos de secar figos, espalhados por toda a zona rural do Concelho. Jornais de Murça Com o movimento republicano, multiplicaram se os órgãos informativos, em especial durante a V Republica, 1910 1926. Os jornais serviam então não só como veículos informativos como se afirmavam também como culturais. Destacaram se: O Povo de Murça Quinzenário Republicano iniciado a 31 de Janeiro de 1911. É um acérrimo defensor das ideias republicanas. Identifica se com o próprio povo de Murça, uma vez que este entendeu ser seu dever lutar pelos interesses da pátria. Assim, o jornal enaltece os valores da justiça, da liberdade, do amor e da fraternidade. Além desse papel, informava e esclarecia. Foram seus animadores, Dr. Fonseca, Dr. Sampaio, Baptista Lobo, entre outros. Durou apenas um ano. Ecos de Murça Quinzenário republicano. Iniciado a 15 de Janeiro de 1912. Afirmou se como um órgão de comunicação disposto a lutar pelos interesses do Concelho. É uma continuação ou substituto do anterior "Povo de Murça". Comungava do liberalismo francês. Estimulava o povo a sair do marasmo e da pobreza a que o votaram os séculos de dominação monárquica. O Morcego Quinzenário iniciado a 2 de Maio de 1916. Este jornal é mais uma sátira. onde a crítica construtiva procura contribuir para uma vida melhor que no passado. O Morcego visa sobretudo criar novas mentalidades e modificar o comportamento humano, criando um sujeito mais responsável, com personalidade e integridade moral. A Ideia Quinzenário iniciado a 21 de Outubro de 1926. Foi um jornal de curta duração. Tinha um plano muito idealista e filosófico. "Lutar por este povo, pelos seus filhos, é combater por toda a humanidade." São as palavras do editorial do primeiro número. A voz de Murça Quinzenário. Surge como continuação do "A Ideia" a outra ideia de maneira que a sua voz possa introduzir se em todos os lares "como fiel intérprete de todos aqueles que lhe sejam queridos e sempre lembrados". Colectividades Santa Casa de Misericórdia de Murça É uma associação humanitária cujo princípio básico é o bem da comunidade. Iniciou se com a abertura do Externato Técnico Liceal de Murça, sendo seu provedor António Rodrigues (1962 1964). Ligada a esta Santa Casa está todo um trabalho de acção que importa realçar: Construção do bloco habitacional, sendo provedor, Manuel Abreu Seixas Veloso (1967 1987); construção da creche, jardim de infância e ATL, Lar, Centro de Dia e apoio domiciliário de Murça provedor José de Medeiros Mendonça (1983 1990); construção Centro de Dia, apoio domiciliário. ATL de Carva; criação e abertura da Escola Profissional Marquês de Vale Flor, de Murça: ampliação do infantário e abertura do pré escolar em Murça; construção do lar, Centro de Dia e apoio domiciliário do Fiolhoso; Centro de Apoio de Tempos Livres de Jovens em Murça; apoio domiciliário às freguesias de Candedo e Noura Provedor Padre Francisco Baptista Sousa (1990 1998). É seu provedor actual Belmiro M.M. Vilela. Banda Marcial de Murça
Merecem realce pela sua qualidade e sabor gustativo as famosas queijadas e toucinho do céu, cuja composição à base de chila, amêndoa e gemas de ovo, são do melhor que se pode apreciar. O segredo do seu fabrico deve se à D.Serafina Alves que serviu no convento das freiras. É uma sua neta, Maria José (Zézinha), que hoje mantém a tradição. Além destes dois manjares dos anjos há ainda a referir o cabrito assado no forno com batatas miudinhas e o arroz de forno a acompanhar, e ainda o bacalhau cozido com batatas e couves da terra regadas com bom azeite de Murça. Há ainda o famoso fumeiro cujas alheiras nada ficam a dever às das zonas limítrofes. Caldas de Santa Maria Madalena (ou de Carlão) Ficam situadas na margem esquerda do Tinhela, a poucas centenas de metros da sua foz, no rio Tua, no termo da aldeia de Porrais, freguesia do Candedo. Encravadas nas vertentes, elas impõem se por si mesmas, pela sua rusticidade, pela sua importância e pela sua paisagem agreste, ainda que só com céu e pouco horizonte. Elas são a memória de quem viveu as suas noites enluaradas dos anos 50 a 70. Mas elas nasceram muito antes. Já os romanos as conheciam, pois lá deixaram os seus vestígios. Paradas no tempo, as suas águas milagrosas, sulfúreas, com o seu odor a enxofre. aromatizavam o corpo e a alma de saúde a quem delas se abeirava. A primeira referência a estas caldas data de 1726, "in Aquilegio Medicinal" de Francisco Fonseca Henriques. a quem chamou Caldas de Favaios. Em 1758, o cura do Candedo informa a sua autoridade religiosa da existência e importância dessa "fonte" "à coal fonte se vam lavar algumas pesoas e dizem eisprimentar milhoras de algumas queixas". Em 1763 e 1788, voltam a ser mencionadas. Em 1810, Francisco Tavares, médico da rainha D. Maria I, fez pela primeira vez o seu estudo científico. Em 1909, Baptista Lamas faz delas um artigo para a revista "Ilustração Transmontana". Mais perto de nós, Pinho Leal, Miguel Torga. mencionam nas, e o Dr. José Bulas Cruz (1942) apresenta nos trabalhos de investigação sobre o valor terapêutico das águas. São elas doenças de pele eczemas, acne, seborreia. sífilis. prurígo, etc doenças do aparelho digestivo, do aparelho respiratório e ainda reumatismo articular agudo, sendo por este último o mais procuradas. Em 1979, também o inventário hidrológico de Portugal, de Amaro de Oliveira e João de Almeida as mencionaram. Só com Joaquim Ferreira Torres, Presidente da Câmara Municipal de Murça, é que se decide fazer o seu aproveitamento, iniciando obras. As novas instalações foram inauguradas em 13 de Julho de 1986, abrangendo um restaurante com serviço permanente de refeições. um bar e um bloco de oito balneários com gabinete médico. Dá acesso às caldas. além de outras. a estrada que liga a ponte do Ratiço em Murça a Vila Chã, a que vai por Carláo. Concelho de Alijó, e ainda o caminho de ferro da linha do Douro com saída na estação da Brunheda.
Além de tudo o que fica descrito, vale bem a pena visitar a bela. hospitaleira e próspera vila de Murça. De acesso fácil, pela A4 e IP4, distando do Porto em tempo mais ou menos 75 minutos, nos seus cerca de 95 Km, é um lugar aprazível, de trato humano simples e afável, com paisagens deslumbrantes, pelo seu encantamento rústico. Do IP4 pode avistar ao longe, à sua frente, o sumptuoso "Crasto dos Palheiros". Se optar por sair desta, pode descer as famosas curvas de Murça, onde em cada ano se realizam as provas na modalidade de "Rampa internacional Porca de Murça". Aqui pode dar uma espreitadela ao castro do Cadaval e à antiquíssima estrada romana. No desporto automóvel, tem ainda o "Todo terreno", o "Autocross" e o "Kartcross", que fazem as delícias dos apaixonados pela velocidade e desportos motorizados. Agora entre. Suba pela rua Marquês de Vale Flor e admire pelo menos de fora, a fachada da Igreja da Misericórdia. Já no interior da vila, observe o ex libris da terra, o pré histórico monumento "A Porca de Murça", situado no meio de um pequeno mas agradável jardim. Entre na Igreja Matriz e extasie se com os seus retábulos, o seu altar mor, a simplicidade, o conforto e o recolhimento de todo o conjunto místico. Em frente desta, entre no café e saboreie as deliciosas queijadas. Depois, alguns metros adiante, observe o pelourinho plantado no meio da praça e bata uma foto de recordação. E finalmente não se esqueça de subir ao monte de S. Domingos. onde se embebedará com o fascínio paisagístico, tendo aos seus pés, de tapete, um verdadeiro jardim de Oliveiras. E por último ainda, faça uma visita ao Crasto dos Palheiros. Este é um centro político e religioso desta região com cerca de 5000 anos. "O Crasto é um morro altaneiramente destacado de um maciço rochoso de xisto quartezítico, pelos seus quase 600 metros de altitude absoluta, e pelas vertiginosas falésias escarpadas que lhe dão forma do lado .sul, virado n aldeia de Monfebres. Localiza se a .sudeste da aldeia de Palheiros (entre esta aldeia de Varges e de Monfebres), Concelho de Murça, e integra uma firea arqueológica superior a 2,5 hectares. O Crasto vê se de muito longe. Vê se e é visto. Convrdanro Io a subir; Daqui o olhar domina urra paisagem muito heterógenea, natural e humanizada, criada tanto pela georrrorfologia P cursos de água, couro pela labuta do homem. Vinhedos e olivais e rnesnio pequenos .soutos, imergindo por entre campos abandonados ao uiatagal de estevas, urzes, giestas e tojo, anunciam as povoações cheias de cor, rodeadas também elas de pequenas hortas vedes. Matas de carrascos e sobreiros subsistiram ao plantio generalizado de pinhais e de eucaliptais. Mais longe, a serra da Garraia e a bacia de Mirandela, a serra de Bornes e os Picos da Sr°. da Assunção (Vila Flor), o planalto granítico de Carrazeda e de Alijó, que forma cumeada com a Serra da Padrela, vão assumindo formas e cores que só a experiência de cada um pode narrar. " in brochura turística do Concelho de Murça, Serviços Culturais Câmara Municipal de Murça, Julho 2000. Para finalizar a visita, entre num dos muitos restaurantes, delicie se com as alheiras e traga algumas consigo. Estão em fase de construção a Biblioteca, Auditório e Museu onde se irá arquivar, salvaguardar e catalogar muito do património arqueológico, artístico, cultural
In iii volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses, Preço: 30 euros
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